quarta-feira, 9 de maio de 2012

Com dívida de R$ 432 mi, Flamengp analisa balanço anual e vê números positivos



Divulgado no último dia útil de abril, o balanço anual do Flamengo apresenta um rombo nos cofres do clube. O passivo é de R$ 432 milhões, e a folha salarial do futebol flutua, segundo a diretoria, acima dos R$ 5 milhões por mês. Os números, no entanto, não assustam quem toma conta do caixa da Gávea. Pelo menos é o que garante o vice de finanças, Michel Levy. Se a oposição se baseia na saúde financeira para dizer que o clube está mal das pernas, Levy, dirigente que ficou conhecido por participar ativamente do dia a dia do futebol e bater de frente com Vanderlei Luxemburgo, não teme cair do cavalo galopante das dívidas.

- De 2010 para cá não dá para mudar muita coisa. Você freou o cavalo. Agora, começamos a avançar, tentando galopar. De 2011 para 2012 será possível dar equilíbrio e avançar. Estamos colhendo um pedacinho, o paçocão vem no ano que vem.

Vice de finanças do Flamengo, Michel Levy fala sobre o balanço de 2011 do clube rubro-negro (Foto: Janir Junior / globoesporte.com) 
 Em sua sala na Gávea, Michel Levy fala sobre o balanço de 2011 (Foto: Janir Junior / globoesporte.com)
O dirigente analisa os números pelo lado positivo e apresenta argumentos para provar que o Flamengo enxerga luz no fim do túnel, ou do cofre. Levy comenta os aumentos dos impostos em dia que pularam de R$ 50 milhões em 2010 para R$ 72 milhões no ano seguinte, diz que fez acordo em contrato para receber cotas da televisão antecipadamente sem necessidade de aprovação do Conselho do clube. Admite também, sem se aprofundar, que os gastos mensais atingem R$ 10 milhões com folha salarial de todo o clube, garante que o futebol gasta pouco acima de R$ 5 milhões por mês e diz:

- Não é barata, não (folha do futebol). É cara pra cacete, mas não é de R$ 8 milhões como chegaram a dizer.

Michel Levy, que chama atenção por participar efetivamente do futebol rubro-negro, é conhecido na Gávea pelo tom de voz elevado. Ao adentrar o corredor da Gávea, alguns de seus funcionários já sabem da presença do vice de finanças. Quando está na sede do clube, o dirigente sempre tem uma fila em sua antessala.

Deivid e Ronaldinho Gaúcho são alguns dos credores. O primeiro cobra na Justiça uma dívida apontada em R$ 6 milhões; já o camisa 10 diz ter cerca de R$ 5 milhões a receber - segundo a presidente Patricia Amorim, o valor devido é de R$ 2,25 milhões.

- O Flamengo deve a essas pessoas. Mas dever não quer dizer que não vamos pagar.
Para explicar os números, Levy conta com o apoio de William Pereira dos Santos, que trabalhou de 1999 a 2002 como gerente financeiro remunerado do então presidente Edmundo dos Santos Silva - afastado após processo de impeachment por conta de negociações mal esclarecidas com a falida ISL. William chegou a mover ação trabalhista contra o Flamengo. Agora, diz:

- É notória a recuperação financeira do clube. Só um cego ou político não enxerga.
Levy completa:

- Apesar de os números serem maiores no endividamento, na correção automática da dívida, o endividamento é menor correspondente aos anos anteriores.

O GLOBOESPORTE.COM entrevistou Michel Levy e William Pereira dos Santos, na sala do vice de finanças, na Gávea. Leia abaixo os pontos principais da conversa:

Balanço do Flamengo em 2011

Levy – É um recorde, o maior lucro operacional da história do Flamengo, R$ 32 milhões. Contabilidade e balanço são interpretados de várias formas. Se quiser puxar pelos pontos positivos, você faz ser ótimo; se não quiser, fica péssimo. Mas nem que queira esse balanço é péssimo. Temos pontos positivos muito agudos, contundentes. Uma recuperação patrimonial gigantesca: R$ 250 milhões, sendo que passamos de R$ 100 milhões negativos para R$ 150 milhões, com atitudes dentro do mesmo passivo e ativo. Ninguém comprou nada nem vendeu nada. Não é passe de mágica, é um reinvestimento dentro do patrimônio. Se você tem uma casa toda quebrada e reforma, ela passa a valer dinheiro. Quebrada não vale nada. O mercado também evoluiu, e o Flamengo se aproveitou das circunstâncias. O Flamengo em 2010 foi o clube que mais valorizou arrecadação. O Flamengo expõe da forma como enxerga o balanço.

William – Fizemos uma reavaliação dos imóveis. O terreno do centro de treinamento em Vargem Grande tem 140 mil metros quadrados. Na contabilidade no ano passado, o valor era de R$ 12 milhões. Contratamos a mesma empresa que faz trabalho para o clube desde 2005, em outras gestões, e fizeram nova avaliação de R$ 75 milhões. O prédio do Morro da Viúva, com 148 apartamentos, passou de R$ 65 milhões e foi avaliado em R$ 144 milhões.

A folha salarial do Flamengo: a atual diretoria negava que o valor era de R$ 10 milhões, mas o balanço apresentou este número como gasto mensal de todo o clube

Levy – É... Bom, contra números não existe defesa. Se o número diz isso, é porque procede... O que questionamos é que disseram que a folha do futebol era de R$ 8 milhões. Os R$ 10 milhões também incluem despesa de pessoal com terceirizados, contratos, prestação de serviços, isso atinge R$ 10 milhões. Não é o futebol. Provo que não é, não tenho por que mentir. E é bruto, não líquido. Deu R$ 5 milhões e pouco. Não é barata, não. É cara para cacete, mas não é de R$ 8 milhões. Gira acima de R$ 5 milhões porque entra um jogador, sai outro. As despesas mensais gerais, com equipamento, giram em torno de R$ 10 milhões.

No balanço de 2011, consta antecipação de R$ 52 milhões de cotas de TV, valores que, teoricamente, teriam que ser lançados só a partir de 2012

Levy – O Flamengo recebeu luvas, sendo R$ 45 milhões, um bônus extra que não revelo, pois foi uma negociação que eu fiz. Dos R$ 45 milhões, R$ 29 milhões são luvas, R$ 16 milhões que entraram do pay-per-view dividido por quatro, que são R$ 4 milhões ao ano. Não estou no balanço de 2012, eu recebi em 2011. Não vai constar no de 2012. Quando você faz receita antecipada, você lança o gasto e a receita no seu local de origem; quando você faz um contrato onde já consta como cláusula a antecipação, ela só está registrada naquele período e é receita naquele momento. Não antecipei receita. Combinei de receber antes, referente a percentuais que serão abatidos como valor dentro do pay-per-view em quatro anos. Mas não tem nenhum custo por isso, não tem juros. É uma cláusula, tanto que não precisou ir ao Conselho para ter o recebimento. Pois, quando você vai fazer uma antecipação de receita, você tem que pedir autorização. Não pedi porque eu não gerei custo e é contrato, acordado com a Globo. O orçamento de 2011 é muito maior do que em outros anos.

Impostos em dia, que em 2010 eram de R$ 50 milhões foram para R$ 72 milhões

Levy - Se você tem uma dívida, o maior agiota que tem é o governo, que mais corrige e cobra juros. Se você tem uma Timemania, uma dívida tributária, e você não pagou, ela se corrige e cresce naturalmente. Não existe acréscimo porque eu criei. Pode ter ocorrido de não ter pago um imposto aqui, outro ali. Mas não foi por isso que cresceu de R$ 50 milhões para R$ 72 milhões. Mantive os R$ 50 milhões e não aumentei R$ 22 milhões. Os R$ 50 milhões podem ter virado R$ 65 milhões e eu atrasei R$ 7 milhões. É natural se você não elimina o tributo ele se corrigir. A dívida do Flamengo que disseram que cresceu R$ 52 milhões é uma das menores. É disparado o melhor balanço entre os grandes clubes.

William - Analisei o balanço dos quatro grandes clubes do Rio de Janeiro, o nosso é o melhor, absoluto.

Levy -  Não fala só melhor que me ofende. É muito melhor.

William - Estamos em ano político, um dado positivo pode virar negativo. Existe um índice de liquidez, que é muito importante. Estamos em 0,49. O ideal seria 1, mas, em 2009, era 0,16, esse índice mais que triplicou. Isso se refere à capacidade de efetuar os pagamentos. O prejuízo do clube foi de R$ 31 milhões em 2009, R$ 21 milhões em 2010 e R$ 12 milhões em 2011. É notória a recuperação financeira do clube. Só um cego ou político não enxerga. O Flamengo como clube de futebol, esportes olímpicos e atividades sociais deu lucro de R$ 32 milhões esse ano. O prejuízo de R$ 12,4 milhões é de despesas não operacionais, que são dívidas.

Real valor da dívida do Flamengo

William – É de R$ 432 milhões, esse é o total do passivo. Essas dívidas de grande percentual estão equacionadas. Mais da metade está equacionada.

Segundo a oposição, o item credores diversos pulou de R$ 970 mil em 2009 para R$ 16 milhões

Levy-  Credores diversos, não tenho os números. Parcelamento de jogadores entra como credores diversos. Quando nós chegamos estava com um buraco lá atrás. Por exemplo: Romário, Petkovic...estamos carregando esses caras nas costas, não jogam bola há um tempão, mas estão ganhando. Mas tivemos decréscimo monstro de ações trabalhistas. O Flamengo manda embora e paga. Um ou outro pode ter escapado e ter ido à Justiça. Mas estamos limpando o TRT. Eram 500 ações em 2009, hoje deve ter a metade. O clube mandava embora e não pagava a ninguém. Além de estar pagando para trás, não estamos crescendo para frente.

Dívidas com Deivid e Ronaldinho Gaúcho

Levy - Com Deivid é uma dívida contraída em cima de uma negociação conturbada. Estamos abertos, vamos chamar jogador e advogado para uma composição para equacionar. Da mesma forma com Ronaldinho. Existe um hiato entre a saída da Traffic. Assumimos o atrasado da Traffic (R$ 3,75 milhões), agora temos que criar orçamento, estabelecer e realocar os números que não estavam dentro da programação. É um ajuste de momento. O Flamengo deve a essas pessoas. Dever não é dizer que não vamos pagar. Temos os direitos econômicos de todo plantel. Quase 100% de todo elenco profissional e da base, ou o maior percentual. Não estão se empurrando dívidas para quem vem depois, não. Temos um bem (jogador), se quiser vender, revender aí são outros quinhentos. Mas é um patrimônio econômico do futebol. Isso aqui sempre foi barriga de aluguel nos últimos 10, 15 anos. O clube tinha 10%, 15%, o jogador ficava se quisesse. Estamos colhendo um pedacinho, o paçocão vem no ano que vem. De 2010 não dá para mudar muita coisa. Você freou o cavalo. Agora, começamos a avançar, tentando galopar. De 2011 para 2012 começa a dar equilíbrio e avança daí.

Queda do lucro com bilheteria

Levy – O número de torcedores que iam ao Maracanã não é o mesmo do Engenhão. Mesmo assim devo menos de R$ 1 milhão à BWA (empresa de venda de ingressos), de uma dívida de R$ 13 milhões que o clube tinha. O Flamengo acumulou uma dívida de R$ 18 milhões com o Clube dos 13. Como o Clube dos 13 funcionava: ia lá, fazia uma execução, e o Clube acatava tudo. Você fazia solicitação, eles não pediam anuência do clube. Se tinha R$ 5 milhões para receber e o Clube dos 13 recebia R$ 8 milhões de execução, ele aceitava os R$ 8 milhões, pagava os R$ 3 milhões excedentes e aguardava uma renovação de contrato para te tomar lá na frente. Criou sistema de agiotagem instintivo. Quando estancou o contrato com a televisão, o Clube dos 13 veio com faca para enfiar no meu peito e eu não paguei.

Projeção para o futuro financeiro do clube

Levy -  Acredito numa virada do Flamengo. Como vira uma empresa devedora? Cresce receita, programa passivo e avança com superávit. Precisamos de sequência de mentalidade ou filosofia para dar um salto grande. O Flamengo hoje já se distanciou dos outros. Apesar de os números serem maiores no endividamento, na correção automática da dívida, o endividamento é menor correspondente aos anos anteriores. O Flamengo cresceu.


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