Implacável na área, ágil fora dela. Quando o Flamengo anunciou a contratação de Deivid, há dois meses, o torcedor rubro-negro vasculhou na memória e encontrou os muitos gols do atacante com as camisas de Corinthians, Santos e Cruzeiro. Um jogador com faro apurado, perfeito para dar fim à escassez que o setor ofensivo vivia. Mas não é bem isso que se vê até o momento. Aos 31 anos, o camisa 99 da Gávea lembra pouco aquele dos tempos de Parque São Jorge. Entre 2001 e 2003, foram 97 jogos e 37 gols pelo Timão. Por lá, foi campeão da Copa do Brasil e do Torneio Rio-São Paulo de 2002. Despontou.
Deivid em duas versões: em 2002, voando pelo Corinthians. Em 2010, em busca da melhor forma física e técnica no Flamengo
Sem qualquer constrangimento, o próprio Deivid reconhece que a fase é outra. No Flamengo, são apenas quatro gols em 13 jogos. Domingo passado, contra o Vasco, deixou o campo vaiado. Por quê? Com fala mansa e serena, o jogador tem a resposta pronta.
- O Deivid de 2001 e 2002 tinha apenas 21, 22 anos. O de 2010 tem 31, a velocidade não é a mesma. Pelo fato de ter jogado cinco anos lá fora (Sporting-POR, entre 2005-2006, e Fenerbahçe-TUR, entre 2006-2010), perdi as características de velocidade, jogava como meia, dificilmente ia para cima do marcador. Sabia que isso aconteceria quando voltasse para o Brasil. Os torcedores gostariam de ver o Deivid de 21 anos, que jogou no Santos, no Cruzeiro, no Corinthians. Estou ciente disso e sei que tenho muito a melhorar, na parte física e na parte técnica. Quando estiver bem, na forma ideal, vou mostrar o que realmente posso. Sei do projeto que tenho dentro do Flamengo – frisou.
Por enquanto, o projeto é ajudar da forma que for possível nas últimas sete rodadas do Campeonato Brasileiro. O Rubro-Negro é o 13º colocado, com 38 pontos, e ainda não eliminou o risco de rebaixamento.
Deivid não se vê mais na condição de titular absoluto. Tratado pelo técnico Vanderlei Luxemburgo como único homem de área do plantel, Val Baiano, que já foi motivo de chacota, passa por fase “xodó”. Os dois, aliás, disputam um lugar no ataque no jogo contra o Corinthians, nesta quarta-feira, no Engenhão, às 22h (de Brasília). Justamente contra o Corinthians.
- É sempre gratificante jogar contra o Corinthians. Tive uma passagem maravilhosa, com muitos gols, títulos, quebrei recordes. Hoje, estou no meu time do coração, que acompanho desde criança. Vou entrar em campo procurando vencer a partida, vou procurar jogar bem, tentar sair vitorioso. As boas recordações e o sentimento são muito grandes pelo Corinthians, que abriu as portas para eu mostrar meu trabalho – lembrou.
Sob o comando de Luxemburgo, Deivid viveu seus melhores momentos no futebol brasileiro. Foram campeões brasileiros, da Copa do Brasil e do Campeonato Mineiro. O treinador do Flamengo afirma que as condições física e técnica do atacante estão bem melhores desde o retorno ao país. Para Luxa, o jogador não mudou a forma de jogar, mas precisa se readaptar ao futebol brasileiro.
- Ele está situado na volta ao futebol brasileiro. Sempre que você repatria um cara, ele chega fora de sintonia. É um jogador que gosto muito, jogou comigo no Cruzeiro, no Santos, foi campeão. Tem de estar muito bem preparado e não ficar saindo para jogar. Tem de ser jogador de finalização, de chegada forte, finalizando em direção ao gol. E ele precisa entrar em forma para isso. Como ficou muito tempo lá fora e nosso treinamento é completamente diferente do de lá, vai se adaptar a uma nova realidade. Até o ritmo de jogo é diferente, os marcadores são diferentes – analisou.
Deivid na visão dos especialistas:
Lédio Carmona, colunista do GLOBOESPORTE.COM e comentarista do SporTV
"Ele não tem a mesma velocidade, o mesmo corpo. Tem mais dificuldades. A idade muda muito, falta explosão. Acho que não veremos o mesmo jogador. Se o Flamengo contratou aquele Deivid, fez errado. O tempo passa. O Deivid do Corinthians era de 2002. São oito anos. É igual ao Pet, que fez aquele golaço (de falta, na final do Carioca de 2001, contra o Vasco). Tem de ter paciência. Ainda há a questão da readaptação. Ele saiu do Brasil há cinco anos, muda muito. Está com o futebol europeu no corpo. Ainda mais sem o condicionamento físico ideal. Acho que ainda vai ser útil ao Flamengo, mas não dá para esperar o que ele era".
Junior, ex-jogador do Flamengo, da Seleção Brasileira e comentarista da TV Globo
"Acho que a idade tem certo peso, além da readaptação depois de muito tempo fora. Sei, por experiência própria, que leva tempo. Mas o Deivid tem ainda muita coisa para dar. O Flamengo vai ver o verdadeiro Deivid no ano que vem. Logicamente não vai voltar a ser o do Corinthians. Ele já apresentou uma melhora, mas falta um mês para o fim do campeonato. Acho difícil ver o melhor dele agora, mas tem muito a dar".
Alex Escobar, apresentador e comentarista da TV Globo
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