O porta-voz do Flamengo foi Gustavo Oliveira, vice-presidente de comunicação e marketing do clube, que conversou com a nossa reportagem por conta das recentes declarações de Fernando Manuel Pinto, diretor de direitos esportivos da Globo, ao L! (leia na íntegra aqui).
O dirigente rubro-negro disse que há uma boa relação entre as partes e dele com Manuel Pinto, mas alegou que houve um "mal-entendido" quanto às "conversas diárias", citadas pelo diretor da emissora, em prol de um acordo para a transmissão do Estadual.
- Não há conversas diárias. Para deixar claro, foi um mal-entendido. A nossa última conversa foi na sexta-feira (24), quando ele (Fernando) colocou claramente que a Globo continua com a mesma posição. [...] Com a proposta de hoje, não terá e está muito longe de um acordo.
'Não há conversas diárias (com a Globo)'
Gustavo Oliveira também assegurou que os patrocinadores do Flamengo apoiam o clube neste processo e não pressionam pela assinatura. Para elucidar o posicionamento rubro-negro, até uma comparação quanto a investidores para o programa "Domingão do Faustão" foi sublinhada.
- É o que fico brincando com o Fernando (Manuel Pinto): no dia em que você colocar o seu Faustão, um comercial de 30 segundos para o Domingão do Faustão igual a um de 30 segundos voltado para uma emissora como RedeTV e Bandeirantes, que são ótimas mas não têm a audiência do Faustão, eu volto a conversar com vocês e nos tornamos iguais.
- A razão, coloco para vocês, e não é porque o Flamengo quer ganhar mais do que os outros: o Flamengo traz muito mais dinheiro para a Globo. No Brasil, 19% do pay-per-view é do Flamengo - completou.
Confira a entrevista completa com Gustavo Oliveira:
Há conversas diárias entre Flamengo e Grupo Globo?
- Vi a entrevista do Fernando, até comentei com ele, gosto muito dele, mas ele deixa subentendido que está conversando todos os dias com o Flamengo. Fala-se em clubes, porém ele deixa subentendido que está direcionado ao Flamengo, o problema é o Flamengo.
Tivemos uma reunião na sexta-feira (24), em São Paulo, em encontro para debater os desejos dos clubes. Fui representar o presidente (Rodolfo Landim), que não pôde ir. Tive um almoço com ele (Fernando Manuel Pinto), que colocou a posição da Globo: manter o contrato (valores e condições) de 2016 e estendê-lo. O Flamengo não aceita, já deixei claro para o Fernando, que é uma posição não positiva para o clube.
Por que o Flamengo entende não ser positiva?
- A razão, coloco para vocês, e não é porque o Flamengo quer ganhar mais do que os outros: o Flamengo traz muito mais dinheiro para a Globo. No Brasil, 19% do pay-per-view é do Flamengo. E mais: 20% da torcida do Brasil é do Flamengo, segundo uma pesquisa, salvo engano, do Datafolha, e o Corinthians tem 14%, por exemplo.
Efetivamente, o Flamengo traz mais receita, não temos dúvida disso. Fizemos um contrato em 2016 de três anos, ótimo, funcionou, mas, hoje, não vemos como justo por conta do momento comercial que vivemos e do que entregamos para a Globo. Não há briga nenhuma quanto a isso, que fique claro.
O Flamengo, então, não enxerga meritocracia no processo?
- Tenho um carro, quero vender, mas você oferece muito menos do eu que acho que ele vale. É simples assim. Temos um ótimo relacionamento, estamos juntos no Brasileirão, mas consideramos a proposta da Globo ruim quanto ao Carioca. Não há meritocracia nessa história.
É o que fico brincando com o Fernando (Manuel Pinto): no dia em que você colocar o seu Faustão, um comercial de 30 segundos para o Domingão do Faustão igual a um de 30 segundos voltado para uma emissora como RedeTV e Bandeirantes, que são ótimas, mas não têm a audiência do Faustão, eu volto a conversar com vocês e nos tornamos iguais.
'Eles não abriram conversas quanto às nossas condições oferecidas. Zero flexibilidade'
Digamos que, na visão do Flamengo, não há flexibilidade da Globo pelo acordo no Carioca?
- Não há conversas diárias. Para deixar claro, foi um mal-entendido. A nossa última conversa foi na sexta-feira (24), quando ele (Fernando) colocou claramente que a Globo continua com a mesma posição. Apresentamos algumas propostas para comprar ativos da Globo, como transmissão pela FlaTV, ações na internet... O Flamengo, hoje, é o clube com maior rede social do Brasil. Hoje está pelo top-10 do mundo em todas as redes sociais, a torcida tem um engajamento enorme. Há algumas propriedades da Globo que foram vendidas no passado que nos interessamos, justamente para reduzir o valor que estamos pedindo neste processo. Tenho um valor X, que não vou revelar, só que ele poderia ser formado entre dinheiro e ativos da Globo que seriam nossos e eles têm contrato, como transmissão dos jogos, ou até espaços comerciais. Eles não abriram conversas quanto às nossas condições oferecidas. Zero flexibilidade.
Eles são os compradores e têm todo direito de fazer a proposta. Nós, como vendedores, temos o de não concordar. Está neste pé. Qualquer coisa diferente, como que está próximo, chegando a um acordo, proposta nova da Globo, não é verdade...
Dá para bater o martelo de que não haverá acordo?
- Neste momento, o Flamengo está fora do Carioca e, como tem andado o processo, não acredito que esteja. Só voltamos ao pay-per-view a partir de maio, no Brasileirão.
Não bato o martelo pois dependemos da Globo. Com a proposta de hoje, não terá, e está muito longe de um acordo. Isso porque temos a mesma proposta da Globo desde sempre, o que não vemos como positivo. Eles ficam naquela de "Não, vamos fazendo e tal"... Estão no papel deles.
'Tenho um carro, quero vender, mas você oferece muito menos do eu que acho que ele vale. É simples assim'
Acredita que haja pressão dos patrocinadores da Globo pela assinatura? E os do Flamengo, como veem este imbróglio?
- Não sei se há pressão (dos parceiros comerciais da Globo). No nosso caso, temos tido todo o apoio, tanto da torcida, quanto dos patrocinadores do Flamengo. Zero problema. Os nosso patrocinadores entendem que a proposta não é justa para o que representa o clube neste processo.
Até porque, a Globo é muito importante, gostaríamos de ter transmissão, é significativo para o torcedor ver os jogos, entendemos, porém hoje temos as mídias sociais e outras plataformas existentes no mercado que, de certa forma, trazem exposição e divulgação muito forte aos nossos patrocinadores.
O Flamengo não pode se prejudicar financeiramente caso permaneça sem vender os direitos do Carioca?
- O Flamengo, desde o início, não inseriu os direitos do Carioca no orçamento 2020. Estávamos ensaiando, projetando um possível aceite da Globo quanto ao que oferecemos. Hoje, o Carioca está em zero no nosso orçamento. Para ser mais conservador, não estipulamos, mas não há prejuízo por conta disso.
Agora você pergunta: gostaria de ter o acerto com a Globo pelo Estadual? Claro que sim. É muito importante, é bom para o Flamengo e, acho, seria muito bom para eles (Globo). Seria um jogo de ganha-ganha... Hoje, está de perde-perde, não é bom para o Flamengo e nem para a Globo.
Os rivais cariocas podem receber menos no rateio da Ferj neste atual cenário?
- Eles (Globo) comentaram que têm um valor X e que, caso o Flamengo não entre em acordo, teriam que tirar dos outros clubes. Isso é um absurdo. Existem um contrato da Globo com três clubes (Botafogo, Fluminense e vasco) e um da Globo com a Ferj. Contrato é para ser cumprido. Então, por que não tira da margem da Globo? Ela tem uma margem lá que não deve ser pequena, de pay-per-view, audiência, patrocinadores... O futebol da Globo é um elemento importante para o faturamento da empresa, o que é ótimo para todos. A Globo ajudou a construir um futebol rentável para os clubes também. Ela poderia pensar o seguinte: tirar um pouco da margem de ganho que tem com o Carioca para pagar de forma mais justa ao Flamengo. Este é o ponto.