Marcelinho Machado
nunca foi de meias palavras. Capitão do Flamengo desde 2007 e por quase
uma década na seleção brasileira, o camisa 4 da Gávea sempre se
posicionou. Errado ou certo, ele não fica em cima do muro. Seja para
fazer uma crítica, cobrar salários atrasados ou simplesmente omitir uma
opinião. Em benefício próprio ou em nome de um companheiro. Dentro de
quadra, na
frente das câmeras ou no vestiário. Tanto faz, Marcelinho é sempre o
mesmo. Um fominha convicto, viciado em vencer. Marcelinho acertou mais
do que errou. Ganhou muito mais do que perdeu. Idolatrado pelos
rubro-negros, odiado pelos rivais. Ódio esse que no esporte tem muito
mais a ver com respeito e admiração do que com a raiva propriamente
dita. Afinal, Marcelinho, chamado por alguns de Marcezico, já perdeu a
conta de quantas vezes calou o ginásio de um adversário com sua mortal
bola de três e, depois, se viu obrigado a perder horas tirando fotos e
distribuindo autógrafos para a torcida rival. Esse é Marcelinho Machado,
o segundo dos três filhos de Renê e Cristina, o pai de Gustavo e Tiago,
o marido de Renata.
De volta ao Flamengo em 2007, Marcelinho Machado mudou a história do basquete rubro-negro (Foto: André Durão)
Único
tetracampeão da história do NBB e dono de seis títulos nacionais -
cinco com o Flamengo e um com o extinto Telemar -, Marcelinho parece não
ter fim. Aposentou-se da seleção em 2012, voltou atrás dois anos depois
e ainda sonha com as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Motivado
como um garoto, faminto com sempre, ele não cansa de ganhar.
Aposentadoria? Nem pensar, pelo menos por agora. Apesar dos 40 anos
completados dia 12 de abril desse ano, o ala garante que jogará mais uma
temporada pelo menos. Depois disso, só sua motivação e, principalmente,
seu corpo poderão decidir por ele.
Por
ironia do destino, o basquete apareceu por acaso. Ele não se lembra do
primeiro arremesso, mas não esquece do dia onde tudo começou no ginásio
Togo Renan Soares, na Gávea. Convidado pelo "tio Peixotinho" para bater
uma bola, o ala não parou até hoje. De cesta em cesta, o capitão do
Flamengo não para de colecionar títulos, não se cansa de levantar
troféus e já não tem mais pescoço para pendurar tantas medalhas. Há oito
anos no Flamengo, são 20 finais com a camisa rubro-negra e nada menos
do que 17 conquistas: nove estaduais consecutivos, cinco nacionais -
quatro do NBB -, uma Liga Sul-Americana, uma Liga das Américas e a Copa
Intercontinental, equivalente ao Mundial Interclubes. Uma coleção que
ele jamais imaginou ter.
O Fluminense foi seu primeiro time,
mas foi no Flamengo que o ala se tornou o cara. O cara que mudou o rumo
da história da modalidade no clube do coração e por isso é chamado
carinhosamente pelos rubro-negros de Marcezico, honraria que ele não
sabe se merece e tampouco sabe como agradecer. O cara que na
adolescência adorava matemática e chegou a prestar vestibular para
engenharia. O cara que escolheu o basquete, e, no lugar de prédios,
preferiu construir uma carreira.
E que carreira. Vitoriosa,
com passagens por Tijuca, Corinthians-RS, Botafogo, Ginástico,
Uberlândia, Telemar, Zalgiris Kaunas, da Lituânia, Rimini
Crabs, da Itália, e Cantabria Lobos, da Espanha. Marcelinho é o cara
que por 16 anos jamais recusou uma convocação para a seleção e que
ajudou a levar o Brasil novamente às Olimpíadas após quatro edições
ausentes. O cara que prefere ser manager do que técnico. O cara que
cursa a faculdade de marketing e está devendo algumas matérias. O cara
que não cansa, insaciável e que quer sempre mais.
Confira a entrevista na íntegra:
GloboEsporte.com:
Em oito anos de Flamengo, você disputou 20 finais e conquistou 17
títulos. São números impressionantes. Vocês esperava ganhar tanta coisa
quando voltou ao clube em 2007?
Marcelinho: Sinceramente,
não esperava ganhar tanto. Mas as coisas foram acontecendo e eu
projetando ganhar mais títulos. Até pelo investimento do clube no
basquete isso foi se tornando cada vez mais possível. Já estou há oito
anos no Flamengo e tenho certeza de que ajudei a
escrever a história do basquete rubro-negro. Isso é um privilégio que
tive na minha carreira. Na verdade, dois. O outro foi ter jogado tanto
tempo na seleção brasileira. Quando era moleque, ainda nas categorias de
base, lembro que eu, meu irmão (Ricardo) e o Peixoto (André Peixoto,
filho do ex-jogador e técnico Peixotinho) ficávamos sonhando em um dia
nos tornar jogadores profissionais e viver apenas do basquete. E hoje me
vejo nessa condição.
Marcelinho posa com os troféus do NBB, da Liga das Américas e da Copa Intercontinental (Foto: André Durão)
Quando você realmente decidiu se tornar um jogador de basquete?
Estudei
até o terceiro ano de forma integral, estudava de manhã e depois ia
direto para o Fluminense treinar. Ali eu tomei a decisão. E é engraçado
porque na época eu tinha 17, 18 anos, e hoje em dia essa decisão tem que
ser tomada antes. As coisas estão muito mais profissionais e, aos 15
anos, os meninos já têm que se doar totalmente ao esporte. Fica aqui até
uma crítica pelo modelo que nós temos, pois deveria ser um processo
simultâneo de estudar e jogar porque sabemos o quanto é difícil viver do
esporte. Terminei o terceiro ano e cheguei a fazer vestibular na UERJ
para engenharia, mas fiz a prova sabendo que não iria cursar. Ali eu já
sabia que queria ser jogador de basquete e tinha que me doar ao esporte.
Quer dizer que você chegou a pensar em ser engenheiro?
Eu
sou muito bom em matemática, sempre gostei da área de exatas e cursei
muito mais por uma obrigação em ter que escolher alguma coisa para
fazer. Inclinei-me para isso mas não era uma coisa clara para mim e,
hoje, percebo que não teria nada a ver comigo. Felizmente escolhi o
basquete e acho que foi muito melhor para mim (risos).
Mas hoje você faz faculdade. Como anda a vida de estudante?
Faço,
de marketing. Tenho que correr atrás por que estou devendo lá. Esse
último semestre foi muito ruim para mim. O primeiro foi muito bom,
cursei oito matérias e passei nas oito. O segundo eu cursei oito e
passei em seis, o terceiro cursei oito e passei em cinco e, no quarto,
estou cursando oito também e está complicado o negócio. É difícil porque
o basquete exige muito do meu tempo, e as matérias vão ficando mais
complexas. Mas vai dar tudo certo, nem que demore um pouquinho mais do
que estava previsto.
Muita gente aponta você como o jogador mais importante da história do basquete do Flamengo. Você também se sente assim?
Sem
modéstia, acho que sou um cara importante para a história do clube, mas
o Flamengo tem muita história. Muitos jogadores que passaram por aqui
também marcaram época e prefiro deixar para vocês decidirem se devo ser
ou não. Outro motivo de orgulho é quando deixo o ginásio depois de um
jogo e os torcedores me chamam de Marcezico! Isso não tem preço para
quem é rubro-negro. Só de estar na mesma frase que o Zico já é motivo de
orgulho máximo para qualquer atleta. Tive pouco contato com o Zico,
acho que apenas três vezes na minha vida, mas ele é o único cara que
quando estou junto fico nervoso. Já tive com vários jogadores
importantes na história do clube, como Júnior, por exemplo, mas ele é um
cara que me marca de um jeito, talvez até pelo fato de ter o encontrado
pouco, que não sei explicar. A última vez foi até sem querer, na
escolinha de futebol do meu filho, inclusive antes da final. E ele deu
uma força enorme dizendo que estava na torcida e que nós ganharíamos.
Depois ainda vi o vídeo que ele mandou para gente. Esses caras são os
maiores ídolos do Flamengo e poder ter o carinho deles em relação ao
basquete é uma coisa complicada até para ser digerida. Me lembro de
estar na arquibancada do Maracanã torcendo por eles e, de repente, vejo
esses caras torcendo por nós e mandando mensagens de apoio. Isso é o
Flamengo, um torce muito pelo outro, independentemente da modalidade ou
da geração.
Você lembra da primeira vez que pegou numa bola de basquete?
Putz,
não! O que eu lembro muito bem é de estar sentado na arquibancada do
ginásio Togo Renan Soares vendo meu irmão treinar e, como havia faltado
alguém para treinar nesse dia, o Peixotinho me chamou para bater bola.
Coincidentemente, o Flamengo montou um time da minha categoria, que era o
pré-mirim e não tinha no clube na época, justamente naquele ano. E aí
eu comecei a jogar. De lá para cá, não foram só alegrias, mas meu amor
pelo basquete só aumentou.
Você consegue ver no Gustavo (o filho mais velho) essa mesma identificação?
Igualzinho.
Meu pai fala muito para mim que quando acaba os jogos e ele olha para o
Gustavo batendo bola com o filho do Neto, o meu sobrinho, filho do
Duda, lembra de mim e do Ricardo ainda crianças fazendo a mesma coisa. É
muito semelhante, é a história se repetindo. Não sei se ele vai ser
jogador, só quero que ele seja feliz. Eu sou muito feliz jogando
basquete. Se ele quiser seguir meu exemplo vou apoiar.
Mudando
de assunto, essa temporada foi atípica e cheia de reviravoltas. Qual
foi a lição que você tira de tudo que aconteceu e qual foi o momento
mais difícil?
Cada ano o time tem que se adaptar e procurar
ser o melhor possível para conquistar os objetivos. Nessa temporada foi
colocada uma forma de a equipe jogar na qual tive que me adaptar. Já
tinha passado por tudo isso na seleção, mas o problema que aconteceu
durante a temporada realmente foi um pouco complicado. Mas acabou que
deu tudo certo. Quando temos as melhores intenções e queremos as
melhores coisas para o coletivo, acho que até a briga é bem-vinda. No
bom sentido, é claro, uma discussão.
Marcelinho Machado e José Neto comemoram lado a lado o tetracampeonato do Flamengo no NBB (Foto: Fotojump/LNB)
Você
acredita que essa "briga" tenha sido o momento mais difícil da sua
carreira e que talvez tenha servido para o time dar uma virada?
Não
colocaria como um momento muito difícil. É uma coisa que acontece em
qualquer ambiente de grupo e até em família pela convivência. Às vezes
nós discordamos de certas coisas, a maneira com elas são feitas, e não
somos obrigados a concordar sempre com tudo. O importante é querer a
mesma coisa, que é querer ganhar e ajudar o time. Acho que no fim das
contas as coisas se resolvem quando existem esses sentimentos, e foi
isso que aconteceu. Desde que cheguei ao Flamengo sempre procurei ajudar
o time a vencer. Foi um pouco mais complicado nessa temporada, mas acho
que consegui mais uma vez.
A temporada passada perfeita de alguma maneira colocou muita pressão sobre vocês e tornou o ano mais difícil?
Ano
difícil é aquele que você não ganha nada, e esse começou com o título
mundial. O problema é que quando o clube encerra uma temporada com o
bicampeonato do NBB e começa o seguinte com um título mundial, a
cobrança muda tanto de fora para dentro como internamente. É preciso ter
muito cuidado nesse momento, mas podemos dizer que tivemos mais uma
temporada vitoriosa. Perdemos apenas a Liga das Américas de uma maneira
que não esperávamos dentro de casa.
Depois de todos os
problemas, você acabou mesmo que indiretamente sendo personagem de dois
momentos especiais: o primeiro quando o Marquinhos abriu mão de ser o
capitão por sua causa e depois ao receber um braço do Neto antes de
subir ao pódio para segurar o troféu pelo tricampeonato do NBB. Isso
mostra o quanto você ainda é importante para o Flamengo e o quanto esse
grupo é unido?
Foi criada uma situação muito maior do que
ela realmente deveria ser. O que aconteceu foi uma discussão de
vestiário, de cabeça quente, que poderia ter sido resolvida de uma
maneira muito mais simples. Só que saiu do vestiário, ganhou uma
proporção enorme e acabou vazando na imprensa. Esse foi o grande
problema. Já presenciei situações muito piores, inclusive com jogadores
brigando, não esse ano, e que acaba sendo contornado. São situações de
momento em que as pessoas acabam brigando, mas não quer dizer que elas
se odeiam ou que não podem conviver. Não é nada disso, é apenas uma
coisa de momento, uma discordância sobre alguma situação que aconteceu e
que, de cabeça quente, acaba sendo tomando a decisão errada. Não
deveria ter sido criado um problema tão grande, mas acabou acontecendo.
Acho que foi contornado de uma maneira positiva por todos os envolvidos,
mas acabei sendo afastado por um período do time. Isso com certeza foi a
parte mais dolorosa.
Qual foi a lição que você tirou de tudo isso?
Acho
que perante o grupo eu não poderia ter tomado a atitude que tomei.
Deveria ter agido de outra forma, mas acabou sendo daquele jeito. Não me
arrependo de nada que eu faço por que o aprendizado fica e já vale a
pena. São coisas que fazem parte de equipes vencedoras, de todos
quererem ganhar e, infelizmente, não vamos ter isso sempre com todos
abaixando a cabeça e concordando com tudo. Tem momentos que vão existir
essas discordâncias de um lado ou de outro, mas quando todo mundo quer a
mesma coisa isso facilita muito para que tudo seja resolvido.
Naquele
momento muitas pessoas aproveitaram para te criticar e até mesmo pedir
sua aposentadoria. Isso te machuca de alguma maneira ou já se acostumou
com as críticas?
Acho que corneteiro fala de acordo com a
situação. Quando eu faço 40 pontos as pessoas me pedem para não parar e
jogar até os 60, mas se jogo mal essas mesmas pessoas dizem que está na
hora de parar. Acho que isso faz parte e, depois que aprendi a lidar com
essa situação, evolui muito na hora de analisar as críticas e,
principalmente, meu jogo. Teve até um determinado momento da minha
carreira que eu ainda me ligava muito às críticas. Mas hoje é tão fácil
as pessoas criarem uma conta falsa no Facebook ou um blog e se tornarem
jornalistas dando opinião como se fossem especialistas e sabem o que
está falando. Então eu prefiro não ler, sinceramente. Ultimamente eu
vejo apenas os veículos mais sérios que têm comprometimento com aquilo
que estão falando, até porque. se falarem alguma coisa errada, eu vou
poder questionar e rebater. Cada um tem direito a sua opinião e hoje,
aos 40 anos, sei que tem pessoas que pensam que eu já deveria ter
parado, e eu respeito, mas o que vale nessa hora é a minha opinião e a
do clube. Se o Flamengo achar que devo continuar e nós chegarmos a um
acordo, vamos continuar. Se não for aqui, que seja em outro lugar, mas
espero encerrar minha carreira no Flamengo e tenho certeza de que é isso
que vai acontecer.
Seu contrato vai até dezembro,
quais seus planos depois disso? O exemplo da Fofão e do Marcelinho, no
vôlei, servem de inspiração para você continuar por mais alguns anos?
Enquanto
eu tiver o prazer de competir e querer jogar para ganhar, me dedicando
aos treinos e abrindo mão de uma porção de coisas para poder chegar
aqui, treinar e ter um bom rendimento nos jogos, isso é que vai
determinar o momento de parar de jogar. Hoje eu me sinto muito bem,
talvez até melhor que no ano passado, por ser a temporada que voltei da
lesão no joelho. No início sofri demais com isso, mas hoje sinto minha
perna ainda mais forte, muito mais confiante e pelo menos mais uma
temporada eu vou jogar. Nessa idade também não dá para ficar projetando
muito mais tempo, por isso minha ideia é jogar mais um ano e depois ver
se essa minha ambição por títulos e essa minha vontade de jogar vão
continuar, e aí eu penso na próxima temporada.
Com anos de seleção e tantos títulos conquistados, falta alguma coisa para o Marcelinho?
Sempre
falta alguma coisa, mas não tenho nenhuma frustração. O lado ruim do
competidor é que ele não para de competir nunca, e a competição tem o
lado bom de você querer sempre melhor, mas tem uma hora que você precisa
diminuir o ritmo. Mas isso só vai acontecer quando eu parar. Quem me
conhece sabe que eu vou sempre querer conquistar muito mais.
O nascimento dos seus filhos de alguma maneira foi um dos motivos para você esticar um pouco mais sua carreira?É
uma situação ambígua. Eu estou preparando o Gustavo para o momento que
eu parar, até porque ele vive isso intensamente. Mas eu digo para ele
que quando parar vou poder viver mais a vida dele, vou poder levá-lo à
escola, viajar nos fins de semana e levar a vida comum das famílias dos
amiguinhos que ele vê. Ele acha isso legal, mas ao mesmo tempo sei que
ele vai sentir falta de tudo isso. Da mesma forma que toda minha família
vai sentir falta dessa ligação com o basquete, nós vamos ganhar muito
do outro lado.
O que você projeto para seu futuro. Se imagina como treinador?
Eu
já pensei nisso, mas não me vejo treinador. É a mesma vida do jogador, e
eu quero viver esse outro lado. Mas quem sabe mais para frente eu
perceba que é a hora de tentar. Mas, sinceramente, me vejo muito mais
fazendo um papel de gerência ou administrativo do que de treinador. Uma
das possibilidades que eu projeto é ir para os Estados Unidos e fazer
alguns cursos. Mas só o tempo vai dizer.
E como dirigente, acha que é um caminho que te faça contribuir para o basquete carioca?
Acho
que posso contribuir sim e tenho um projeto social com o objetivo de
retribuir tudo que o basquete me deu. Ainda não saiu do papel, mas
quando eu parar vou ter mais tempo e tranquilidade para poder levar isso
para frente. Mas não me vejo nesse cargo político, meu perfil é muito
competitivo e me vejo numa função que hoje tem muito pouco no Brasil,
que é do manager, o cara que monta o time e tem a visão técnica do
negócio. O cara que tem a visão da quadra, mas ao mesmo tempo a visão do
clube, uma pessoa que consiga fazer esse meio campo e que existe muito
pouco no país.
Você jogou em muitos bons times, inclusive na Europa, mas esse Flamengo é a melhor equipe que você jogou?
Sim,
da para dizer que na minha carreira esse talvez tenha sido o grupo mais
vencedor e mais forte que já joguei. Colocando os três últimos anos,
porque sempre mudou um ou outro jogador, mas a base é a mesma. Nós nos
damos muito bem, até em certos momentos que estamos em dificuldade e que
não nos entendemos na quadra. Só que essa convivência, essa amizade e
esse comprometimento que nós temos nos torna muito fortes. Cansei de
falar para o grupo que nós podemos ter o problema que for que nós vamos
conseguir nos livrar dele. Nós nos gostamos e não vai ter nenhum
problema que vai tirar o nosso foco. Acho que temos demonstrado isso no
passar dos anos, e a cada ano saímos cada vez mais fortes dos problemas.
Esse campeonato é o maior exemplo. Chegamos aos playoffs com muita
gente duvidando de nós, até internamente tivemos dúvidas se
conseguiríamos do jeito que estávamos jogando. Até o jogo 5 do São José
pairava esse sentimento, mas a partir dali tivemos certeza de que íamos
brigar novamente. Acho que entramos na final de um jeito que Bauru não
esperava, com a postura de favorito. Entramos para dominar e dominamos
mesmo.
O que esperar do Flamengo daqui para a frente?O
Flamengo vai ser sempre competitivo. É lógico que hoje nós temos uma
base sólida e se perdemos um ou dois jogadores a diretoria terá que se
planejar para repor essas peças. Mas o fato de ser o Flamengo já nos
coloca numa posição de estar sempre se cobrando e brigando pelos
títulos. Quando não ganhamos, chegamos perto. Isso se deve também ao
tamanho do clube e a torcida que temos. O Flamengo vai sempre entrar nas
competições para brigar por títulos.
Marcelinho considera esse grupo do Flamengo o melhor com quem ele já jogou ao longo da carreira (Foto: André Durão)
Quando você chegou aqui em 2007 imagina que o basquete do Flamengo conseguisse montar uma estrutura tão forte?
A
estrutura está cada vez melhor, hoje nós temos uma academia que não
deve nada a nenhuma do mundo, com a melhor aparelhagem possível, e isso
já nos dá uma tranquilidade enorme. Fora toda a segurança que temos de
ser uma modalidade autossustentável dentro do clube. Mesmo tendo
conquistado títulos com os salários atrasados em algumas situações
anteriores, é muito mais tranquilo trabalhar sabendo que no fim do mês o
que foi combinado será cumprido. Essa é uma evolução que o Flamengo
conquistou, mas que teve que passar por várias fases até chegar a um
momento tão sólido como vive o basquete do clube hoje em dia. Mas
continuo achando que ainda temos muitas coisas para evoluir. Nossa ida
para a pré-temporada da NBA foi muito importante para o Flamengo e pouco
a pouco estamos evoluindo.