Em uma época em que a troca de clubes é cada vez mais constante, Leonardo Moura, que já foi uma espécie de andarilho do futebol, encontrou seu porto seguro no Flamengo. Contra o Grêmio domingo, no Maracanã, o lateral-direito de 31 anos vai completar 250 jogos pelo clube que defende há pouco mais de cinco anos.
Com lágrimas nos olhos, ele relembrou de tudo que já aconteceu desde a sua chegada à Gávea em junho de 2005, no dia dos namorados (12 de junho). A relação teve altos e baixos, mas ele já fez as juras de um casamento eterno.
- Quando completei 100 e 200 jogos foi super emocionante. Completar 250 em um time como o Flamengo não é fácil. A caminhada foi longa desde pequeno até aqui. Comecei na escolinha do Fla com 9 anos. Pinheiro, chefe da segurança do clube, me viu pequeno e hoje me vê disputando uma final. É um motivo de orgulho estar vestindo essa camisa. Não quero sair daqui, quero permanecer. Se puder ficar resto da minha vida, fico – disse o lateral-direito.
Pinheiro lembrou um pouco dos primeiros passos de Léo Moura na Gávea, que chegou a entrar em campo com Zico, no Maracanã, quando tinha 11 anos.
- O pai do Léo Moura era da Vila Kennedy (Zona Oeste do Rio) e um amigo nos apresentou. Ele pediu um teste para o filho, e colocamos ele no campo 2, na escolinha do Flamengo. Ele já jogava muita bola. Era raquítico, mas rasbicavas todo mundo, era enjoado. Já trouxe tanta gente para fazer teste, que nem esperava que um dia ele pudesse ser campeão brasileiro pelo Flamengo. Também lembro dele entrando em campo – relembra Pinheiro.
Com contrato até dezembro de 2011, o lateral pode ficar mais de sete anos no Flamengo. Confira abaixo os principais trechos da última entrevista coletiva de Léo Moura, neste sábado, na Granja Comary.
Como foi a semana de preparação para o jogo contra o Grêmio? Valeu a pena ter saído do Rio de Janeiro?
- Todos jogadores querem essa oportunidade de ser campeão. Nos preparamos nessa semana, e vamos ter vontade e determinação para sair com a vitória. Foi bom sair do Rio. Aqui nós fizemos nossas brincadeiras, nossos joguinhos, que servem para descontrair. Mas treinamos com seriedade. Estamos concentrados porque sabemos qual é esse momento. O time está preparado esperando apenas o início do jogo.
Como está a ansiedade? Vocês passaram muita coisa até chegar até aqui...
- Vai chegando a hora do jogo, e nós queremos que chegue logo. Acordei hoje querendo que já fosse domingo. Sofremos muito com isso, recebemos muita pancada, mas sabemos da capacidade desse grupo. Nós falamos muita coisa, um pouco do jogo, como demora, como será depois do jogo... Vamos respeitar o Grêmio, mas estamos dentro Maracanã e vamos fazer tudo para sair com o título na mão. Sabemos que vencendo o Brasileiro para todo mundo vai ser bom, ser especial... Para mim, vai ser um momento marcante aqui no Flamengo...
E o que passa na sua cabeça na véspera do jogo?
- Passa tudo. Em 92, estava atrás do gol em que o Júnior marcou o gol de falta contra o Botafogo. Lembrei com o Everton Silva (companheiro de quarto), que estava nas cadeiras em 92, e agora estou dentro de campo (lágrimas nos olhos). Quero escrever meu nome na história... Vamos buscar muitas coisas pela frente. Tem a Libertadores e nosso grupo tem condições... Já passei por tudo aqui, de rebaixamento à Libertadores... Aqui é minha segunda família... Passo a maior parte do meu tempo aqui, e esse grupo vai ficar marcado pelo resto da vida. Todo mundo espera o título... 17 anos não são 17 dias, muito tempo passou, recebemos cartas de apoio. É para ter pensamento positivo... Sou fanático por esse clube.
Foto: o pequeno Leonardo Moura abraçado ao ídolo Zico em jogo do Flamengo no maracanã
E essa euforia do torcedor aqui na Granja Comary ao longo da semana?
– Nós sabíamos que mesmo saindo do Rio iríamos ter recepção calorosa aqui. Torcida do Flamengo é diferente em qualquer lugar do mundo. Sempre gostei de ter esse carinho da torcida. É momento único pra eles, tem de passar um pouco da nossa alegria, nossa confiança, e receber as palavras desses torcedores.
Houve cancelamento de treino por causa das fortes chuvas em Teresópolis. Todo cuidado é pouco nesse momento decisivo?
– Cautela, né? Acordamos com forte chuva. Foi bom para preservar o grupo, que já esta preparado. Já treinamos forte e estamos preparado para o jogo.
Você é devoto de algum santo? Fez alguma promessa em caso de título?
– Sou devoto de Nossa Senhora de Aparecida... Peço a Deus todos os dias que ele tire esse olho grande, tire a negatividade vinda de fora... Minha promessa é de fazer um grande jogo no domingo. Minha mãe é que fez promessa, mas nem sei o que é. Tenho até medo... Mas se ela falar que tem de andar a pé até São Paulo, eu vou porque vale a pena. Conquistar um Brasileiro pelo Fla não é para qualquer um.
Todo mundo tem falado sobre a importância do Andrade, que o grupo corre por ele... O que você pode falar sobre a importância dele para o grupo rubro-negro?
- Primeiro é a pessoa que ele é. Depois a história dentro do Flamengo. Ele recuperou minha alegria de jogar futebol. Fez que eu acreditasse que poderia jogar como lateral-direito e não só ala. Me fez acreditar que poderia dar volta por cima. Ninguém no grupo reclama, sabe que ele não está fazendo sacanagem, coloca quem está melhor momento. Isso nos transforma num grupo vencedor. Tanto que teve a arrancada e agora podemos coroar isso aí. Quem joga de ala é quase um ponta-direita, tem mais compromisso de atacar do que defender. Joguei assim quase quatro anos... Andrade colocou cabeça que eu e Juan poderíamos ser laterais e atacarmos com mais qualidade. A zaga passou a ficar mais sólida, e o time cresceu muito com essa mudança. Não quero citar nome de ninguém, mas muita coisa aconteceu aqui. E o Andrade veio de caráter limpo.