Zinho completou seis meses como diretor de futebol do Flamengo no
domingo passado e chegou à conclusão: passou rápido e não foi fácil. De
11 de maio para cá, experimentou quase tudo no clube. Sobraram
problemas, faltou tempo para relaxar. O distanciamento da família
incomodou, a vida tranquila de comentarista de TV ficou para trás, e o
desgaste foi inevitável.
- Não houve um momento em que eu pudesse falar: dá para relaxar, agora
vou tirar dois dias de folga. Foi difícil acontecer isso. Só agora que
está começando.
Com o time livre do rebaixamento no Brasileirão, Zinho ganhou um pouco
mais de tempo para viver e também pensar em 2013. Os telefones celulares
ainda tocam incessantemente. Do outro lado da linha, o assunto é sempre
o mesmo: Flamengo.
No período em que está no cargo, Zinho teve de administrar problemas
sérios, de extrema repercussão e que geraram enorme desgaste. O embate e
a saída conturbada de Ronaldinho Gaúcho, o processo de fritura e queda
de Joel Santana, o fracasso nas negociações com Diego e Juan, a ausência
da contratação de um camisa 10, o caso Riquelme e a tentativa de
recuperar Adriano são alguns dos exemplos de turbulência do comandante
do futebol rubro-negro.
- Não foi fácil, não. Vou confessar que em algumas noites era joelho no chão para pedir a direção de Deus mesmo.
A política fervilhante do clube também respingou no futebol, já que
algumas crises internas envolveram o vice-presidente de finanças, Michel
Levy, e o vice de futebol, Paulo Cesar Coutinho, que não ocupa mais a
pasta. Zinho tentou defender o trabalho do dirigente, mas a pressão pela
saída de Coutinho foi maior. O vazamento de informações também
incomodou. A avaliação do diretor, no entanto, é positiva. Zinho acha
que conseguiu começar a organizar a casa rubro-negra.
- Vejo pelo lado positivo. Ganhei muita experiência, são seis meses de
aprendizado para o resto da minha vida. Até os erros que eu cometi, que
eu não sou perfeito, até alguma coisa que o torcedor possa não ter
ficado satisfeito. Isso serve de aprendizado para 2013, 2014, 2015. Acho
que está terminando com saldo mais positivo do que negativo.
Zinho diz que ainda há muito a fazer. E se considera capaz de continuar
à frente do futebol do clube. Só não sabe se terá tempo. O contrato do
diretor termina em 31 de dezembro. Como o Flamengo passará por um
processo eleitoral no dia 3, a chegada de um novo presidente pode
representar a saída do dirigente, que aceitaria continuar o trabalho com
outra gestão.
- Sou profissional, quero o melhor para o Flamengo.
Zinho tem o carinho e respeito dos jogadores pela forma de falar olho
no olho. Ganhou moral com a presidente, já que segura algumas cobranças
que seriam destinadas a ela, e tem planos. Muitos. O principal é
conseguir montar um time de ponta para brigar por títulos na próxima
temporada.
- Gostaria de ficar.
Permanência em 2013
- Acho que podemos ter um ano bem melhor. Dentro dessa filosofia que
estamos implantando, com essa equipe que a gente formou, com os
profissionais que trabalham aqui. Quando eu digo que não sei se vou
estar aqui, é porque vai ter a eleição. A Patricia pode não ganhar. Já
vi entrevistas dela falando que se ganhar ela quer me manter. Mas ela
não falou isso para mim. Eu digo que não posso falar muito de 2013, mas
já estou planejando 2013 focando esse ano. Nós, eu diretor, treinador,
equipe de trabalho, já estamos fazendo reuniões, pré-temporada está
definida, apresentação, treinamentos, número de atletas. Isso está tudo
pronto há uma semana. Fizemos uma reunião geral. Já fiz reunião com a
base toda, de quem vai subir, quem a gente pode emprestar. O Dorival
quer 28, 29 jogadores no máximo. Não estou com meu contrato assinado,
mas se eu ficar o meu trabalho vai ser esse. Preciso do aval da
presidente, mas eu sei que isso vai ser depois da eleição. Para não
repetir os erros desse ano, estamos planejando. Eu foco terminar o
Brasileiro em quinto, sexto, no máximo. No ano em que todo mundo
projetou desastre, podemos terminar na parte de cima na tabela.
Erros e acertos
- A todo momento eu me avalio. Eu me cobro bastante. Não aponto acertos
ou erros. Algumas tentativas de contratação foram frustradas para mim.
Gostaria que tivesse acontecido. Duas. Seria um zagueirão de nível de
seleção e o número 10. Foram Juan e Diego. As únicas. Acho que isso não é
erro. Foram tentativas que esbarraram na parte financeira, essas duas
contratações que tentei. Porque aquele caso Riquelme eu nunca quis o
Riquelme, não era a minha prioridade. No mercado, circunstâncias, e por
desejo de alguns dirigentes, iniciou-se uma conversa com o empresário do
Riquelme. Acabou que o empresário estava fazendo leilão. Fiquei
satisfeito de não ter concretizado. Acho que foi um livramento para mim.
Seria mais um problema para administrar. Acho que não está nem jogando.
Nesses seis meses a gente foi trabalhando, foi lapidando, foi
organizando o grupo, conscientizando os atletas, implantando algumas
coisinhas de profissionalismo, horário, treino, CT. Isso leva um tempo
para as pessoas se acostumarem. Houve a mudança de comissão técnica
geral, um grupo que foi modificado dentro do campeonato. A gente fez
algumas contenções de despesas na folha, ao mesmo tempo tivemos de
buscar jogadores para o grupo. Agora está dando satisfação porque estou
vendo os resultados começarem a acontecer. Pena que já no fim, sem
chance de brigar pelo G-4.
Administrador de crises
- Acho que as polêmicas com os grandes ídolos, Ronaldinho, Adriano, a
saída do Joel, foram desgastes. Tomou muitas horas de sono, mas acho que
o saldo foi positivo. Não acho que houve desrespeito de nenhuma das
partes, principalmente Adriano e Joel. Foi tudo honesto, olho no olho. O
do Ronaldinho foi para a parte jurídica, mas no dia a dia com ele fui
muito verdadeiro. Não escutou da boca de ninguém as coisas, tenho a
consciência tranquila. Não criei inimizades com nenhum deles. Se estão
chateados, é outra coisa. Mas não podem falar em desonestidade,
covardia. Houve muito desgaste nesse período, mais do que eu achava.
Minha convivência com vocês da imprensa teve pouquíssimos desgastes,
considero até zero. Nunca fugi das coisas que tinha que responder.
Inexperiência
- Ganhei experiência em algumas coisas em que você tem que largar um
pouco mais na frente. Muita gente falava da falta de experiência em
cargo assim, tanto pepino para administrar. Teve a saída do Coutinho
também, tive apoio da direção, tenho um diálogo muito bom com a
Patricia. A chegada do Dorival foi muito boa, a convivência com o Joel
foi um aprendizado, um cara que tem currículo, muitos anos. Não éramos
tão íntimos de conversar, acho que pela diferença de idade, mas
procurava ver a postura e tudo para estar aprendendo. Foram duas
comissões técnicas diferentes, bons relacionamentos, muita gente. Estou
satisfeito, não foi fácil, não. Vou confessar que algumas noites era
joelho no chão para pedir a direção de Deus mesmo. É a família apoiando,
aquelas coisas de contratação, necessidade de trazer alguém, fase de
muitos jogos sem vitória. Legal que tive apoio da torcida. As torcidas organizadas mesmo. Todos apoiando, confiando, acreditando. Tanto é que os recebi naquela crise, foi um dos dias mais tensos para mim.
Avaliação do grupo
- Eu acho que estamos terminando o ano com uma base de razoável para
boa, estamos tendo uma resposta, principalmente os jogadores que vieram,
havia desconfiança. Acredito que mais três ou quatro peças de ponta,
com esse grupo formado na reta final, vamos ter time para brigar por
campeonato.
Reforços
- Tenho os nomes. Em algumas posições são opções A, B e C. Mas a A é o
top. Já liguei para alguns representantes desses atletas. Vou iniciar a
conversação e deixar bem encaminhado, mas nessas conversas sempre falo
que o “ok” final tem que ser depois da eleição. Mas não me impede de
deixar tudo alinhavado para não perder tempo. Se deixar para começar em
10 de dezembro, você perde tempo. Iniciar uma conversa, esse
planejamento, isso eu posso fazer. Independentemente de ficar ou não. No
dia 3 de dezembro vai estar tudo pronto. Não fiquei? Quem quiser
permanece o trabalho. Quem não quiser vai correr atrás. Eu não posso
perder tempo.
Seguir sem Patricia Amorim
- Eu não estou me envolvendo em política. Sou rubro-negro, mas no
momento exerço função remunerada, sou profissional. Eticamente é até
ruim expressar qualquer opinião. Não vou dizer que só fico se ela
ganhar. Quero o melhor para o Flamengo. Eu sou desse clube, esse clube
que deu a chance de começar a nova função. Sem demagogia nenhuma. Eu
trabalho para o Flamengo. Se o melhor para o Flamengo for a Patricia,
maravilhoso. Se os associados acharem que é outro, eu quero o melhor
para o Flamengo. Claro que eu tenho intimidade muito maior com a
Patricia, cheguei na gestão dela, me identifiquei, temos uma relação
boa, há um respeito. Eu a considero uma pessoa boa, coração bom, do bem.
Uma pessoa que trabalha pelo melhor para o Flamengo. Se cometeu erro, é
porque todos são passíveis.