Armador pela esquerda, pela direita, atacante de lado de campo, ponta bem aberto e até camisa 10. Carlos Eduardo
tem seis anos de carreira, mas já atuou por quase todas as posições do
meio-campo para a frente. Por onde passou, agradou. No Flamengo, ainda
não. Maior revelação do Grêmio desde Ronaldinho, de acordo com boa parte
da imprensa gaúcha, um dos principais jogadores da história do
Hoffenheim, da Alemanha, e com passagens pela Seleção com Dunga e Mano
Menezes, o meia-atacante ainda busca seu espaço na Gávea. Literalmente,
como deixa evidente a pergunta que passa pela cabeça dos torcedores:
onde escalá-lo?
Nas três partidas em que foi titular sob o comando de Dorival Júnior,
CE10 atuou bem aberto pela esquerda, no esquema 4-3-3, em linha que
tinha ainda Hernane centralizado e Rafinha pela direita. O
posicionamento o limitava, basicamente, a ações naquele setor do campo, o
que, somado à condição física ainda abaixo do ideal, resultou em
atuações sem brilho e questionamentos do torcedor. Prestes a iniciar um
novo ciclo com Jorginho, Carlos Eduardo falou com o GLOBOESPORTE.COM
sobre onde se sente mais à vontade e relacionou sua produtividade a um
ponto em especial: liberdade para movimentação.
- No Grêmio e no Hoffenheim, eu jogava livre para rodar o campo todo.
Sou um jogador que gosta de partir para cima. Então, gosto de ficar pelo
lado do campo para ter mais espaços para avançar e bater em gol, o
fazer um-dois... Por ali, dá para receber a bola mais livre.
A declaração do camisa 10 do Flamengo vai ao encontro de análises de
quem conviveu com ele nos melhores momentos de sua carreira, justamente
no Rio Grande do Sul e na Alemanha. Revelado em 2007, Cadu, como era
conhecido na época, foi um dos principais jogadores do time que levou o
Grêmio ao vice-campeonato da Copa Libertadores da América. Na ocasião,
formava dupla de ataque com Tuta, atuando pelo lado esquerdo no 4-4-2,
mas não tão aberto nem com função de fazer jogadas de linha de fundo
como na formação apresentada por Dorival.
No Grêmio, parceria com Lúcio e atuações como armador
Veloz e habilidoso, o meia se destacou por tabelas que permitiam com
que o lateral-esquerdo Lúcio fosse o responsável por avanços até a linha
de fundo, enquanto ele fazia mais arrancadas em diagonal em busca de
espaços para arremates e assistências. Essa característica ficava ainda
mais latente diante da opção de Mano Menezes de colocá-lo na vaga de
Tcheco, para formar a dupla de armadores com Diego Souza.
- O Grêmio fazia de tudo por ali (pela esquerda), e o Carlos Eduardo
era um atacante de muita movimentação. Recuava, marcava, entrava
partindo para o meio, arrematava. Era um jogador muito disciplinado. Em
alguns momentos, o Mano tirava o Tcheco e o puxava mais para armador. O
lado esquerdo que formava com o Lúcio era muito forte, tanto que é
lembrado até hoje, mas ele nunca foi um ponta. Era mais uma função de
articulação. Sempre foi um guri muito batalhador – definiu o repórter
Diogo Olivier, do jornal Zero Hora, de Porto Alegre.
O destaque na competição continental foi tanto que europeus como Porto,
Benfica e Hoffenheim fizeram propostas pelo jogador, que optou pelo
desconhecido clube da Segunda Divisão alemã. Escolha surpreendente, mas
que não foi capaz de fazer com que Carlos Eduardo sumisse no mapa do
futebol. Apesar de ter apenas 20 anos na época, ele se tornou
rapidamente o destaque absoluto da equipe, que ascendeu de imediato à
Bundesliga.
'Sempre foi muito criativo. Era impossível saber o que ia fazer', define jornalista alemão
No futebol alemão, Cadu assumiu a função de meia como jogador mais
avançado na primeira linha de três do 4-3-3 do Hoffenheim. Com dois
volantes marcadores na retaguarda, um deles o também brasileiro Luiz
Gustavo, hoje na Seleção de Felipão, ele era o responsável por municiar o
trio ofensivo e mantinha a característica do Grêmio: arrancadas em
diagonal da lateral para o meio. Desta vez, no entanto, as ações
aconteciam mais da direita para esquerda, abrindo espaço para
finalizações com a perna boa.
- No Hoffenheim, Carlos Eduardo jogava mais como meia-armador. Em
alguns momentos, abria para direita e cortava para o meio para arriscar
passes e chutes. A equipe costumava atuar no 4-3-3, e ele era o nome
mais avançado da linha do meio. Sempre foi muito criativo. Era
impossível saber o que faria com a bola. É um dos grandes jogadores que
já passaram por aqui – analisou Martin Gruener, repórter da conceituada
revista alemã Kicker na região de Hoffenheim.
As boas atuações na Alemanha chamaram a atenção do Rubin Kazan, da
Rússia, que pagou 20 milhões de euros (cerca de R$ 51 milhões) para
contar com Carlos Eduardo em agosto de 2010. Logo na estreia, o jogador
marcou dois gols diante do Amkar Perm, em partida pelo campeonato local,
e animou os investidores. Um lesão no joelho em outubro, entretanto,
desencadeou uma série de problemas físicos que o impediu de atuar com
frequência nos dois anos e meio em que esteve no clube.
O começo animador apresentava também um CE10 com liberdade de
movimentação em um time que atuava no 4-5-1. Armador pelo lado esquerdo,
o brasileiro alternava com o companheiro que atuava mais aberto no
setor em papel similar ao desempenhado com Lúcio, ainda no Grêmio. A
característica defensiva do Rubin, por outro lado, o obrigou a
desenvolver o poder de marcação.
Mais recentemente, já após a lesão, foi utilizado em papel similar ao
escolhido por Dorival Júnior, mas sempre buscava se desprender da linha
lateral, conforme revelou a jornalista russa, do jornal Soviel Sport,
Julie Yakovleva.
- Ele pode não estar bem porque nos últimos dois anos praticamente não
jogou. Na Rússia, o Carlos impressionou bastante quando chegou e logo
marcou dois gols. Jogava como um número 10 e em determinados momentos
mais aberto pela esquerda, parecido como vinha sendo no Flamengo. O
Rubin é uma equipe famosa por sua postura defensiva. Então, em alguns
momentos ele se via obrigado a defender até mais do que atacar. Em 2011,
o time mudou do 4-5-1 para o 4-3-3, e o Carlos Eduardo passou a atuar
aberto pela esquerda, mas tentava se deslocar para o centro do campo.
Barrado por Dorival na estreia do Flamengo na Taça Rio, CE10 deve
voltar ao time titular do Flamengo diante do Boavista. Sob o comando de
Jorginho, tem tido a liberdade que tanto deseja nos treinamentos táticos
desta semana, apesar de no papel ter posicionamento mais centralizado.
No 4-2-3-1, é o homem do meio na linha que conta ainda com Rafinha e
Nixon abertos, todos atrás de Hernane. Para desempenhar a nova função,
ele garante estar com quase 100% de suas condições físicas.
- Neste quesito, estou bem, estou recuperado. Só preciso perder mais um
quilo. Agora, é mais questão de adaptação, tempo de bola...
Flamengo e Boavista se enfrentam neste sábado, às 18h30m (de Brasília),
no Engenhão, pela segunda rodada do segundo turno do Carioca. Na
estreia, o Rubro-Negro perdeu para o Resende, por 3 a 2.