Antônio Nunes, mais conhecido como Lico, foi bicampeão brasileiro, da Libertadores e Mundial pelo Flamengo. O ex-ponta esquerda do Rubro-Negro fez parte, segundo o próprio, do maior time da história do futebol. Morando em sua cidade natal, Imbituba, em Santa Catarina, Lico vibrou com hexacampeonato do clube carioca e, principalmente, com o sucesso do ex-companheiro e amigo Andrade.
Lico no time do Flamengo campeão da Taça Libertadores da América de 1981
- Minha torcida maior foi pelo Andrade, que é uma grande pessoa, um companheiro sério e honesto. Ele recuperou o time e principalmente jogadores que estavam em um momento difícil, como o Zé Roberto e o Aírton, que mais fazia falta do que jogava. O Andrade deu ao Flamengo um estilo de jogar futebol, mexeu com o coração dos jogadores, que o respeitam. Ele conseguiu um título que ninguém esperava. Mostrou que não é preciso usar terno e gravata e nem gritar feito um maluco na beira do campo. Mostrou que, às vezes, uma conversa ao pé do ouvido é bem mais interessante. O "Tromba" botou muito treinador no bolso neste Campeonato Brasileiro.
Lico confessa que a vida de torcedor é bem mais fácil do que a de jogador - o sofrimento maior é para aqueles que estão em campo.
- Não sofri com o jogo do Flamengo. Não tenho mais o que sofrer no futebol, não é mais aquela coisa doentia da época de jogador. O jogador sofre mais por estar representando uma paixão. Como torcedor eu sou tranquilo, e as minhas filhas sofrem mais do que eu. Eu costumo olhar o jogo friamente, ver quem realmente merece ganhar.
E com esse “olhar frio”, deixando de lado o torcedor, o ex-jogador afirma com a certeza de quem já viveu o futebol que o Flamengo mereceu ser campeão e que não tinha como o troféu ir para um lugar diferente da Gávea.
- Deu pra ver que os jogadores do Fla estavam ansiosos, mas dava pra perceber que a reação era questão de tempo. O time fez por merecer e a torcida fez como sempre: empurrou. O Grêmio não tinha nada a perder e por isso estava mais leve. O Flamengo começou marcando muito atrás, mas rapidamente tomou conta de todo o campo.
- O Angelim mereceu fazer o gol do título. Ele é um zagueiro que sempre mantém o nível. Não vejo no Brasil nenhum melhor do que ele. O Williams também é um ótimo jogador, apoia e defende como poucos. E o Adriano e o Petkovic que fazem a diferença e desequilibraram.
Hoje, Lico mora com a esposa Simone, com quem é casado há 31 anos e tem três filhas: Mônica, Mariana e Marina. O ex-jogador tem uma associação de amigos na cidade, onde é professor voluntário de futebol para garotos de 9 a 14 anos, a Associação Paes Leme de Futebol. Duas vezes por semana, ele vai à Florianópolis para coordenar e orientar meninos em um campo de grama sintética, no Lico Esporte Center.
Com a experiência que tem, desde que passou a atuar em divisões de base em Santa Catarina, o ex-ponta espera um dia poder voltar a trabalhar no Flamengo.
- Eu tenho o sonho de trabalhar nas categorias de base do clube. Contribuir com a minha experiência. Apesar de ver esse sonho um pouco distante, tenho a esperança de que algum dia lembrem da minha pessoa.
Momentos inesquecíveis no Flamengo
Antes de se transferir para o Rubro-Negro, Lico passou pelo Grêmio e futebol catarinense, onde conquistou três títulos estaduais. No Flamengo, as conquistas mais importantes foram os Campeonatos Brasileiros de 1982 e 1983, e a Libertadores e o Mundial, em 1981.
- Foi um sonho. Foram tantas conquistas, e me deram a oportunidade de ir pra lá, apesar de eu já ter uma certa experiência. O nosso grupo era uma grande família, formada por craques. Desde o Raul até o Zico. Sem desmerecer o Santos de Pelé, mas aquele foi o maior time que eu já vi na história do futebol, marcou a trajetória mundial do esporte. Todos respeitavam a torcida e a camisa: não tinha corpo mole e nem briga. Contato a gente não tem muito, principalmente por causa da distância. Mas tenho um carinho e respeito enorme e eterno por todos. Sempre que eu posso, os vejo.
Outro momento histórico na Gávea em 81 foi no dia 8 de novembro, quando o Flamengo devolveu o placar marcante de 6 a 0 pra cima do Botafogo. Lico marcou o terceiro gol da vitória.
- Este foi um jogo especial. Era um placar que estava entalado na garganta dos torcedores. Mas eu só fiquei sabendo da história no intervalo da partida, e que a torcida estava pedindo. Tinha que ser aquele dia, pois o Botafogo estava morto.
Em 1984, veio o pior e último momento da carreira do ponta. Devido a uma série de cirurgias no joelho, o jogador se viu obrigado a encerrar a carreira para não ter problemas mais graves no futuro.
- Parar por causa de lesão foi um baque violento, pois eu estava em um momento espetacular. Depois de fazer duas cirurgias e na terceira o médico falar que eu tinha que parar... Demorei em aceitar, só o tempo cicatriza essa ferida. E eu sei que poderia ter ido mais além, foi uma dor muito grande. Mas prefiro não lembrar muito desse fim. Hoje eu sou um homem feliz, e tenho uma família maravilhosa.
Lico e a família: as filhas Monica, Mariana e Marina, e a esposa Simone. 31 anos de casamento
Lico mostra confiança nos próximos anos do Flamengo. O ex-atleta gostou da eleição da presidente Patrícia Amorim, e acredita que o time de futebol vai continuar na rota dos títulos se manter o atual elenco.
- A Patrícia Amorim mostrou que tem planejamento, que é uma pessoa inteligente, com capacidade de administrar além da paixão. Vai acabar com certos preconceitos que se tem com a figura da mulher. Senti nela capacidade e organização. E não tem time melhor que o Flamengo no Brasil. Se manter a base, vai buscar ainda mais títulos no ano que vem.