Patricia Amorim não deixou a bola quicar. Assim que soube da entrevista do ex-presidente do Flamengo, Marcio Braga,
criticando agressivamente sua gestão, a atual presidente rubro-negra
respondeu. E não baixou o tom. A mandatária disse que não poderia se
calar diante de tanta “bobagem” e classificou as acusações do
ex-presidente como levianas e covardes. Fez questão de falar sobre cada
ponto abordado pelo antecessor em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM - e foi
detalhista.
Abaixo os principais trechos:
Marcio disse que José Carlos Peruano, sócio que agrediu o
conselheiro Arthur Muhlemberg nesta semana, é ligado à sua gestão e a
seu marido. É verdade?
PATRICIA AMORIM: Ligado em que sentido? Eu quero que diga como. E quero que prove. Ele é
sócio - e não fui eu que dei o título. Fui apoiada por muita gente. Siro
Darlan fez campanha para mim, o doutor Marcelo Antero fez também. Isso é
uma bobagem, é ridículo. Meu marido é ligado a mim, a meus filhos. Fui
apoiada por mais gente do bem do que do mal. No caso da agressão,
aplicamos a punição máxima que podemos dar, que o clube determina em
estatuto. Dei a punição preliminar que o estatuto permite (30 dias) e
será criada uma comissão para investigar. Não quero nem saber se é
Peruano, se é fulano. Não tenho rabo preso com ninguém. Na minha vida
política, não devo nada a deputado, senador, prefeito. Não devo nada.
O ex-presidente disse também que a folha de pagamento está acima do orçamento. Como a gestão atual responde?
O que ele está falando é mentira. Imagina ter uma folha de R$ 11
milhões. Cada um fala o que quer, e a gente tem que provar. Nossa folha é
de cerca de R$ 6,5 milhões. Subiu como a receita subiu. E nossa receita
mais do que subiu. E vamos falar dele. O que ele deixou de legado no
Flamengo? Estou construindo o CT. A previsão de arrecadação do orçamento
não é de R$ 130 milhões/ano, e sim de R$ 150 milhões. Temos cumprido
com o orçamento, cumprimos em 2010. Estou muito segura disso. É uma
agressão absurda.
Ele disse que você mudou para pior as áreas de marketing, finanças e jurídico.
Os membros do jurídico são absolutamente os mesmos. Não mandamos um
advogado sequer embora. Alguns escritórios permanecem os mesmos e não
houve reformulação. No marketing saíram alguns e entraram outros. Não
teve nenhum tipo de litígio. Não teve perseguição. O financeiro, que
hoje está no Vasco, não nos atendeu. Parece que todos foram para o
Vasco. Nós encontramos prejuízos ao Flamengo, pessoas que estavam em
outra administração. A folha que ia para o banco não era a mesma da
contabilidade do clube. Demos chances para os bons funcionários. Quando
encontramos funcionários que deram prejuízos ao clube, mudamos. Mas é
tudo comprovado. Temos provas de tudo isso. Quem tem de da dar explições
é quem estava antes. Ser incompetente é uma coisa. Se no fim do ano não
tiver alcançado os resultados, concordo com a crítica. Acho que ainda é
muito cedo, estamos há dez rodadas muito mal. Mas aceito as críticas.
Não peço licença toda hora. Peço uma semana em julho e só. As pessoas
votaram em mim com um vice-presidente que tem minha confiança (Hélio
Ferraz). Eu nasci no Flamengo. A presidente do Flamengo hoje frequenta o
Flamengo, e não o Country Club. Quantos jogadores eu vendi? Não fiz
nada disso. O que temos é a valorização desses meninos, não cedi com as
propostas. E o que eles me deixaram? É uma discussão que, infelizmente,
não leva o Flamengo a nada.
E a questão da explosão da dívida?
Eu sirvo e vou servir o Flamengo depois de ser presidente. Nunca vi o
Marcio Braga numa reunião do Conselho Deliberativo, no Conselho de
Administração. Não aparece, não vejo. Eu dou a cara para bater. Ele
deveria ir às reuniões do conselho. Ele pagou imposto? Tenho
dificuldade, confesso. Mas ele pagou? Os impostos nem eram recolhidos. E
a dívida rola - viram milhões e milhões. As dívidas que eu faço não vou
deixar para quem vem em seguida. Tudo tem sido pago. Dos jogadores que
mandamos embora, com toda dificuldade, eu venho pagando.
E o Zico? Marcio disse que ele foi desrespeitado pela sua gestão.
O Zico fez campanha para o Delair. Nunca politizei esse assunto.
Fizemos o acordo com o CFZ, depois o CFZ fez outro acordo e não
comunicou ao Flamengo. Foi um grande prazer ter o Zico, mas as coisas
não funcionaram. Dez dias depois que ele entrou, houve o caso Bruno. As
coisas não aconteceram. A culpa é de todos nós. Assumo minha parcela, o
Zico assumiu a dele, o Zico é forte. As pessoas têm que enxergar. Eu não
tirei o Zico, nem tiraria. Ele me mandou mensagem, ele saiu. Depois,
não falei mais com ele. Jamais tiraria o Zico. E não tenho nenhuma
mágoa. Aguentei isso firme. Acho que o Zico sentiu-se confortável para
vir, mas as coisas não fluncionaram. O problema do Zico não é comigo. É
com o Conselho Fiscal, que fiscaliza o Flamengo. Eu também tenho
problema com eles, mas fico na minha, resolvendo. Para mim, é uma
situação muito tranquila. Já encontrei o filho do Zico, a Sandra, esposa
do Zico, mandei mensagem quando ele completou 40 anos como federado no
Flamengo.
Marcio disse que você recebeu o clube com dinheiro em caixa. É verdade?
Estou pagando impostos, salários, fazendo obras. Não quero entrar na
polêmica com ele. Recebi o clube com R$ 80 milhões de verba antecipada e
dívida de R$ 350 milhões. Aí ele vem de graça falar. Tem suspeita de
corrupção? Prova! As contas dele foram aprovadas cheias de restrições,
de ressalvas. Se for ver os contratos, o da Rede Globo vai sair de R$ 45
milhões para R$ 100 milhões. A gente faz investimento para fazer essa
quantidade de obras na Gávea. O Flamengo não quebrou, não faliu. É capaz
de pagar as contas, de cumprir os compromissos. Fazemos investimento
para melhorar a profissionalização do clube. E vou fazer. Sou capaz de
pagar e estou sendo. Há 20 meses meus salários estão em dia. Não me
lembro de na gestão dele estararem em dia. Não lembro mesmo. E não me
omito e viro as costas para as dívidas que tenho. Se estou atrasada,
estou atrasada. O Flamengo é o maior clube do Brasil, de maior torcida.
Não sei se é o de maior valorização da marca, mas está sempre entre os
melhores. Nunca pode dizer que um clube como o Flamengo faliu. Temos
cerca de nove mil associados e mais de 700 produtos licenciados.
Como é, no meio dessa fase difícil do futebol, aparecer mais essa crise?
O Flamengo é sempre assim, vive essa ebulição política. Não é de hoje.
Quando o resultado do futebol começa a não ir bem, aí os covardes se
apresentam. Agora, quero ver a coragem de me enfrentar como enfrento
todos os conselheiros todos os dias no clube. Com sabedoria, educação e
sutileza. Sempre fui contida e preocupada em não atacar a gestão
anterior. A partir do momento em que sou agredida, me vejo na obrigação
de responder. Quero saber se ele gostou do resultado da Copinha. Estamos
fazendo algo que vamos deixar. Alguma vez ele foi no Tigres, no
Madureira? Ele conhece os jogadores da base como eu, conhece as
famílias? Se ele quer tumultuar, tudo bem. Aqui vai encontrar uma mulher
muito corajosa. Antes tivesse a nobreza e o compromisso com o Flamengo
de falar isso para mim. Me ligasse e falasse para mim. Ia ouvir. Dessa
forma, covarde, respondo com a coragem da primeira mulher presidente de
um clube de futebol no Brasil.
Como é sua relação com Marcio Braga?
Não tenho relação com ele. Estou há um ano e nove meses na presidência e
não fico falando mal dele, não jogo sujo. Estou à disposição de
qualquer presidente, não quero saber. Ele acha que é maior que o
Flamengo, mas não é. O Flamengo é o Flamengo com ele e sem ele. Com
Patricia e sem Patricia. Com Ronaldinho e sem Ronaldinho. Com Zico e sem
Zico. Estou dando a minha contribuição diária. Eu vou entregar o CT
para o próximo presidente. O que ele entregou para mim? Uma dívida de
quase R$ 400 milhões. E tem mais coisa. Na época em que o Marcio era
presidente, ele tinha o Dr. Pedro Trengrouse como seu assessor especial e
jurídico. Era pessoa jurídica e recebia por nota do clube. Vale
destacar que este advogado é tricolor. Coincidência ou não, é este mesmo
advogado que está à frente da causa do Sport, contra o Flamengo, na
questão do título de 87, que o Marcio nunca correu atrás do
reconhecimento.
Ele criticou também o presidente do Conselho Fiscal, Leonardo
Ribeiro (Capitão Léo)... e algumas pessoas que fazem parte da sua
gestão.
O (Alexandre) Wrobel (vice de patrimônio) nem era da minha chapa. O
Michel Levy (vice de finanças) não é ligado a ninguém. Hélio Ferraz foi o
presidente depois do Edmundo Santos Silva. O Henrique Brandão (vice de
marketing) é muito mais ligado ao Veloso (Luiz Augusto, vice de
futebol). O Veloso foi vice do Marcio Braga em 90, eleito na chapa dele.
Tenho 24 anos de serviços dedicados ao Flamengo. Essas pessoas estão
entrando na vida do clube agora. Fui vice-presidente do Marcio Braga,
não tem cabimento. O Capitão Léo foi eleito presidente do Conselho
Fiscal durante o exercício do Marcio Braga e reeleito no meu mandato. Se
ele vincular a mim, vou vincular a ele. É surreal. É votado diretamente
pelos sócios, não tem nada a ver com diretoria. É o sujo falando do mal
lavado.
Marcio levantou também suspeitas de corrupção no clube.
É leviana essa acusação. Se continuar falando sobre isso, vai ser
convocado a prestar esclarecimentos. Só pode falar a partir de provas.
Vou a todas as reuniões do conselho, todas. Falo com repórteres, vou aos
jogos. Não me escondo. Não peço licença toda hora. Estou limpando uma
porção de lambança que ele fez. Ele perdeu uma eleição dias depois de
ser campeão brasileiro. Não foi por acaso. O sócio respondeu porque sabe
que não vale ganhar a qualquer preço. O sócio estava insatisfeito. O
patrimônio estava dilacerado, instalações depredadas, falta de
organização na base. Sempre se sustentou nos resultados do futebol, mas
num determinado momento o sócio deu um basta.
Como está a situação financeira do clube?
Cheguei com quatro ações na Fifa. Hoje, não há nenhuma. O Flamengo não
tem penhora, não deve a nenhuma confederação ou federação. Deixaram uma
dívida de R$ 13 milhões com a BWA (empresa de confecção de ingressos)
sem pedido de autorização do conselho para fazerem o empréstimo. Depois
de perderem a eleição - pegaram mais R$ 5 milhões. Será que eles fizeram
esse pedido? Pode ser que eu encontre. Mas estamos pagando essa
dívida... faltam três milhões e pouco. Vou entregar o Flamengo em
dezembro do ano que vem com a dívida paga e começando a dar lucro de
bilheteria.
E as críticas sobre o Flamengo não buscar estádio?
Na época em que a prefeitura abriu a licitação, o único presidente que
não quis o Engenhão foi o Marcio. Ele não quis porque queria construir
um shopping na Gávea e nem participou do processo de concessão. O que
eles vão ter que engolir, como diz o nosso bom Zagallo, é que não
deixaram patrimônio para os sócios. Estou deixando uma valorização
infinitamente superior que eles não foram capazes de deixar em prática.
Vou deixar o CT, a Gávea revitalizada. Acho o fim do mundo o Marcio
Braga fazer essa crítica. Ele não tem moral para falar.