Aos 44 anos, Zinho dá seu maior passo na carreira de dirigente de
futebol. Nesta sexta-feira, 11 de maio, mesmo número da camisa que usava
nos tempos de jogador, o tetracampeão assume o cargo de
diretor-executivo do Flamengo. Chega para ser o elo entre atletas e
direção. Com um discurso firme, concedeu entrevista coletiva por quase
uma hora. Disse que vai buscar o diálogo com todas as áreas do clube e
pediu a colaboração dos atletas e dos jornalistas no novo desafio.
Sobre Ronaldinho Gaúcho, afirmou que tem bom relacionamento com o
camisa 10, de quem foi companheiro no Grêmio, e acredita que o atacante
ainda tem muito a dar ao Rubro-Negro e ao futebol.
Zinho concede primeira entrevista coletiva como diretor do Flamengo (Foto: Maurício Val / Vipcomm)
Zinho assina contrato até 31 de dezembro deste ano. A partir de agora,
vai convesar com diretoria e comissão técnica para conhecer a real
situação do Flamengo e começar a participar do processo de montagem do
grupo que vai disputar o Campeonato Brasileiro.
O diretor também falou sobre Adriano. Disse que aprovou a iniciativa do
clube de abrir as portas para o Imperador, mas pediu calma para
acompanhar a recuperação do atacante da cirurgia no tendão de Aquiles do
pé esquerdo. Zinho pretende conversar com médicos, comissão técnica e
dirigentes sobre o jogador.
Volta ao Flamengo
Retornar ao Flamengo é sempre motivo de alegria. Na apresentação aos
atletas, comentei isso. Quando entrei pelo portão principal, passou um
filme. Quando cheguei, tinha 11 anos de idade. É normal. É uma emoção
diferente, uma situação em outra função. Quando entrei aqui, era para me
formar jogador de futebol. Retornei ao Flamengo em 2004 com currículo
vitorioso, ainda consegui ser campeão carioca aqui. Agora, é um desafio
da minha vida.
Decisão de aceitar o cargo
Pensei, analisei, conversei com a família, direção do clube,
principalmente (Michel) Levy, (Paulo César ) Coutinho e (Walter) Oaquim.
Antes de chegar aqui, conversei com a presidente Patricia. Agora, ela
tem uma pessoa aqui, junto com o Coutinho. Ela vai se dedicar mais ainda
ao clube em geral. Feliz pelo convite, pela confiança deles. Uma das
coisas que me fez aceitar o desafio foi a repercussão. De propósito
esperei para sentir do povão, do verdadeiro rubro-negro, o cara que vai
para o estádio, da própria mídia. Eu não tenho tanto tempo de trabalho
nessa função. Exerci um pouco isso nos Estados Unidos e no Nova Iguaçu.
Estava exercendo a função de comentarista. Volto para a minha função, já
que sou apaixonado, muito motivado. Passei isso para os atletas e
comissão técnica.
Início do trabalho
Fiz questão de ir nos juniores, é um trabalho conjunto. Será um
trabalho simples, honesto, verdadeiro, olho no olho, objetivo.
Trabalhando em prol do Flamengo. Estou muito satisfeito com essa
oportunidade e vou me dedicar 24 horas para ter sucesso nessa nova
função. Preciso da colaboração, da boa relação com vocês. Cada cantinho
que vou passando vou vendo gente da minha época, mas tem muita gente
jovem, nova. As primeiras semanas vão ser para conhecer cada setor, a
função de cada um. Acredito no trabalho de equipe. A estrela é o
Flamengo e cada um tem que exercer sua função para que aconteça, flua.
Zinho diretor
Escutei muita gente. Escutei um colega dizendo que não fui um craque,
mas um bom jogador. Que ganhei títulos pelo profissionalismo, seriedade,
empenho. Venci cinco brasileiros, três Copas do Brasil, Carioca,
Gaúcho, Mineiro, Mundial. Com um trabalho pautado no grupo. Sozinho
ninguém vence. No futebol eu sou o resposável, vamos dialogar com a
comissão técnica e encontrar o melhor para o Flamengo. Não é para o
Zinho, para o Joel, é para o Flamengo. Não é quartel, é no diálogo, na
conversa. Mas existem regras e cada um tem que cumprir a sua. Tem que
ter uma organização. Vim para cá e não abro mão disso. Honestidade,
seriedade e profissionalismo. Dentro de um respeito, a gente se entende.
Não pode ter trairagem. Vou chegar com os pés no chão, não sou melhor
do que ninguém, não implorei para estar aqui. Fui convidado, analisei o
convite, muita gente falou que eu era maluco. Eu não acho que sou
maluco, pelo contrário. Desafio, oportunidade boa para a minha carreira,
área nova, um dos maiores clubes do mundo. Tem problemas? Tem. Mas com
dedicação podemos ultrapassar essas barreiras. Temos de saber
administrar as vaidades do futebol.
Estrelas sem privilégio
Não gosto de falar de coisas que não aconteceram ainda. A maioria dos
atletas, os mais cascudos, já trabalhou comigo como jogador. Mesmo como
jogador viam a minha maneira de ser. Só vivendo as situações para dizer o
que vai acontecer. Eu tenho a minha maneira de ser, sou altamente
profissional, não gosto de conversa fiada. Aqui cada um tem a sua
função. O que tenho pedido aos atletas é que problemas relativos ao
futebol, antes de falar, reclamar, falem comigo. Estou aqui para isso.
Sou esse elo. Vou tentar resolver os problemas na medida do possível,
fazer os atletas renderem o seu melhor futebol. Estou aqui para
proporcionar aos atletas uma melhor condição para jogar futebol. Tem que
cumprir as funções dele e jogar bola. Falei que de repente não vou
resolver tudo, mas existem as regras do futebol. Se cumprir, não vai ter
problema nenhum. Espero não ter problema algum. Às vezes, tem o momento
de ser firme. Às vezes, vai com calma, tenta entender. A regra é para
todo mundo. Não é quartel, mas o futebol exige isso.
Cenário da chegada
Tenho escutado sobre alguns problemas, mas também coisas boas. No
Flamengo sempre tudo é superdimensionado. Não há necessidade disso.
Problema financeiro? A maioria dos clubes no Brasil tem. O objetivo é,
juntamente com a direção, sempre estar cumprindo com aquilo que o clube
acordou com os atletas. Isso é importante para o trabalho fluir. Quando
acontecer algum problema, não posso deixar isso atrapalhar o desempenho
dos atletas. É importante estar com salário em dia, e o pessoal está
trabalhando para isso. Tenho visto um empenho muito grande para colocar
as coisas em ordem. É fundamental ter essa organização financeira até
para que as cobranças possam surtir efeito. Você encontra alguma
barreira para desenvolver o trabalho. Estou acreditando no projeto de
colocar o Flamengo organizado também nessa parte financeira, que não é a
minha área. Quem paga os atletas é o vice de finanças (Michel Levy).
Vai contratar o atleta, tem que passar pelo diretor de futebol, pelo
vice de futebol (Paulo César Coutinho). Bons jogadores, de nível de
Seleção, é sempre bom ter. Não vou atropelar, não vou querer absurdos
para o Flamengo para não causar problemas financeiros para o clube. É
trabalho em equipe, estou muito tranquilo. A Patricia acabou de me ligar
e disse que está buscando coisas para o clube, para os atletas. Disse a
ela que agora tem uma pessoa aqui para cuidar do Ninho, que se preocupe
com coisas grandes para o Flamengo, patrocínios. Deixa o futebol para
que a gente conduza.
Zinho já teve a primeira conversa com os jogadores (Foto: Alexandre Vidal / Globoesporte.com)
Pronto para críticas
Se falarem a verdade, vou ter que engolir. Se falar mentira, espero que
sejam corretos, não coloquem na minha conta. Hoje é que dia? Dia 11,
hein? Esse 11 me persegue. A partir desse dia eu estou dentro, não corro
da batalha. O que for feito por esse grupo vou abraçar a causa. De
agora em diante, não tem conversa fiada. Vai ter uma equipe trabalhando.
Por isso que é bom ter duas, três pessoas. Acho que direção, jogadores,
comissão técnica estão confiantes que chega uma pessoa séria. Que não
vai ter nada por baixo dos panos.
Nova rotina
Pretendo ter umas horinhas com a minha família. Me desliguei da Fox,
conversei com o presidente do Nova Iguaçu e me desliguei. E agora sou
exclusivamente diretor de futebol do Flamengo.
Primero contato com o grupo
Foi o melhor possível. Quando estava vindo para cá, imaginei como
seria. Joguei com alguns deles, você fica na dúvida sobre como
cumprimentar. Não sabe se cumprimenta como diretor ou como jogador.
Quando você volta, as pessoas te recebem de braços abertos. Os mais
jovens vão vendo como você é tratado e vai quebrando o gelo. E com a
rapaziada com quem trabalhei é mais tranquilo. A intimidade é maior, já
convivemos muito, conversei com eles sobre os meus objetivos, foi muito
bom, olhando no olho de cada um, pedindo a colaboração de todos e vamos
estar juntos no mesmo objetivo para o Flamengo fazer um Brasileirão de
altíssimo nível.
Ronaldinho Gaúcho
Joguei com ele quando tinha 19 anos, é um fenômeno. Já era destaque no
Grêmio naquela época. Minha relação com ele é muito boa, nunca tive
nenhum tipo de problema com o Ronaldo. Gostei de revê-lo, de dar um
abraço longo nele. É uma estrela mundial. Tem 32 anos, mas muita coisa
para render, traçar objetivos. Quando a gente tem objetivo, no fim, tem
uma meta, você se vê motivado. Vou conversar com o Ronaldo, quero ele
junto comigo. Ele e o grupo todo. O Ronaldo faz parte desse grupo e é
muito importante para esse grupo com a conduta, desempenho, liderança. É
importantíssimo. É seguido por milhares de pessoas pelo que fez no
futebol, pelas conquistas, pelo talento. Ele tem que conviver com isso. O
Flamengo é diferente de outros clubes. Estou tranquilo, à vontade com o
Ronaldo. Tanto com ele como com todo o grupo. Preciso deles ao meu
lado. Ou o trabalho não flui. Respeito, honestidade, regras normais do
futebol. Não é regra do Zinho. Não vai ter cartilha do Zinho. Funções e
regras do futebol profissional. Preciso do Ronaldo do meu lado para
fazer o Flamengo brigar pelo título. Se não for assim, a coisa não anda.
Preciso deles entendendo a organização do futebol.
Sexto título brasileiro?
Meu parceiro Andrade está tirando onda comigo (risos). A gente tinha
cinco títulos, né? Ele conseguiu o sexto como treinador (em 2009) e
agora está tirando onda. Seria um prazer chegar no fim do ano, mesmo
fora de campo, com mais uma conquista.
Estrutura do Ninho do Urubu
Evoluiu muito, muitas coisas são provisórias, mas melhorou bastante.
Precisa melhorar. Tem que buscar o melhor, e o Flamengo está trabalhando
para isso. Nem fui na obra ainda, mas a Patricia quer me levar lá para
conhecer. Temos um espaço maravilhoso, fui nos juniores. Não sou diretor
de todas as categorias, mas tem que olhar na base. Ali vão surgir os
talentos, cada um na hora certa. Acho que a área é boa, houve melhorias.
Precisa continuar o trabalho de estrutura. Parabenizo as pessoas que
estão no Flamengo e aqueles que estavam antes também.
Montagem de elenco
Tudo no seu devido lugar e no seu devido tempo. Me apresentei aos
profissionais do clube, estou aqui para bater esse papo. Depois dessa
conversa aqui, aí o foco é o trabalho. Vou conversar com a direção, ver o
que está sendo feito. Sei que alguns jogadores estão fechados. Não tem o
que fazer muito a não ser administrar quem vai chegar. Pelos nomes que
escutei, Ibson, Cáceres, apesar de não ser administração minha, aprovo
também. Os mais jovens, inclusive o Amaral, que é do Nova Iguaçu, o
Jorge Luiz, do Friburguense, são jovens, contratações que se realmente
se concretizarem, são promessas. Acompanhei no Carioca. Vou conversar
com o vice de futebol, comissão técnica, ouvir o treinador, qual é a
posição de carência, como está o elenco, o número de atletas. Isso é o
mais tranquilo e é o que mais gosto de fazer. Vou ver o que é concreto, o
que está em andamento. Daí para frente, minha participação é 100%.
Portas abertas para Adriano
Adriano tem 30 anos. Tem um currículo invejável. Seleção Brasileira,
Copa do Mundo, no último título brasileiro do clube estava aqui. Tem os
problemas particulares dele, os problemas fora de campo dele. Estou
falando isso porque é o que sai na mídia. É um cara que tem a cara do
Flamengo, foi formado no clube, se identifica com o clube. Tem esses
pontos positivos e quando quer jogar é absurdo, baita de um jogador.
Acho que o clube, até valorizando um cara identificado com ele, abriu as
portas. Ele fez a cirurgia, conversei com o departamento médico e vou
conversar mais. Abrir as portas para a recuperação do Adriano? Legal,
muito bom. Daí para a contratação é outra história. Vamos ver a
recuperação, conversar, ver a necessidade da comissão técnica. Não vou
começar a responder coisas que não aconteceram ainda. Vamos viver o
momento.
Saída de Zico em 2010
Não liguei para o Zico. O único cara que conversei, que é meu irmão,
meu parceiro, foi o Júnior Capacete. Ele e Zico são os meus maiores
ídolos no Flamengo. Tive o prazer, a honra de subir para o profissional,
respeito muito. O Júnior me ligou. É meu parceiro, a gente sempre se
fala. É um dos amigos que fiz no futebol. Ele me desejou sorte, se
colocou à disposição. Os verdadeiros rubro-negros estão preocupados com
um amigo. Júnior foi meu diretor de futebol no Flamegno em 2004. Muito
legal. Caras que têm credibilidade com a torcida, com o clube. Eu sou um
cara aberto ao diálogo, gosto de escutar todo mundo. Existe a coisa do
comando, ter a opinião, a conduta e a maneira de agir. Alguém tem que
dar a palavra final. Não tive contato com o Zico, não falei por telefone
com ele, mas a abertura é total. Houve problemas, mas a direção do
Flamengo, pelo que escutei, tem um carinho e um respeito muito grande
pelo Zico. Até perguntei se a relação estava arranhada. Houve o
problema, não vale a pena bater na tecla, mas ele é patrimônio para
sempre do Flamengo e respeitado por mim e por muitas pessoas do clube. O
Flamengo sempre está de braços abertos para o Zico.