Homem forte do futebol, Wallim Vasconcelos está ausente do dia a dia do
Flamengo. Já são 45 dias sem se pronunciar publicamente sobre os rumos
do clube, 18 deles dedicados a viagem pelo exterior - primeiro a lazer,
depois a trabalho. Desde a apresentação de Mano Menezes, o
vice-presidente compareceu apenas aos jogos contra Coritiba e Vasco. Não
deu declarações publicamente, embora não tenha faltado assunto nesse
período.
Promessas de reforços ainda não cumpridas, demissão de Renato Abreu,
entrada do time na zona de rebaixamento... além da sua ausência em um
momento ruim da equipe. De férias com a família, o vice de futebol ficou
fora em um período crucial. Não participou da reta final da janela de
transferências internacionais, encerrada no último dia 20. A maior parte
da negociação para contratar o lateral-esquerdo André Santos, único
reforço vindo do exterior, foi feita sem a presença dele.
Através da assessoria de imprensa do clube, Wallim informou que durante
todo o período fora do país manteve contato com o diretor executivo
Paulo Pelaipe e que não é necessário estar presente para tomar decisões.
Ele embarcou para os Estados Unidos no dia 15 de julho, um dia depois
de assistir à vitória por 1 a 0 sobre o Vasco, em Brasília. Antes, havia
comparecido ao empate por 2 a 2 com o Coritiba, dia 6 de julho, também
no Mané Garrincha.
A ausência no dia a dia foi sentida pelo elenco. Em conversas
informais, os jogadores são capazes até de identificar a última aparição
do vice de futebol:
- Foi na última vez aqui em Brasília - costumam dizer.
Ao mesmo tempo, boa parte do elenco reserva elogios ao falar dele e o aponta como figura mais próxima da diretoria:
- Ele tem diálogo, sim. É o mais próximo dos jogadores. Nunca fez nada
para que não gostássemos dele - disse um dos jogadores ao
GLOBOESPORTE.COM.
Nesta sexta, Wallim retorna ao Brasil. Volta com o time na zona de
rebaixamento do Brasileirão, em 17º lugar, com poucos reforços e algumas
perguntas para responder, como a solução do caso do meia Renato Abreu,
demitido do clube no dia 17 de junho por decisão dele - mas sem assinar a
rescisão. Também de acordo com a assessoria, o silêncio sobre o assunto
se dá por orientação do departamento jurídico. No entanto, o próprio
presidente Eduardo Bandeira de Mello não se privou de comentar o caso
recentemente.
A última entrevista coletiva de Wallim foi em 17 de junho, na
apresentação de Mano Menezes. Na ocasião, prometeu atender aos anseios
do treinador por reforços de peso para a sequência da temporada e
estabeleceu o prazo de dez dias para anunciá-los.
- Não gosto de dar prazo muito curto, não. Às vezes, tem uma negociação
que achamos rápida e pode demorar. Prefiro um prazo mais longo, uns dez
dias. Se for mais rápido, vocês vão elogiar - disse.
Torcedores questionam presidente: 'Cadê Wallim?'
Os dez dias já viraram 45, e o vice sequer apareceu para falar sobre a
dificuldade de ter sucesso no mercado - apenas André Santos foi
contratado, e negociações dadas como certas - como com Roger Carvalho e
Adrián Martinez - não foram concluídas. Muitos rubro-negros notaram a
ausência de Wallim - que o diga Eduardo Bandeira de Mello. Nessa
quinta-feira, em um conturbado voo de Salvador ao Rio depois da derrota
por 3 a 0 para o Bahia, torcedores presentes no avião questionaram o
mandatário sobre o paradeiro do vice-presidente. Ficaram sem uma
resposta convincente.
Na ausência de Wallim, Paulo Pelaipe e Eduardo Bandeira de Mello pouco
falaram e deixaram muitas questões pendentes. Pelaipe foi orientado a
reduzir o número de entrevistas, pois algumas declarações polêmicas
tumultuaram o ambiente em alguns momentos. O diretor de futebol acatou o
conselho e para casos mais desgastantes, como a saída de Renato, adotou
uma resposta padronizada.
- Esse assunto está sendo tratado com a diretoria, respeito a hierarquia.
Bandeira de Mello, por sua vez, disse que a responsabilidade pela saída
de Renato foi exclusivamente do departamento de futebol. Pelaipe
limita-se a falar sobre negociações, mas muito menos do que quando
assumiu. E bem menos em relação aos tempos de Grêmio. Quando era diretor
do futebol do Tricolor gaúcho, falava diariamente em treinos e também
em jogos.
Presidente em voo de volta de Salvador: perguntas sobre Wallim (Foto: Reprodução / Twitter)
Dirigente bancou demissão de Renato Abreu
No caso da saída de Renato, a decisão coube a Wallim. Pelaipe tentou
contornar, mas não foi ouvido. O vice de futebol assumiu a
responsabilidade por dispensar o meia. Membros do conselho gestor
rubro-negro, no entanto, dizem que a situação foi mal conduzida pelos
responsáveis pelo futebol e de forma precipitada na época. Renato vai à
Justiça processar o clube e pode receber um montante bem maior do que o
R$ 1,5 milhão de salários até o fim do contrato.
Wallim acredita que Renato Abreu boicotou o trabalho do ex-treinador
Jorginho, e o somatório de suas atitudes resultou na demissão, feita via
site oficial. No início de julho, o departamento de futebol do Flamengo
recuou, notificou o jogador para que ele voltasse e treinasse afastado
do grupo, mas o ex-camisa 11 recusou-se e decidiu cobrar o valor
referente aos seis últimos meses do vínculo, que vai até o fim do ano, e
uma indenização por danos morais que pode chegar a R$ 7 milhões.
Nesta sexta-feira, Wallim Vasconcellos retorna ao Brasil e deve estar
presente ao jogo contra o Atlético-MG, no domingo, às 16h (de Brasília),
no Mané Garrincha, pela 11º rodada do Brasileirão. O reencontro com o
elenco é um fato. Fica a dúvida se o vice de futebol reaparecerá
publicamente para comentar os rumos do futebol rubro-negro.