Há 17 meses à frente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva,
Flávio Zveiter revive, com o rebaixamento da Portuguesa, o tapetão que
já deixou marcas na família. Em 2005, seu pai, Luiz Zveiter, anulou 11
jogos do Brasileirão, para alegria do campeão Corinthians, e tristeza do
Internacional, que, pelos resultados originais, teria sido o vencedor.
Dessa vez, Flávio, de 32 anos, vê a Justiça comum puxando o tapete do
seu tribunal. E acredita que, por trás das ações, há o interesse de quem
quer se promover politicamente em ano de eleição.
A Justiça desportiva e o Estatuto do Torcedor se contradizem?
Não
há esse conflito. Tanto que o Estatuto do Torcedor é de 2009, e nunca
se discutiu isso. Em vez de se discutir quem autorizou a escalação de um
atleta irregular, estão querendo colocar a responsabilidade no STJD e
na CBF.
Pelo Estatuto, a CBF não tinha que ter informado no site que o Héverton estava suspenso?
Somente
para o torcedor saber o que foi julgado, mas jamais para o controle da
penalidade. As decisões da Justiça desportiva têm que ser controladas
pelo clube, assim como eu controlo meu escritório quando um cliente meu
me passa uma procuração.
O STJD corre o risco de extinção?
Não
acredito. Alguns defendem o fim da Justiça desportiva. Dizem que o
tribunal atrapalha o campeonato. Mas, se houvesse um tribunal de penas,
nem defesa o clube teria. No tribunal de penas, não há defesa.
Identificada a infração, aplica-se a pena. A Portuguesa escalou atleta
irregular? Perde ponto.
Com essas ações questionando a
decisão do STJD, não acha que o tribunal desportivo será desmoralizado
pela Justiça comum, soberana?
Qualquer liminar vai ser
cassada em segunda instância. Tenho certeza de que a decisão do tribunal
foi correta. Se a Justiça comum puder rever o mérito da desportiva,
estará permitindo que se questione qualquer coisa. Imagina se o torcedor
começa a pedir liminar para anular partidas por causa de erro de
árbitro. Se você levar para o judiciário, o Campeonato acaba. Uma ação
na Justiça, no Rio, leva cinco anos. Em São Paulo, leva dez. A Justiça
desportiva foi criada por isso.
O STJD sai fortalecido ou enfraquecido?
Na
minha visão, fortalecido. As regras não foram criadas no meio do
caminho. Se os outros clubes tivessem escalado atletas irregulares,
talvez o Campeonato tivesse outro resultado.
Mas, se a CBF decidir fazer um Campeonato com 24 clubes, o STJD não fica mal?
Como
fazer um Campeonato com 24 clubes dentro de uma tabela limitada de
tempo? Se a CBF ceder a isso, qualquer clube vai entrar com uma ação e
conseguir uma liminar. A CBF tem que cumprir a lei. O torcedor que se
sente prejudicado tem que questionar o clube dele, a Portuguesa. Por que
escalou um atleta irregular? Estão colocando a Portuguesa como uma
“tadinha”, mas não tem bobo, não tem santo nessa história. O futebol
movimenta milhões de reais. Não tem ingênuo. Houve a escalação de um
jogador irregular. Um clube que disputa o maior campeonato do mundo, com
milhares de cifras envolvidas, não pode ter amadorismo ou
irresponsabilidade.
Acredita em alguma teoria da conspiração?
Acredito que houve um erro. Não estou aqui para ficar levantando ou aceitando teorias.
Qual é a sua opinião em relação a essas ações ?
Ninguém
está preocupado com a Portuguesa. A gente está num momento político,
com eleição na CBF. Então, existe algo por trás. E estamos em ano de
Copa do Mundo.
Acha que a eleição na CBF tem influência?
Não
sei o que está por trás disso. É ano de eleição também fora do futebol.
Se houver questionamentos na Justiça, com decisões conflitantes, quem
se beneficia? Não sei. Sei quem sai prejudicado: clubes e torcedores.
Está convicto também de que a decisão em relação ao jogo Atlético-PR x Vasco foi correta?
Se
o entendimento do Vasco era de que não poderia transcorrer a partida,
ele não poderia ter voltado para jogar. Podia dizer que os jogadores não
tinham condições psicológicas. O Vasco volta, perde de 5 a 1 e quer que
a partida seja anulada e que os pontos sejam invertidos em função dele?
Se o Tribunal dá uma decisão dessas, estaria virando a mesa.
Fez algum inimigo nos últimos dias?
Declarado, não (risos).
Sofreu ameaça?
Não.
Mas passei a andar um pouquinho mais atento durante o momento da
confusão. Agora, não. Ando sem segurança. Mandaram vários e-mails
ameaçando o Paulo Schmitt. A maioria, de torcedor vascaíno.
Sua vida mudou depois disso?
A
vida continua a mesma. Acordo, venho trabalhar, vou à noite pra casa,
fico um pouco com minha filha de 1 ano e 7 meses e durmo.
Essa
polêmica promete ser maior do que a de 2005, quando seu pai, Luiz
Zveiter, então presidente do STJD, anulou 11 jogos do Brasileirão?
Em
2005, eu não fazia parte do Pleno. Eu era de primeira instância.
Existia a gravação de um árbitro (Edílson Pereira de Carvalho) que
tentou ou manipulou algumas partidas.
Então, a polêmica de 2005 não te atingiu?
Por
causa do meu sobrenome, se vou ao Sul, o pessoal do Inter reclama até
hoje, achando que o tribunal trabalhou para beneficiar o Corinthians,
que foi o vencedor. Colocam a responsabilidade no presidente, mas na
verdade oito votos decidiram.
Conversou com seu pai sobre o novo episódio?
Pouco. Ele não acompanhou de perto.
Qual é o seu time?
Botafogo, apesar de a imprensa ter dito que eu era Fluminense (risos).
E se o Botafogo fosse a Portuguesa?
Não mudaria nada. Auditores vascaínos votaram contra o vasco. Isso não influencia.
O STJD é custeado pela CBF?
A
lei prevê isso. Está na Lei Pelé. Todos os tribunais de Justiça
desportiva são custeados pela CBF ou pelas Federações. E o código prevê
que, se não custear, o presidente da entidade pode ser punido.
O presidente do STJD é remunerado?
Não.
Nenhum auditor é. O que a CBF paga é a passagem dos auditores que são
de fora do Rio, um jantar após a sessão e, eventualmente, um
deslocamento. Paga também o aluguel da sede do tribunal, papel,
funcionários.
Por que a CBF não foi denunciada no jogo Atlético-PR x vasco?
A
CBF acabou de ser denunciada pelo Paulo Schmitt por não ter encaminhado
uma súmula no prazo correto. Quem organiza o Campeonato é a CBF, que
delega às Federações a realização das partidas. Quem organizou aquela
partida em Joinville foi a Federação local, junto à Paranaense. E ambas
foram denunciadas. O Paulo entendeu que não era caso de denunciar a CBF.
O procurador-geral Paulo Schmitt aceitou um convite da CBF para assistir a um jogo da seleção em Boston. Não é antiético?
Eu
também fui convidado e optei por não ir. Não tinha tempo e não queria
levantar nenhum tipo de arguição. Mas se tivesse ido, não influenciaria
em nada os julgamentos que tenho. O Paulo Smith foi, mas acabou de
denunciar a CBF. Então, ele se sente confortável. Por conhecê-lo, tenho
certeza absoluta de que isso não influencia em nada na sua conduta à
frente da procuradoria. Mas, certamente, permite a discussão.
Ele pediu autorização para ir?
Ele,
que foi convidado, é que devia decidir se ia ou não. Eu não fui porque
achei que não deveria ir, para que não houvesse esse tipo de discussão.
Para quem não o conhece, acaba questionando. Para mim, é fácil falar.
Ele é sério e preza a legalidade.
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