terça-feira, 19 de junho de 2012

No início, as torcidas organizadas tinham missão de paz, lembra escritor


Bernardo Buarque de Hollanda, pesquisador e escritor (Foto: Gabriel Benamor / SporTV.com)
Se atualmente as torcidas organizadas são associadas à violência nos estádios, o escritor e pesquisador Bernardo Buarque de Hollanda lembra que, nos anos 1950, quando se espalharam pelos estádios brasileiros, a sua função era justamente o contrário: impedir que acontecessem conflitos.

- As torcidas organizadas surgem nos anos 1950. Estádios como o Maracanã tinham 200 mil torcedores e era preciso conter esse público. As organizadas surgiram nesse sentido, de controlar a festa. Nos anos 1980, essas torcidas se desmembram em diversos grupos e esses grupos começam a travar rivalidades entre si. Os anos 1980 foram o momento da explosão da violência urbana no Brasil e o futebol acompanhou isso - lembrou Bernardo, no "Redação SporTV" desta terça-feira.



 O escritor citou o exemplo de Jaime de Carvalho, fundador da Charanga Rubro-Negra, considerada a primeira torcida organizada do Brasil. Para ele, foi a presença de Jaime que impediu uma tragédia fora de campo na derrota da Seleção contra o Uruguai em 1950.

- O chefe de torcida era o torcedor carismático, conhecido de todos. O chefe de torcida era um homem de confiança do chefe de polícia, para resolver os problemas na arquibancada. Em 1950, quando sediamos a Copa do Mundo, escolhemos Jaime de Carvalho, que era chefe da Charanga do Flamengo, como chefe de torcida. Ele controlou muito bem. Tanto que perdemos a final e não houve desordem do lado de fora do estádio.

Neste clima de paz, as torcidas organizadas até tinham o seu próprio campeonato, sendo julgadas pelo seu desempenho nas arquibancadas como se fossem escolas de samba.

- No Rio, em particular, as torcidas tinham uma relação muito grande com o Carnaval. O Mario Filho criou até um torneio de torcidas. Os critérios eram os mesmos das escolas de samba, como fantasias, músicas, animação. As torcidas ganhavam troféus com isso. A ideia é que as torcidas organizadas voltem a ter esse lado festivo, carnavalesco.

Bernardo Buarque de Hollanda acredita, porém, que uma nova mudança no comportamento dos torcedores no Brasil, depois da construção de novos estádios para a Copa do Mundo de 2014.

- De fato, há uma tendencia internacional para a mudança do comportamento do torcedor. Isso está relacionado até com o desenho dos estádios, com assentos individuais numerados, como se fosse um teatro. Você vai assistir a um espetáculo e bater palmas no final. A Copa de 2014 vai ser um laboratório para experimentarmos esse modelo de estádio.



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