segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Desconstruindo o “esquadrão” do Flamengo campeão brasileiro de 1987

Ao assumir o Flamengo com treinador efetivo sucedendo Antônio Lopes após várias experiências com interino, o técnico Carlinhos achou a formação ideal do time rubro-negro logo em sua estréia, na segunda rodada da Copa União 1987. Os mesmos onze titulares que levantariam a taça meses depois. Mas se possuía jogadores que serviram e serviriam à seleção de forma relevante e hoje pode ser visto como um timaço, a equipe rubro-negra tinha problemas e limitações no elenco que acabaram ofuscados pela brilhante conquista.

Na vitória de 2 a 1 sobre o vasco, o treinador do Fla, conhecedor das divisões de base do clube, trouxe para a equipe titular Leonardo, então com 17 anos, e Ailton e Zinho, dois jovens que haviam aparecido no ano anterior e não tiveram chances com Lopes. A idéia era mesclar a experiência de Leandro, Edinho, Andrade, Zico e Renato Gaúcho (ainda jovem, mas já campeão mundial interclubes e com passagens pela seleção principal) com a juventude de Zé Carlos, Jorginho, Leonardo, Ailton, Zinho e Bebeto.

Taticamente, a equipe atuava num 4-3-1-2, com Zico jogando solto e municiando a dupla de ataque. No meio, Ailton e Zinho corriam e marcavam por Andrade, que jogava na sobra, pegando a bola limpa. Na defesa, Jorginho tinha mais liberdade que Leonardo para apoiar.

Apesar do esquema bem pensado, o time tinha pontos críticos: a zaga já se mostrava envelhecida e tinha sérios problemas contra ataques mais velozes. Leonardo revelava a imaturidade e a ansiedade naturais para a sua idade e já mostrava as deficiências defensivas que o acompanhariam ao longo da carreira. Isso fazia com que Andrade ficasse mais plantado na cobertura. Como Aílton e Zinho não tinham “cancha” para ditar o ritmo no meio, a criatividade ficava toda por conta de um Zico que lutava contra os problemas crônicos no joelho e não conseguia ter uma sequência de jogos.

E pior: não tinha um substituto à altura. Sempre que o Galinho não atuava, Carlinhos apelava para Flávio, um volante lento e sem criatividade, ou utilizava o centroavante Kita (ex-Internacional de Limeira), mudando o esquema para um 4-3-3. À frente, Renato Gaúcho, em grande forma física e técnica, era o mais regular da equipe, até pela liberdade que tinha em campo.

Mas a movimentação do atacante atrapalhava Bebeto, seu parceiro na frente, que também era um jogador que gostava de circular, mas neste sistema precisava ficar mais fixo na área. No banco, Aldair e Zé Carlos II eram boas opções para a zaga, mas do meio para frente, Henágio, Vandick e Kita não mantinham o nível dos titulares.

Sem Zico, Leandro e Edinho na maioria das partidas do primeiro turno, o time teve uma campanha fraca, com apenas duas vitórias, três empates e três derrotas. No segundo turno, ainda sem o Galinho, a equipe venceu o Bota (1 a 0), empatou com o Grêmio (1 a 1) e perdeu para o Atlético-MG por 1 a 0 no Mineirão. Com a volta do camisa 10, a equipe embalou, venceu Palmeiras, Bahia e Santa Cruz (com atuação de gala de Zico, marcando três gols), empatou no Pacaembu contra o Corinthians e conseguiu a vaga na semifinal por conta do regulamento esdrúxulo. A lógica sugeria que o Galo, invicto e melhor equipe do grupo nos dois turnos, deveria se classificar diretamente para a final. Ou então o Grêmio, segundo melhor na colocação geral.

Coube ao Fla, segundo colocado no returno, acabar com a invencibilidade da equipe de Telê Santana com um gol de Bebeto no Maracanã. Partida na qual a torcida jogou mais do que o time e Zé Carlos garantiu atrás. Depois eliminar o time mineiro em Belo Horizonte numa partida épica, em que Renato Gaúcho, desafeto do treinador da equipe mineira, conseguiu o gol da vitória por 3 a 2 quando a derrota parecia certa. Novamente a equipe sentiu a ausência de Zico, que fez um gol e comandou a equipe no primeiro tempo e saiu para a entrada de Flávio, com o placar em 2 a 1, e assistiu do banco o sufoco e a redenção final.

Na decisão, contra um Inter limitado, mas guerreiro, o time de Carlinhos voltou a ter problemas na defesa e na armação. Mas a jogada de linha de fundo de Renato para Bebeto novamente deu certo no Beira-Rio, no empate em 1 a 1 (Amarildo marcou para o Colorado). No Maracanã, mesmo com o campo pesado, a equipe conseguiu tocar a bola de pé em pé até que ela chegasse a Bebeto, artilheiro da equipe nas finais, que tocou na saída de Taffarel. Era a consagração de um time que superou suas limitações e conseguiu um título inimaginável na época.

Zico e Leandro foram craques consagrados e encantaram o mundo na Copa de 82, Edinho foi o capitão em 86, no México, Andrade foi campeão mundial no Fla e serviu à Seleção algumas vezes, Renato Gaúcho foi o craque das Eliminatórias de 85, Zé Carlos foi à Copa de 90, Jorginho, Leonardo, Zinho e Bebeto foram tetracampeões mundias e Aílton ganhou vários títulos ao longo de sua carreira.

Mas naquela Copa União eles formaram uma equipe irregular e com sérias fragilidades, que cresceu no momento certo e garantiu o tetracampeonato que a CBF agora reconhece, dividindo o título com o Sport.


O time de Carlinhos: 4-3-1-2 com Andrade plantado à frente da zaga, Zico solto na criação se juntando a Renato Gaúcho e Bebeto. Um time irregular, mas talentoso e que cresceu no momento certo da Copa União 1987.

Campanha do Mengão até o título:

Fase de grupos – 1º turno
Flamengo 0×2 São Paulo – Muller (2);
Flamengo 2×1 vasco – Bebeto e Zico; Roberto Dinamite;
Santos 0×0 Flamengo;
Internacional 2×0 Flamengo – Heider e Luis Fernando;
Flamengo 0×1 Fluminense – Washington;
Flamengo 3×1 Coritiba – Kita (2), Wagner (contra); Marildo;
Goiás 1×1 Flamengo – Formiga; Zinho;
Flamengo 0×0 Cruzeiro;

Campanha: 8 jogos, 2 vitórias, 3 empates e 3 derrotas. 6 gols pró, 8 gols contra.
Colocação:

2º turno
Flamengo 1×0 Botafogo – Jorginho;
Flamengo 1×1 Grêmio – Andrade; Jorge Veras;
Atlético-MG 1×0 Flamengo – Renato;
Flamengo 2×0 Palmeiras – Renato e Aílton;
Bahia 0×2 Flamengo – Zinho e Bebeto;
Corinthians 1×1 Flamengo – Marcos Roberto; Aílton;
Flamengo 3×1 Santa Cruz – Zico (3); Cardim.

Campanha: 7 jogos, 4 vitórias, 2 empates, 1 derrota. 10 gols pró, 4 gols contra.
Colocação:

Semifinal
Flamengo 1×0 Atlético-MG – Bebeto;
Atlético-MG 2×3 Flamengo – Zico, Bebeto e Renato; Chiquinho e Sérgio Araújo;

Decisão
Internacional 1×1 Flamengo – Amarildo; Bebeto;
Flamengo 1×0 Internacional – Bebeto

Campanha (totalização): 19 jogos, 9 vitórias, 6 empates, 4 derrotas (63% de aproveitamento). 22 gols pró, 15 gols contra.


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