domingo, 30 de agosto de 2009

Presidente executivo da Traffic diz que daria lucro aos grandes

Um dos mais bem sucedidos empresários do futebol brasileiro, Júlio Mariz se volta para novos desafios. Agora, a Traffic trabalha na multiplicação dos centros de treinamentos e administração de clubes, venda de jogadores talentosos, patrocínios de camisa, direitos de competições, e principalmente de arenas para a Copa de 2014. O presidente executivo argumenta que com um bom planejamento dá para tirar o Flamengo, entre outros, do buraco. Ele revela que ter Ronaldo é o sonho mais ambicioso. E Diego Souza, da parceria com o Palmeiras, a realidade mais promissora, motivo até de cobrança em casa.

Marcelo Damato: Como foi que você iniciou no “negócio futebol”?

Após muitos anos trabalhando com hotelaria e turismo, eu fui atender a Coca-Cola. Ela era patrocinadora da CBF e cliente da Traffic. Em 1998, coordenei a área de treinamento e imprensa do Brasil na Copa do Mundo, na França. Um ano depois, fiz um projeto com o jornal “Extra" do Estadual do Rio, no qual o torcedor comprava o ingresso e ganhava a edição. Isso desembocou na Globo, que queria revitalizar os regionais. Ela estava montando na época o Globo Esporte.

Mas eu já trabalhava no Mundial de Clubes pela Traffic, era o diretor executivo (em 2000).

Alessandro da Mata: Qual sua versão para a competição?

Ela foi prêmio de consolação, por que a gente não emplacou a Copa do Mundo de 2006. Eu coordenei o projeto, mas sabia que não levaria. Segui três anos na Globo. Quando a Hicks Muse comprou a Traffic, a Inter Forever veio para o Brasil. Fui para o exterior, vendi direitos de imagem da Concacaf por quatro anos. Montei estrutura de transmissão de Santa Lúcia x México, em estádio para 2 mil pessoas e sem energia elétrica. Organizei o jogo do Brasil no Haiti. E parti para “fazer futebol” no Miami FC. Mas não compravam nossos atletas. Tinham de graça na universidade.

Luiz Fernando Cardoso: Como a empresa começou ?

O J. Hawilla comprou uma empresa que vendia placas de comunicação em ônibus. Ele não tem medo de arriscar e logo obteve os direitos mais importantes do futebol. Quando vieram a Hicks Muse (ex-parceira de Corinthians e Cruzeiro), ISL (de Grêmio e Flamengo) e Bank of América (Vasco), a Traffic se deu bem. A meta da Hicks, que tinha o canal Panamerica Sports Network, era vender direitos de futebol da América Latina para o mundo todo. Os recursos caíram na Traffic, e foram bem aproveitados pelo Hawilla. O Cruzeiro fez a Toca da Raposa e se destacou.

Marcelo Damato: Mas por que entrar nas negociações de jogadores, com o Desportivo Brasil, quando todos reclamam da Lei Pelé?

A fórmula é: em cada dez vinga um jogador. Cara forte. E é sorte valer 1, 2 ou 5 milhões (de euros). E vale jogadores para vender. Mas os clubes não usam e perdem jovens valores. Qual deles têm portfólio da base? Pedem (no exterior) relatórios com a evolução dos atletas.

Marcelo Damato: O que a Academia Traffic de Futebol oferece de diferente para os novos talentos?

Temos campos excelentes. A alimentação evita deficiência de potássio e consequentemente lesões. Um psicólogo dá atendimento em grupo e individual. Os atletas levam multas por não fazer a cama. Tem cinema, mas sem filmes agressivos. E damos explicações sobre contratos, direito desportivo e área financeira. Após 16 anos, os garotos ganham até R$ 3 mil no Desportivo. Na Segundona (Quarta Divisão de SP) os salários chegam a R$ 6 mil, está na média do torneio.

Marcelo Damato: Vocês pretendem ter mais centros esportivos?

Temos o do Desportivo Brasil em Porto Feliz (São Paulo), uma parceria com o PSTC em Londrina (Paraná) e com o Nova Iguaçu (Rio). Queremos um em Brasília e outro no Nordeste. E negociamos com o RS Futebol Clube (Rio Grande do Sul).

Alessandro da Mata: Por que após 17 meses a Traffic deixou o Ituano?

Queremos jogar o Paulista da Série A1. Colocamos lá jogadores de qualidade, sem espaço em outros clubes. Caras com mercado. Arrendamos o Estoril (POR), com direito de compra, para servir de vitrine. Pensávamos em fundir o Ituano com o Desportivo Brasil. Seria o nosso time profissional. Mas as questões políticas não permitiram.

Luiz Fernando Cardoso: Faz parte da estratégia da Traffic acompanhar investidores como o Sonda?

Sinceramente não, por que não se trata de Coca-Cola e Pepsi. Não sei nem dizer ao certo quais são os jogadores que eles têm participação.

Marcelo Damato: Qual sua opinião sobre o movimento de mudança do calendário e maior responsabilidade fiscal dos clubes?

Se botar que não estou sendo arrogante, digo: pode me trazer os 10 maiores clubes que fazemos dar lucro. Aliás, qualquer homem de negócio. Os clubes faturam mais de R$ 100 milhões por ano. Mas nunca deram solução às dívidas. Com orçamento e folha de R$ 1,3 milhão por mês se faz um bom time. Imagine com R$ 5 milhões. É que tem muita contratação errada. E os dirigentes não são cobrados por isso.

Alessandro da Mata: Mas vocês já conversaram sobre o calendário com CBF, Globo e Conmebol?

A CBF já se manifestou interessada na mudança. Na Conmebol é a tendência natural. Libertadores e Sul-Americana podem se cruzar, serem disputadas nas mesmas datas, em um ano. É preciso um líder na América do Sul, e o (Luiz Gonzaga) Belluzzo pode ser o cara. Tem que falar com o presidente do Boca, do Colo Colo e entregar a proposta.

Marcelo Damato: Você vê a Globo com excesso de poder no futebol?

Acho que não. A Globo é o maior cliente do futebol brasileiro e tem poder compatível com esse status.

Luiz Fernando Cardoso: Um dos motivos para os clubes terem chegado às dívidas atuais é a falta de profissionalismo. Qual dirigente você considera mais apaixonado?

O Kléber Leite. Não que seja um inconsequente. Mas quando cisma de contratar um jogador, ele fica 24 horas sem dormir só para concluir algo para o Flamengo.

Alessandro da Mata: Vocês encontraram muitas barreiras para fundos de investimento de atletas?

O segundo fundo não veio por conta da crise financeira. Se os investidores perdessem dinheiro, ficariam sem saber se o negócio é ruim. Na nossa sociedade anônima há resgates de seis em seis meses, na medida em que se negocia um jogador. Lucro mesmo em dois ou três anos, quando vende todos.

Alessandro da Mata: Até que ponto os contratos de gaveta inibem aportes de investidores?

Vamos falar do caso do David. O contrato com o Palmeiras previa a preservação do vínculo do jogador por um período x. O prejuízo é só dele, pois tiveram que nos pagar. Agora, todo negócio tem risco. Os bons contratos evitam erros.

Marcelo Damato: Em que a Traffic investirá nos próximos anos?

Em projetos de recuperação do futebol nas cidades em que desapareceu. Em Cuiabá, de vez emquando um time se dá bem na Copa do Brasil. Mas lá raramente sai bom jogador. O Operário chegou até ao Brasileiro da Série A. Por que o Barueri pode e um time de Cuiabá não? Quando chega à 1ª divisão, o público prestigia. Todos ganham.

Alessandro da Mata: Patrocínio em uniforme não atrai a Traffic?

Sim. A Parmalat deu o start e outras empresas entraram. Tentamos vender patrocínio de camisa para Corinthians e Flamengo juntos. Isso antes de o primeiro fechar com a Batavo, mas bateu na trave. Não posso dizer o nome da empresa.

Alessandro da Mata: E qual será o filão da Copa do Mundo de 2014?

A grande oportunidade são as arenas. Teremos 15 estádios modernos para a venda de direitos comerciais e a administração de camarotes, lojas e restaurantes. Queremos ao menos três. As arenas do Palmeiras e do Grêmio serão excelentes.

Nota da redação: A Traffic contratou Mauro Holzmann, que elaborou o projeto Kyocera Arena. Agora ele busca uma empresa disposta a pagar e dar nome à Arena Palestra Itália. Os novos estádios de Palmeiras e Grêmio não servirão à Copa do Mundo, mas poderão atender aos treinos de seleções e jogos da Copa das Confederações, em 2013.

Marcelo Damato: A Traffic enfrentaria problemas ao administrar um estádio para o Corinthians?

Se viessem aqui, eu diria que não queremos. É incompatível pelo contrato que temos atualmente com o Palmeiras.

Luiz Fernando Cardoso: Como a Traffic se dá com o Fluminense?

Fizemos um negócio e imaginaram uma parceria. Encontrei o (Roberto) Horcades, que me pediu para comprar o Conca. Ele não estava no perfil, mas o presidente insistiu. Fomos ao River Plate (ARG) e repassamos o meia ao clube. Ficamos com 80% do Maicon, Tartá e outros.

Marcelo Damato: E o acordo com o Manchester United (ING)?

O do Manchester é exclusivo. Quando descobrem um jogador no Brasil, nossa tarefa é desenvolvê-lo. Eles têm a opção de compra com um preço definido e os jogadores fazem dois períodos por ano de treino com eles. Quando o jogador é de outro time, como o Dodô, do Corinthians, ele fica no próprio clube e não conosco.

Alessandro da Mata: Como será vendida a Copa do Brasil feminina?

Veremos se o Santos tem os direitos de imagem da Marta. Sem números, é difícil de convencer uma empresa a botar dinheiro no futebol feminino. Mas será encarado como evento, pois não se compara com o jogo masculino. Vamos pegar as fases finais e levar para o interior de São Paulo, em Jundiaí, Sorocaba e Avaré.

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