A maratona do time de basquete do Flamengo parece não ter fim. Da
pré-temporada realizada em setembro de 2013 aos playoffs do NBB, que
prossegue neste sábado, às 16h, com a terceira partida das quartas de
final, diante do Bauru, no ginásio Panela de Pressão, foram 43 vitórias e
apenas sete derrotas em 50 jogos. Neste período, o conquistou o
Campeonato Estadual e a Liga das Américas de forma invicta e acumula um
incrível aproveitamento de 86%. O caminho até seu terceiro título da
competição mais importante do país ainda é longo, mas o atual campeão
tem suas armas para chegar lá. E uma das mais importantes atende pelo
nome de Diego Falcão. Referência na sua área, o preparador físico do
time carioca e fiel escudeiro do técnico José Neto, com quem trabalha
desde 2007, tem colocado os rubro-negros para suar a camisa.
Os
preparadores físicos Rafael Bernadelli (à esquerda) e Diego Falcão são
os responsáveis pelo excelente desempenho físico do Flamengo na maratona
a que o clube carioca tem sido submetido (Foto: Gilvan de Souza)
Além
da total integração com os médicos e os fisioterapeutas do clube, Diego
- que também trabalha com a seleção brasileira masculina - destaca a
valiosa parceria com Rafael Bernadelli, um dos poucos remanescentes da
comissão técnica comandada por Paulo Chupeta nas conquistas do
Campeonato Brasileiro de 2007/2008 e do primeiro NBB na temporada
2008/2009.
- Quando cheguei aqui, me perguntaram se eu queria
que o Rafael permanecesse no clube e, mesmo sem conhecê-lo, disse que
sim. Hoje posso dizer que foi a decisão mais acertada que tomei. Acreditamos nos mesmos conceitos, e o suporte dele tem sido importante
demais no nosso planejamento. É um cara que já estava no clube e que tem
um carisma incrível com os jogadores. Por todas essas qualidades, nunca
tive dúvidas que nossa parceria daria certo. Sempre acreditei que
quanto mais gente tiver do meu lado para somar melhor - afirmou Diego
Falcão.
Com
pouco tempo de experiência no basquete, Rafael agradece a confiança e
garante que jamais se sentiu desprestigiado com a chegada do novo
"chefe".
- Sempre achei que o ideal seriam dois preparadores
físicos no basquete. Antes eu ficava sobrecarregado e acabava não
conseguindo dar 100% de atenção nos treinamentos e na recuperação aos
atletas lesionados. A chegada dele foi ótima. Só tenho seis anos de
basquete, e ele trouxe toda a experiência e o "know-how" do trabalho
dele na seleção brasileira. Acho que a parceira deu certo também porque
somos dois caras hiperativos e ligados nos 220 (risos) - disse Rafael.
Diego
não teve uma trajetória fácil até chegar à seleção brasileira. O sonho
de se tornar um jogador de ponta, seja no basquete ou no futsal, era
real, mas durou pouco. Competitivo desde pequeno, o preparador físico do
Flamengo logo viu que suas qualidades técnicas com as bolas nos pés e
nas mãos não eram compatíveis à sua disposição e vontade de treinar.
-
Sempre fui viciado em esporte e cheguei a jogar basquete e futsal.
Gostava demais de treinar e desde cedo tive certeza de que queria viver
do esporte de alto nível. Mas quando percebi que não seria um atleta de
ponta, resolvi estudar e me tornar um profissional de primeira. Como eu
treinava mais do que todo mundo, acabava ficando mais cansado também.
Queria entender as razões, e foi aí que me interessei pela educação
física e acabei me especializando em fisiologia do exercício - lembrou.
Além
dos livros, o preparador físico rubro-negro teve que engolir o
preconceito. Formado pela Unipê em 2003, Diego sentiu na pele o "peso"
de ter nascido em João Pessoa, na Paraíba. Com o diploma e um vasto
conhecimento na bagagem, o braço direito de José Neto desembarcou em São
Paulo no mesmo ano cheio de gás e sonhos. Ele só não esperava que
tantas portas fossem se fechar ao mesmo tempo na sua cara.
-
Eu me matriculei na Unifest e aprofundei meus conhecimentos. Sempre fui
muito estudioso na minha área, mas existia muito preconceito e
desconfiança por eu ter vindo da Paraíba e nenhum lugar me aceitava até
que surgiu uma oportunidade no Centro de Formação Esportiva da Janeth.
Nos dois anos em que trabalhei lá, conheci muita gente, como o João
Nunes, que era o preparador física da seleção feminina, e o Diego
Jeleitate, que hoje trabalha comigo na seleção masculina. Ele me ajudou
muito nesse período e me indicou para trabalhar na Ulbra. Lá, entrei no
alto nível do basquete, conheci o Neto e nunca mais nos separamos -
contou Diego.
O
"casamento" entre o técnico José Neto e o preparador físico Diego
Falcão (em pé à esquerda) já dura sete anos (Foto: Alexandre Vidal /
Flaimagem)
Mesmo com personalidades completamente
diferentes, a empatia foi imediata e a parceria definitiva. José Neto o
levou para a seleção sub-19, e o "casamento" amadureceu em Joinville
antes de dar frutos com a camisa do Flamengo. Desde que desembarcaram na
Cidade Maravilhosa, a dupla acumulou dois Campeonatos Estaduais, um NBB
e a Liga das Américas.
- Somos muito diferentes, mas nos
entendemos e temos os mesmos gostos e conceitos parecidos sobre o
basquete. Tenho uma facilidade para trabalhar com ele que muito
preparador não tem. Ele confia no meu trabalho e entende as coisas que
precisam ser abdicadas tecnicamente em determinados momentos para que
fisicamente os resultados apareçam nos momentos decisivos das
competições, como aconteceu na Liga das Américas. Não é qualquer técnico
que compra essa ideia, mas ele sabe que lá na frente nós vamos colher
os frutos. É um trabalho que requer riscos,
mas respeitamos as cargas de
cada jogador e tudo é feito com o respaldo do departamento médico e da
fisioterapia - explicou.
Chefe da companhia, José Neto faz
coro às palavras de Diego Falcão e destaca a preparação física de sua
equipe como uma das armas do sucesso do Flamengo.
- Para
aguentar o ritmo de jogo do basquete competitivo o jogador precisa de
duas coisas essenciais: intensidade e resistência. Sem isso, é quase
impossível criar um equipe vitoriosa. A preparação física se tornou
fundamental com toda essa competitividade que existe atualmente.
Trabalho com o Diego desde 2007, é quase um casamento. Ele brinca que já
dormi mais com ele do que com a minha mulher (risos). Criamos um grupo
de trabalho que se encaixa. Desde a preparação física ao departamento
médico. Todo mundo se entende sem interferir no espaço do outro. É o que
chamamos de trabalho interdisciplinar - disse José Neto.
O
jeito brincalhão e extrovertido está no DNA desse paraibano de 34 anos,
mas quase nunca "entra em quadra" na hora do batente. Quando o treino
começa e a bola sobe, Diego se transforma e reconhece seu lado general.
Mas tudo numa boa, sem precisar levantar a voz. Apesar do sucesso com a
camisa do Flamengo, o preparador físico arremessa a vaidade para longe e
faz questão de dividir os méritos com os jogadores.
- Não
existe segredo. O sucesso está no trabalho de todo o grupo.
Principalmente porque os jogadores acreditam nos métodos que são
passados e propostos pela comissão técnica. Eles estão bem conscientes
de tudo que vai acontecer com o corpo deles e se dedicam ao máximo. Sou
um cara que exige bastante e que cobra intensidade total durante os
treinos, tanto na parte de força, realizada na musculação, como técnica,
dentro de quadra. Tudo é compartilhado com o departamento médico -
destacou Diego.