A tragédia que matou mais de 230 jovens em Santa Maria (RS) não serviu
de alerta apenas para boates ou casas de shows. Eventos esportivos
também reúnem grande público e precisam estar preparados para situações
de emergência. O "SporTV News"
convidou um engenheiro para avaliar um dos locais que tem recebido
constantemente um grande número de torcedores, o ginásio do Tijuca Tênis
Clube, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e o resultado foi alarmante. A
atual casa do Flamengo no Novo Basquete Brasil (NBB) apresentou diversos
problemas, especialmente no sistema de prevenção e combate a incêndio.
As falhas foram constatadas pelo engenheiro de segurança e
vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio
de Janeiro, Jaques Sherique. Ele acompanhou a partida entre Flamengo e
Vila Velha, na última quinta-feira, e percebeu que o ginásio não atende a
exigências básicas como saídas de emergência com sinalização iluminada e
desobstruídas.
- É inaceitável que, num local onde a gente pensa em escoar os
ocupantes, tenha uma porta fechada com cadeado - disse, ao observar a
porta do lado oposto ao da entrada, destacando ainda que ela abria para o
lado de dentro, no sentido contrário do ideal.
Ginásio, que recebe grande público, tem hidrante vazio e portões com cadeados (Foto: Montagem SporTV)
Em três horas de avaliação, o engenheiro apontou uma sucessão de erros, como os hidrantes sem mangueiras de incêndio.
- O hidrante é de enfeite só, não tem nada dentro da caixa. Você tem um
estádio totalmente improvisado na sua utilização, sem nenhum conceito
de prevenção contra incêndio e pânico - considerou.
Apesar da existência de letreiros com a indicação "saída", Sherique
destacou que seria difícil enxergá-los em caso de falta de energia, por
estarem apenas pintados na parede. E mesmo com luminosidade, segundo
ele, fica difícil percebê-los de determinados lugares do ginásio,
principalmente por quem está sentado no alto. Questionado sobre a
possibilidade de deixar o local às pressas, ele deixou claro que essa
seria uma tarefa complicada, sobretudo em dia de casa cheia.
- Você não vê onde são as saídas. É falta de sinalização. Você
provavelmente vai encontrar a rota de fuga, aqueles corredores em frente
às portas, obstruída e vai ter dificuldade de um abandono se o estádio
estiver realmente lotado.
Segundo ele, o ideal seria que o público deixasse o local, em caso de
emergência, em três minutos. Na quinta-feira, quando o ginásio não
chegou à lotação máxima, ele levou quase 10 minutos para esvaziar.
- Observamos que, sem pânico, sem nada, levou nove minutos para as
pessoas saírem do ginásio. Tínhamos menos de mil pessoas. A estimativa
era de apenas 700 e precisou de nove minutos para essas pessoas se
ausentarem. Em caso de pânico, o ideal é que em três minutos, no máximo
cinco, todos possam sair, caso contrário a fumaça e os gases produzidos
no incêndio podem causar intoxicação e óbito.
Presidente do Tijuca defende clube das acusações
Ouvido pelo "SporTV News",
o presidente do Tijuca, Paulo Maciel, disse que o clube vai cumprir as
exigências do Corpo de Bombeiros, mas não informou até quando pretende
solucionar os problemas porque não foi estipulado um prazo.
- O Tijuca é centenário, faltam três anos para completar 100 anos.
Desde aquela época, nunca foi mexido no ginásio, nem no Tijuca. Sempre
tiveram grandes jogos e grandes eventos, com 4 a 5 mil pessoas, e graças
a Deus nunca teve problema. De um ano para cá, a gente vem fazendo
reforma ali e tudo isso está na lista. Temos um projeto no Corpo de
Bombeiros revendo toda esta parte. Eles (Bombeiros) não deram prazo
definido. Como eles viram que a gente estava antecipando e fazendo,
apenas disseram que tinhamos que fazer e a gente está cumprindo. Temos
interesse que seja o mais rápido possível.
O Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro informou por nota que
todo o complexo do Tijuca Tênis Clube, incluindo o ginásio, foi
vistoriado nesta quinta-feira. O clube foi notificado e tem até 30 dias
úteis para apresentar um projeto de segurança contra incêndio e pânico.
Depois deste prazo, as melhorias propostas vão ser avaliadas pela
corporação.
Por nota, Flamengo diz que joga "na confiança"
A diretoria do Flamengo, que manda as partidas do NBB no ginásio do
Tijuca, emitiu uma nota oficial em que sugere desconhecer os problemas
apontados pelo engenheiro: "Com o respaldo da aprovação das ligas,
confederações e federações, há mais de 15 anos, o Clube de Regatas do
Flamengo utiliza o ginásio do Tijuca Tênis Clube. Por isso, o Flamengo
confia que estejam sendo cumpridas todas as normas de segurança exigidas
pelos órgãos responsáveis".