segunda-feira, 31 de maio de 2010

Imperador de volta à delegacia

Com viagem marcada para o dia 6 rumo à paradisíaca Sardenha, no Mar Mediterrâneo, onde ficará uma semana de férias antes de se apresentar ao seu novo clube, a Roma, o ex-atacante do Flamengo Adriano tem um compromisso na agenda hoje, às 14h.

O craque foi intimado a dar explicações na 38ª DP (Brás de Pina) sobre supostas transações financeiras com homens ligados à quadrilha de Fabiano Atanásio da Silva, o FB, chefe do tráfico da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. E mais: a Polícia Civil investiga duas fotos em que Imperador posa de atirador e mostra com as mãos o sinal de uma facção criminosa.

Apontado como o mentor da execução do ex-diretor de Bangu 3, José Roberto do Amaral Lourenço, em outubro de 2008, o criminoso FB também comandou o ataque ao Morro dos Macacos, em Vila Isabel, em 17 de outubro de 2009, que resultou na derrubada do helicóptero da PM, matando três policiais.

Será a segunda vez em menos de três meses que o craque é chamado a uma delegacia para esclarecer suas relações com traficantes da favela onde nasceu. Em abril, após denúncia de O DIA, Adriano contratou dois advogados para tentar explicar na 22ª DP (Penha) como uma das duas motos Hornett 600 cilindradas, avaliada em R$ 35 mil, compradas por ele, foi parar em nome da mãe de Paulo Rogério de Souza Paz, o Mica, chefe do tráfico dos morros da Chatuba, Fé, Sereno, Caracol e Caixa D’Água, também na Penha.

Adriano foi convocado pela 38ª DP porque seu nome aparece em inquérito que apura o tráfico de drogas na região, que se transformou numa espécie de quartel-general do Comando Vermelho. O jogador costuma se referir ao local como ‘spa’.

A convocação para depor teria perturbado o atacante. Semana passada, após tomar conhecimento da intimação, o empresário do jogador, Gilmar Rinaldi, confessou à presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, durante reunião na Gávea, que não havia mais como Adriano permanecer no clube, já que uma nova bomba “estava prestes a estourar”.

No inquérito da 22ª DP, o jogador negou ter dado a moto para Mica, a quem admitiu conhecer desde criança e encontrar sempre que visita a comunidade. A mãe do criminoso também falou sobre a relação dos dois, mas disse não saber se o craque famoso havia dado a motocicleta a seu filho, contra quem há oito mandados de prisão, sendo dois por homicídio.

O caso ainda não foi encerrado. Contradições nos depoimentos de Adriano e de um de seus amigos, Marcos José de Oliveira, o Marquinhos — que teria feito a compra na loja da Honda, em Vicente de Carvalho —, fizeram o delegado Jader Amaral pedir prazo maior ao Ministério Público Estadual para concluir o inquérito. Haverá novas diligências, e uma acareação entre Adriano e Marcos não está descartada.

Craque em fotos polêmicas

Na semana passada, fotografias que já circulavam pela cidade pararam nas mãos da Polícia Civil. Na mais impactante delas, Adriano — bem mais magro do que atualmente, indicando que a imagem já foi feita há algum tempo — aparece em posição de atirador. Procurada por O DIA, a assessoria de imprensa do craque informou que a arma na realidade é uma réplica usada para jogos de paintball.


Foto: Reprodução

A fotografia foi tirada na cozinha da casa do jogador, na cidade de Como, vizinha a Milão, na Itália, quando ele atuava na Internazionade. Quem aparece ao lado de Adriano seria outro jogador, também nascido e criado nas favelas da Penha. Assim como Adriano, ele faz pose de atirador. De acordo com a assessoria do atacante, a peça seria parte de um abajur que enfeitava a sala do craque.

Sigla de facção com as mãos

Em uma outra imagem, Adriano aparece rindo ao mostrar com as mãos a sigla ‘C V’, a mesma facção criminosa Comando Vermelho. Segundo a assessoria do jogador, o gesto foi uma brincadeira entre amigos.

O DIA teve acesso às fotografias há dois meses, mas decidiu só publicá-las após tomar conhecimento do novo inquérito e manifestação da cúpula da polícia. Ontem, o chefe do Departamento de Polícia da Capital, delegado Ronaldo Oliveira, afirmou que as fotos serão investigadas. “Isso vindo à tona, imediatamente vou mandar instaurar inquérito policial. Todos os fatos vão ser apurados, principalmente sua relação com traficantes”, disse.


Para Adriano, a sigla CV com as mãos não passa de uma brincadeira | Foto: Reprodução

Grupo derrubou helicóptero da PM

Na madrugada do dia 17 de outubro, traficantes do Comando Vermelho (CV) se reuniram nos complexos do Alemão, da Penha e no Jacarezinho e formaram um ‘bonde’ até o Morro São João, no Engenho Novo. Dali, eles deram início da uma das mais sangrentas batalhas pelo controle de bocas de fumo dos últimos anos.

A invasão ao Morro dos Macacos, em Vila Isabel, fez com que a Polícia Militar tentasse intervir para acabar com o confronto. Já de manhã, quando um helicóptero da PM sobrevoava as comunidades, foi alvejado e começou a pegar fogo. O piloto ainda conseguiu levar a aeronave até a Vila Olímpica do Sampaio, onde se espatifou. Três policiais morreram.

No fim de abril, a 25ª DP (Engenho Novo) concluiu suas investigações sobre o episódio e pediu a prisão preventiva de pelo menos 14 bandidos que teriam participado do ataque. Entre eles FB, Mica, Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, e outros líderes do CV.



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