terça-feira, 5 de junho de 2012

Especial finanças dos clubes: Mais ricos e mais risco


Os clubes brasileiros continuam batendo recordes de arrecadação. Num país em que a economia evoluiu 2,7% em 2010, o faturamento dos 14 principais clubes do Brasil cresceu dez vezes mais rapidamente: 27%. A arrecadação operacional desse grupo de elite formado pelos maiores clubes de Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo bateu nos R$ 2 bilhões, segundo análise da empresa de auditoria Mazars.

Em 2008, apenas cinco clubes haviam arrecadado mais de R$ 100 milhões. Em 2009, já eram sete. O Santos em 2010 e o Vasco em 2011 se juntaram a esse grupo. E o Atlético-MG deve chegar lá em 2012. Já há dois clubes que passaram a barreira dos R$ 200 milhões, e neste ano, o Corinthians deve passar a dos R$ 300 milhões.

Apesar de haver uma tendência geral, os clubes evoluíram de modos muito diferentes. Nos últimos anos, o Santos é o clube que mais cresceu em receitas operacionais. Em 2008, o Peixe estava em nono lugar, R$ 1 milhão a menos do que o Fluminense. Meros três anos depois, chegou ao terceiro posto, com mais de R$ 108 milhões de vantagem sobre o Tricolor carioca, que é 11º agora.

O Corinthians também cresceu muito. Foi do quinto para o primeiro lugar, crescendo mais de R$ 100 milhões a mais do que o rival São Paulo no período.

Outra novidade é a ultrapassagem feita pelos clubes do Paraná, Atlético e Coritiba, sobre o Botafogo. O Alvinegro carioca, agora, é o 14º clube do Brasil, pelo menos em dinheiro. Quando se mede a velocidade do crescimento das receitas, a evolução das dívidas, e os encargos financeiros, pode-se projetar que a diferença ao menos no curto prazo deve aumentar. Todavia, deve-se destacar que parte das receitas do clube estão colocadas na Companhia Botafogo, criada na gestão Bebeto de Freitas.

Se as receitas cresceram as despesas subiram ainda mais. Na soma desde 2008, somente três clubes, Corinthians, São Paulo e Flamengo conseguiram mais dinheiro do que gastaram.



Situação deve piorar

O auditor Carlos Aragaki vê maiores motivos para preocupação do que para comemorar na situação econômica dos clubes.

Segundo Aragaki, os clubes anularam o aumento de receitas verificado em 2011 com uma subida de despesas ainda maior.

Para piorar, para os próximos anos, o cenário não anima.

O maior contrato que os clubes possuem, o dos direitos de TV do Brasileiro, está firmado até 2015.

A receita com venda de jogadores tampouco promete muito, porém grande medida pela crise que atinge a Europa, onde estão localizados os clubes mais ricos do mundo. Além disso, a produção de atletas de preço excepcional, como Neymar e Paulo Henrique Ganso, também é excepcional.

Além disso, até 2013, as rendas de bilheterias sofrerão impacto do fato de que os estádios da Copa ainda não estarão prontos.

Balanços são diferentes

Uma das dificuldades de avaliar a situação financeira dos clubes é que cada um utiliza seu próprio critério diferente para fazer seus balanços. Em 2004, foi baixada uma portaria estabelecendo parâmetros, que são insuficientes. Por exemplo, o Flamengo neste ano, colocou zero como provisão de contingência.

Há alguns casos em que a mudança de governo no clube provoca um “salto“ nas contas. Em 2008, Roberto Dinamite assumiu a presidência do Vasco e mandou refazer o balanço, e a dívida do clube deu um salto de R$ 160 milhões.

Em 2010, a direção do Palmeiras registrou uma queda de patrimônio de R$ 30 milhões porque o clube estava em obras e isso foi registrado como prejuízo.

Neste ano, a diretoria do Botafogo atualizou a dívida com a Receita Federal, fazendo seu resultado passar dos R$ 155 milhões negativos.

Endividamento dos clubes faz pagamento de juros crescer a jato

Os principais clubes brasileiros gastaram mais do que um estádio de Copa (R$ 550 milhões) apenas em juros bancários nos últimos quatro anos e encargos de dívidas fiscais. As dívidas bancárias crescem e os juros estão corroendo sua capacidade de investimento.

Em 2011, a conta financeira respondeu por mais da metade do déficit global dos 14 maiores clubes do Brasil. Sem incluir o pagamento de juros, os clubes gastaram R$ 144 milhões a mais do que arrecadaram. O gasto com juros foi de R$ 185 milhões.

O Corinthians foi em 2011 o clube que mais pagou juros no país. Despendeu expressivos R$ 36,1 milhões, a mais alta soma paga por um clube brasileiro numa temporada desde que a publicação de balanços passou a ser obrigatória em 2002. Bateu o recorde de R$ 33,6 milhões, pagos pelo Palmeiras em 2010.

Se foi o maior pagador em 2011, o Corinthians fica atrás do próprio Palmeiras (R$ 84,6 milhões) e do Flamengo (R$ 104,7 milhões) no acumulado dos últimos quatro anos.

– Os clubes estão pegando muito empréstimo em banco. Fazem isso para equilibrar o caixa, mas depois isso acaba saindo muito caro – afirma o ex-presidente do Palmeiras Luiz Gonzaga Belluzzo, que renegociou grande parte da dívida do clube em sua gestão.

Em três anos, de 2008 a 2011, a conta financeira dos clubes de futebol cresceu 95%, numa taxa média de 25% ao ano. Nesse ritmo, os clubes estarão pagando mais de R$ 1 bilhão (dois estádios) de juros em 2014.

A exceção nesse rebanho de ovelhas desgarradas é o Atlético-PR. Em 2011, obteve uma receita financeira de R$ 1,7 milhão, já descontado o pagamento de juros. Do ponto de vista esportivo, não foi de grande ajuda, já que o Furacão foi rebaixado para a Série B.


Conheça como foram analisados os balanços

A publicação pelo LANCENET! da análise da Mazars é a sequência do trabalho iniciado em 2003, com a Casual Auditores, um ano depois de baixada a lei que obrigou os clubes a publicarem balanços.

Foram consideradas como operacionais todas as receitas e despesas apresentadas nos balanços, exceto as de caráter financeiro (nem todos os clubes discriminaram despesas e receitas financeiras, apresentando só o resultado).

Desde a promulgação da lei 11.638/2007, aplicável para todos os balanços, não existem despesas não-operacionais.

O fundador da Casual e hoje sócio da Mazars, Carlos Aragaki, e o time de especialistas em contabilidade e auditoria de clubes de futebol (ex-Parker Randall) uniram-se à Mazars em setembro de 2011.

Aragaki, trabalha na área desde 1998, quando foi contratado pela Hicks Muse, parceira do Corinthians. Aragaki também foi membro do grupo de estudos do Conselho Federal de Contabilidade que criou a resolução 1005/2004, que criou parâmetros para contabilidade de entidades esportivas.

A Mazars é a sexta maior empresa de auditoria no Brasil, segundo a revista britânica "International Accounting Bulletin".



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