Andrade assistiu pela televisão ao desfecho da participação do Flamengo na Taça Libertadores. De longe, viu a queda do Império do Amor e o fim de uma campanha que julgava merecer terminar. Afinal, quando assumiu o Flamengo em agosto de 2009, o time capengava na tabela e beirava a zona de rebaixamento. Oito meses e um título brasileiro depois, se viu desempregado.
Na imprensa, a presidente Patrícia Amorim o criticou e afirmou que tinha de intervir porque o clima no departamento de futebol era insuportável e havia uma bagunça generalizada.
- Continua a mesma coisa, nada mudou desde que eu saí. Se existia bagunça, como ela diz, permanece – disse Andrade.
O treinador não gosta do adjetivo magoado. Prefere dizer que a saída o chateou da maneira como foi conduzida. Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, ele desabafa e conclui:
- Tinha muita gente lá dentro torcendo para o Flamengo perder para poder me demitir.
Sensação ao assistir à eliminação em casa
“É uma grande frustração começar um trabalho e não ter a chance de terminá-lo. Fui campeão brasileiro, cheguei à final do Carioca e às oitavas da Libertadores. Tinha grande chance de ser campeão. O time do Flamengo é muito superior ao do Universidad de Chile. Na primeira fase, tivemos muitos problemas porque disputávamos duas competições importantes e ficava difícil concentrar”
Falta de paciência da diretoria
“Todos os times que estavam envolvidos na Libertadores não foram campeão estaduais e todos os treinadores foram mantidos no cargo. São Paulo e Inter, por exemplo, foram firmes e seguraram o Ricardo Gomes e o Fossati. Deram credibilidade a eles, coisa que não fizeram comigo e agora os dois clubes estão nas semifinais. Faltou paciência. Aliás, só não fizeram isso (demissão) antes porque eu fui campeão brasileiro”.
Motivos da demissão
“Muita gente lá dentro torcia para o Flamengo perder para poder me demitir. Não tinha o que falar para me tirar e inventaram muitas coisas. Tiveram que buscar mentiras para justificar a minha saída. Devo ser o único técnico do mundo campeão e com aproveitamento de 70% que perdeu o emprego.”
Bagunça instaurada na Gávea?
“Continua a mesma coisa, nada mudou desde que eu saí. Se existia bagunça, como ela diz, permanece. O Flamengo tinha muitos problemas extracampo e a diretoria me obrigava a resolver. Mas como é isso? Tenho que dar treino, pôr o time em campo e cuidar da parte disciplinar? Assim eu tiro o emprego de alguém. Fiquei muito exposto”.
Confiança do grupo
“O grupo me respeitava, sempre tive o elenco na mão e foi dessa forma que conseguimos o título brasileiro. Plantaram várias notícias na imprensa para dizer o contrário porque precisavam de justificativas para me demitir”.
Mudança de postura em 2010
“Em 2009 existiam os mesmos problemas, mas o foco não era o Flamengo. Era o São Paulo, o Atlético-MG, o Palmeiras... Como fomos campeões voltou tudo para cima do Flamengo e teve uma dimensão enorme. Bastava o time perder para surgir uma crise. Crise era a palavra do momento na Gávea. Nossa equipe não tinha mais o direito de perder. Vitória e derrota fazem parte do futebol, só que as pessoas não entendiam isso”.
Adriano
“Quando o Flamengo contratou o Adriano já sabia dos problemas. De repente vai querer mudar tudo? Não tinha como. Eles já estavam cientes de tudo. Eu procurei administrar, mas quem faz a filosofia não é o treinador. Já tinha isso (privilégio) no Flamengo quando assumi. Não fui eu. E pelo jeito a filosofia não mudou até agora. Está a mesma coisa”.
Pekovic
“Não tive problema algum com o Petkovic. Coloquei o Pet em dois jogos seguidos contra o Caracas e contra o Botafogo. Mas as pessoas não percebem que ele não voltou a repetir as atuações do ano passado. E aí inventam que eu tinha algo contra o cara. Foi tudo plantado para me minar com a torcida. Não tinha a nada a ver”.
Postura da presidente na hora de demiti-lo
“A Patrícia disse olhando no meu olho que sofria muita pressão e se não cedesse ficaria sozinha. Na campanha ela falou de preservar o ex-atleta, mas não fui preservado em momento algum. Na quarta-feira já tinham decidido a demissão e me deixaram dois dias no cargo. Estava lá estampado no GLOBOESPORTE.COM: Andrade será demitido. O mundo todo sabia e me deixaram exposto. Ela devia ter me preservado”.
Futuro
“Não tenho pressa. Vou escolher uma boa oportunidade. Em oito meses de carreira, ganhei o Brasileiro e fui eleito o melhor técnico do ano. Tem treinador que na vida toda não tem esse currículo.”