Zico: como dirigente não foi nem sombra do gênio que era como jogador
Na noite de ontem, já ouvira alguns rumores a respeito da saída de Zico, mas confesso, não lhes dei crédito. Não conseguia acreditar que ele entregaria os pontos com apenas quatro meses de trabalho e num momento tão crítico para o clube. Não me parecia atitude digna do "Galo" que tantas vezes vi liderar o Flamengo em seus momentos de maior glória. Hoje, pela manhã, entretanto, veio a confirmação. E, com ela, uma grande decepção.
Antes de mais nada, é importante ressaltar: o jogador Zico jamais perderá a minha admiração. Na verdade, vou além: nunca deixarei de ter por ele autêntica veneração. Era um monstro. Um cracaço, dentro e fora do campo. Seu talento e, acima de tudo, seu profissionalismo exemplar guiaram várias gerações rubro-negras e levaram o Fla a conquistar os maiores títulos de sua história. Por isso, haja o que houver, merecerá ser sempre um ídolo da maior torcida do país.
O dirigente, entretanto, não conseguiu ser nem sequer uma sombra do que fora como atleta. Se as intenções eram as melhores possíveis (e não tenho dúvidas de que eram), as ações, em sua maioria, se revelaram desastrosas. Repetindo, monocordicamente, o discurso de que o importante era apostar na estrutura (construção do CT, revitalização das categorias de base etc), Zico esqueceu do presente e o time que montou para o pós-Copa no campeonato brasileiro revelou-se um desastre tão grande que ameaça seriamente o clube de viver o maior vexame de sua história - o rebaixamento à Segunda Divisão, provação da qual, até então, o Flamengo é o único carioca a escapar.
Esse é o seu maior pecado. Não creio em nenhuma das maledicências que espalharam a respeito de seus filhos, agindo como empresários, na Gávea. A honestidade e a ética de Zico, para mim, seguem inatacáveis. Ele pode ter se mostrado incompetente como gestor, mas daí a acusá-lo de usar o clube em benefício próprio vai uma distância colossal.
O acordo com o CFZ, de fato discutível, por igular deveres e haveres de duas instituições tão díspares em tamanhos e valores, foi firmado por Bruno Coimbra, seu filho, e pela presidenta Patrícia Amorim, antes de sua contratação como dirigente executivo. E, é importante ressaltar, já era ardentemente defendido, na gestão anterior, por Márcio Braga e Delair Dumbrosck.
Se Zico teve culpa na história foi por não perceber que tal contrato poderia sugerir um perigoso e desaconselhável conflito de interesses. Por causa dele, talvez nem devesse ter aceitado o convite do Flamengo. Ou então, no dia de sua posse, deveria ter anunciado oficialmente o seu cancelamento. Mas não o fez - até porque a decisão de rescindi-lo, o próprio Zico admite, só aconteceu quando da venda do clube para o grupo MFD, de investidores (embora Patrícia Amorim tenha emitido nota oficial garantindo o contrário, há poucos dias).
O resumo desta triste ópera rubro-negra é que todos no clube erraram feio e acabaram desperdiçando uma grande oportunidade de usar Zico como um instrumento eficiente para recuperar a imagem do clube e reerguê-lo financeiramente. Já escrevi, aqui mesmo neste blog e na minha coluna do GLOBO, que o maior ídolo da história do clube não poderia ter sido exposto e usado da forma que foi.
Zico era para ter se tornado uma bandeira, um símbolo, um embaixador do novo Flamengo. Poderia até ditar as maiores diretrizes do futebol profissional, mas não deveria jamais ter se desgastado no dia a dia das contratações, do relacionamento com o elenco, da discussão de prêmios e salários atrasados etc.
O Galo tinha tudo para ser o principal catalisador de novas receitas externas, que possibilitariam o saneamento financeiro do clube e viabilizariam grandes contratações - e não ficar mendigando recursos ao departamento financeiro, para trazer um bando de pernas-de-pau.
Faltou profissionalismo e competência à Patrícia Amorim, para perceber o erro a tempo de corrigi-lo, cercando Zico de profissionais de primeira linha, que pudessem lhe dar o respaldo necessário para ser a figura de proa que se esperava.
E faltou também a Zico a sensibilidade para entender que abandonar o barco em meio à tormenta não é atitude digna de um grande comandante.
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Patrícia, Patrícia, se, de fato, o "Capitão Léo" virou fiel da balança para qualquer coisa na Gávea, todos aos botes...
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"Eu era mais feliz quando o "capitão Léo" que mandava no Flamengo era o Júnior."