quinta-feira, 23 de julho de 2015

Com fiel escudeira, Ederson traz a vida em família da Europa para o Flamengo


Ederson Patrizia Pighini troféu Copa da França (Foto: Arquivo Pessoal)Amado na Europa, só que mais pela gentileza e simpatia fora de campo do que pelo futebol apresentado nos gramados, Ederson chega ao Flamengo para vestir a camisa que um dia foi de Zico e "conhecer seu país", como diz Patrizia Pighini, esposa, fiel escudeira e ex-representante. E a história de Edy, como é tratado pela companheira, mudou exatamente quando o novo 10 rubro-negro conheceu a empresária, 22 anos mais velha e acostumada a lidar com jogadores do porte de Roberto Baggio, Salvatore Schillaci e Trezeguet. Mas isso não garantiu a ele o sucesso no futebol europeu. As críticas de torcedores e imprensa ao seu desempenho com as camisas dos clubes são inversamente proporcionais aos elogios ao seu comportamento e relacionamento com todos.

Na França e na Itália, países onde jogou, Ederson deixa pouca saudade. Nunca se impôs nas principais equipes que defendeu, Lyon e Lazio, e não encontrou resistência para deixar ambos – desta vez, sai do clube italiano para assinar um contrato de três anos com o Flamengo. Malas prontas, ele embarca nesta quinta-feira rumo ao Rio de Janeiro, onde será apresentado no dia seguinte, depois de realizar exames médicos. No sábado, retorna à Itália para acertar os detalhes da mudança, voltando em definitivo para a Gávea no dia 30.

– Edy está pulando de alegria. É incrível olhar no rosto e ver a felicidade dele. Há um brilho nos olhos, porque queria muito jogar no Flamengo, voltar a jogar no seu país. Ele saiu muito novo e, por isso, não é tão conhecido no Brasil. Também por esse motivo quis voltar – afirmou Patrizia Pighini, 51 anos, casada com o jogador desde 2008, em entrevista ao GloboEsporte.com por telefone.

Sucesso esperado, mas não alcançado
 
Patrizia e Ederson se conheceram em Nice quando o jogador defendia o clube do litoral francês. À época, ela era empresária de jogadores, profissão que exercia desde 1995, a convite do famoso gestor de carreiras italiano Antonio Caliendo. Patrizia trabalhava num escritório da empresa em Montecarlo, onde tem residência fixa, e começou a cuidar diretamente da carreira daquele armador do Nice, então com apenas 19 anos.

Graduada em economia na Universidade Bocconi – uma das mais prestigiadas da Europa –, a empresária destacava sempre o talento do jovem cliente em entrevistas. "Vocês vão ouvir falar muito do Ederson. Tem grandes coisas destinadas para ele." Ou ainda: "Barcelona e Inter de Milão são alguns dos clubes que já sondaram o Ederson." Embora o futuro do seu cliente não tenha sido tão glorioso como as previsões da empresária e principal fã do jogador, a sintonia entre os dois deu casamento. 

– A maturidade dele me impressionava. É uma pessoa que se interessa por todos os aspectos da vida, além do futebol: economia, investimentos, cultura, alimentação... Tudo. Fala espanhol, italiano, francês e quer aprender também o inglês também, além da sua língua materna, o português. É um profissional 100% dedicado, que cuida de todos os detalhes – elogia Patrizia, que deixou de ser representante do jogador depois do casamento e nascimento do único filho do casal, hoje com quatro anos. 

Vida pacata e lesões "em segredo"
 
Os 22 anos de diferença que separam as idades de Patrizia e Ederson não condicionam a vida do casal. Nunca condicionaram, diz a esposa, que ressalta a união e um comportamento distante dos holofotes da vida social dos boleiros. 

– Somos pessoas normais, com os pés no chão, Não fazemos excessos, porque sabemos que um dia essa profissão de jogador vai terminar. Pensamos muito nisso. A nossa vida é bem tranquila. Raramente saímos, e o nosso filho é a prioridade.



Mosaico Ederson Flamengo (Foto: Editoria de Arte)Patrizia esteve no Rio de Janeiro apenas uma vez, há mais de 20 anos e para passar férias, mas está muito animada com a nova vida na "cidade mais bonita do mundo pela natureza" – juntamente com Roma "pela cultura", acrescenta. O casal ainda não decidiu onde vai morar, mas a mudança não assusta os dois, que residem há muito tempo entre Itália e Mônaco.  

E ter uma situação financeira sob controle também explica a mudança de ares. Embora não seja mais empresária de Ederson, Patrizia revela que aconselhou o marido a tomar a decisão de voltar para o Brasil. Segundo ela, o Flamengo não era a única opção, mas Ederson preferiu decidir logo o futuro agora para não ficar pendurado até 31 de agosto, data de encerramento da janela na Europa. Para isso, o brasileiro abriu mão de uma boa parte do salário que recebia no Lazio – cerca de € 1,5  milhão por ano (cerca de R$ 5,24 milhões). No Flamengo, o meia irá receber anualmente R$ 2,5 milhões. Ou seja, menos da metade.

Inicialmente, o Lazio não queria deixar o jogador sair de graça, mas acabou se convencendo de que seria a melhor opção para os cofres do clube. Pelo rendimento em campo, Ederson não estava dando retorno.Em 2011, o presidente do clube, Claudio Lotito, conseguira finalmente contratar aquele jogador do Lyon que vinha acompanhando desde os tempos do Nice. E o meia chegou com o rótulo de ser o novo "Totti do Lazio", o camisa 10 que os alvicelestes sempre invejaram ao rival da capital. Só que o meia não conseguiu corresponder às elevadas expectativas, isso graças às várias lesões nos joelhos e na coxa esquerda. 

Segundo repórteres ouvidos pela reportagem, profissionais que acompanham diariamente o clube, o brasileiro era visitante assíduo de uma clínica romana para realizar tratamentos médicos. Mais do que isso, por vezes era até encoberto pela esposa, que, segundo esses mesmos jornalistas, dizia ser ela o paciente em tratamento, não o marido. O objetivo seria impedir mais repercussão negativa em torno das várias lesões do jogador, porque o assunto havia virado gozação em Roma.

Ederson e Patrizia travaram algumas batalhas com a imprensa e torcedores que inundavam as redes sociais de comentários polêmicos por conta das várias lesões contraídas pelo jogador. O ápice foi em janeiro deste ano, quando o brasileiro recusou a transferência para o Sampdoria. O Lazio receberia o atacante Bergessio em troca, mas o negócio morreu na última hora. A torcida se revoltou e acusou Ederson de se "agarrar ao seu salário milionário no clube romano, mas sem fazer por merecer."

A esposa defendeu o marido nas redes sociais com um enorme post – escrito em italiano e depois compartilhado pelo próprio jogador – em que acusava os críticos de não saberem "o que é crescer na miséria, falta de comida na mesa, dormir em casa de lata com pavimento de terra (…) e ter de dormir em bancos do vestiário sem ter dinheiro para pegar ônibus de volta para casa." Era uma alusão às dificuldades que Ederson teria passado na sua infância em Parapuã, no interior de São Paulo.

O post repercutiu em todo a Itália. Positivamente. Torcedores entrevistados pela reportagem lembram de Ederson e Patrizia como duas pessoas "sempre muito gentis e educadas". Repórter do site "Lazialita.com", Valerio Cassetta diz que o ex-Lazio "sempre se destacou pela sua humanidade e simplicidade" – em sua despedida, o brasileiro fez uma postagem em rede social para agradecer, em tom emocionado, os momentos que teve no clube italiano.

Ederson não era o cara de chegar de carrão aos treinos. Em Roma, nunca exibiu modelos como Ferraris por Roma - dirigia um Fiat 500. Na memória de alguns jornalistas, além das celebrações dos gols imitando uma águia, símbolo do clube, ficou guardado um episódio numa clínica de Roma com uma fã. 

– Lembro perfeitamente que, no começo da temporada passada, ele e todos os jogadores passaram por testes médicos na clínica, e ele viu uma menina numa cadeira de rodas aguardando para tirar uma foto com ele. Ederson ficou tocado. No dia seguinte, voltou ao local só para oferecer a sua camisa a essa menina. Ele é mesmo assim, uma pessoa muito humana. Sempre foi muito disponível com todos e demonstrou ser uma pessoa inteligente dentro e fora do gramado – afirma Cassetta.

Nem meia nem atacante 
 
Em Lyon, onde Ederson jogou entre 2008 e 2012, a impressão deixada é semelhante. Embora tenha atuado com mais regularidade pelo time francês do que no Lazio, os jornalistas lembram dele como alguém de quem se "esperava muito mais". Correspondente do jornal "L'Equipe" em Lyon, Vincent Duluc ressalta que a transferência para o time romano aconteceu apenas no fim do contrato, sendo que o Lyon não ganhou nada com o negócio. 

Ederson Lyon troféu Copa da França (Foto: Arquivo Pessoal)– Se ele fosse realmente bom, teria sido vendido antes do fim do contrato, e o Lyon teria ganho dinheiro com a sua saída. Ele saiu de graça, no fim do vínculo – criticou o repórter.

Duluc, que acompanha há vários anos o dia a dia do clube francês, descreve Ederson como um "grande companheiro de equipe", "amado por todos", "uma pessoa muito gentil e educada", mas diz que o brasileiro foi superestimado.

– Ederson fez grandes coisas no Nice, é verdade, mas quando chegou a Lyon todo mundo falava que ele seria o novo Juninho, só que nunca foi um jogador muito importante para time. Nunca se impôs. Lembro que estava sempre machucado, tinha uma musculatura frágil. Não dava para entender direito se era um atacante ou um meia. Não marcava muitos gols e não dava sequer muitas assistências. Seus números não eram muito empolgantes. Ederson era como um 14º, 15º jogador do time.

Naquela época, o Lyon jogava em um 4-3-3, sem um camisa 10 clássico, e Ederson atuava mais pelas alas. No Lazio, o brasileiro também não teve tantas chances para se apresentar como o armador do time. Alternou de posição várias vezes. Só no Nice é que foi sempre um 10 clássico e, curiosamente, alcançou os seus melhores números: 91 jogos em quatro temporadas e 16 gols marcados. No Flamengo, a esperança da torcida é que ele reencontre o futebol naquela que é a sua posição de origem.

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