Joel Santana deixou a explicação sobre a queda precoce do Flamengo na
Libertadores para os deuses do futebol. O Rubro-Negro encerrou a
participação na competição sul-americana em terceiro lugar no Grupo 2. O
principal projeto do primeiro semestre fracassou. Numa chave
equilibrada, dois clubes sem tradição no campeonato avançaram: Lanús e
Emelec se classificaram para as oitavas de final. O Olimpia, tricampeão
da América, também ficou pelo caminho e se despediu na lanterna.
Em seis jogos, o Rubro-Negro conquistou oito pontos. Foram duas
vitórias, dois empates e duas derrotas, com um aproveitamento de 44,4%. A
equipe fez 12 gols e sofreu dez. No fim das contas, a partida contra o
Olimpia, em 15 de março, virou o símbolo da eliminação. Naquele
confronto, o Flamengo abriu 3 a 0, no Engenhão, mas permitiu a igualdade
nos 15 minutos finais. Um pecado. Na verdade, um deles. O
GLOBOESPORTE.COM destaca
os sete pecados cometidos pelo clube na
campanha frustrante.
Má condução da crise e das mudanças no departamento de futebol
O Flamengo entrou em ebulição desde a reapresentação. Os dois primeiros
treinos de 2012 foram realizados em dois períodos. Ronaldinho alegou
insônia e dormiu no CT na manhã dos dias 3 e 4 de janeiro. O
comportamento contrariou o técnico Vanderlei Luxemburgo, que procurou a
presidente Patricia Amorim para se queixar e pedir providências. Nada
foi feito. Durante a pré-temporada em Londrina, no interior do Paraná,
os jogadores entraram em crise com o vice de finanças Michel Levy.
Cobraram publicamente o pagamento de luvas atrasadas. Como resposta,
foram chamados de “marqueteiros” pelo dirigente. Luxa defendeu o grupo e
cobrou os atrasados, mas ouviu da presidente que cada um deveria
responder pelo seu departamento. O treinador não gostou do que
classificou como “Cala boca, Luxa”.
A crise foi parar debaixo do tapete, e a delegação embarcou para a
Bolívia. A preparação para o primeiro jogo da Pré-Libertadores, contra o
Real Potosí, foi feita em Sucre. Alex Silva, no entanto, não viajou. O
zagueiro se separou do grupo em São Paulo. Além de insatisfeito com as
dívidas do clube, não gostou de saber que o processo de fritura de
Luxemburgo havia começado. Naquele momento, Ronaldinho e seu irmão e
empresário, Roberto Assis, tinham a garantia de que o técnico não
seguiria no cargo.
Fato é que a pré-temporada no Brasil e na Bolívia não foi de calmaria. O
Flamengo perdeu o primeiro jogo contra o Real Potosí por 2 a 1, mas
decidiria a vaga no Rio. Na volta, venceu por 2 a 0. Antes mesmo da
segunda partida, a demissão de Vanderlei Luxemburgo estava decidida. A
contratação de Joel Santana, também. Luxa comandou o time no Engenhão e
foi dispensado no dia seguinte. Na véspera, Patricia Amorim havia
garantido o treinador no cargo. Com ele, saíram o preparador físico
Antônio Mello, o auxiliar Júnior Lopes e o gerente de futebol Isaís
Tinoco. O diretor de futebol Luiz Augusto Veloso entregou o cargo.
Aliado a isso, a diretoria esqueceu de se planejar para o torneio. Até a
estreia na primeira fase da competição, contra o Potosí, o clube só se
reforçou com Magal e Itamar - este sequer foi inscrito. Posteriormente,
Michel Levy viajou à Rússia e pagou cerca de R$ 23 milhões para
contratar Vagner Love. O outro reforço foi o zagueiro Marcos González,
ex-La U, contratado sem a aprovação do então técnico Vanderlei
Luxemburgo.
Joel Santana não encontra o time ideal
Joel dirigiu o time pela primeira vez em 9 de fevereiro, pelo
Campeonato Carioca, contra o Madureira. Seis dias mais tarde, escalou a
equipe para enfrentar o Lanús, na Argentina, pela primeira rodada da
fase de grupos. A partida terminou empatada: 1 a 1. A equipe entrou em
campo com Felipe, Léo Moura, Welinton, David Braz e Junior Cesar;
Airton, Maldonado, Willians e Renato; Ronaldinho e Deivid. Por motivos
diversos, ela jamais se repetiu. Em seis jogos, Joel usou seis
escalações diferentes. Tentou encontrar a equipe ideal durante a
competição, mas sem sucesso.
Série de lesões graves
Um dos motivos que atrapalharam Joel foi o excesso de lesões graves.
Num período curto, o técnico perdeu em sequência Airton, Willians,
Felipe, Renato, Léo Moura, Camacho e Maldonado. Como só 25 jogadores
estavam inscritos na Libertadores, chegou a ter apenas o número mínimo
de atletas para montar o time e o banco de reservas (18). Foi Vanderlei
Luxemburgo quem fez a lista. Antes do início da fase de grupos, Joel
mudou três nomes. Saíram Marllon, João Filipe e Jael, entraram Marcos
González, Galhardo e Vagner Love.
Síndrome da bola aérea
Apesar de trabalhar o posicionamento defensivo da equipe na jogada
aérea em vários momentos, o técnico do Flamengo não conseguiu corrigir a
deficiência da equipe no fundamento. O Rubro-Negro tem sofrido na
temporada com as bolas alçadas e não foi diferente na Libertadores. Nas
derrotas para Olimpia e Emelec, ambas por 3 a 2, o time sofreu gols
assim. Nos jogos, sempre ficou em apuros quando o adversário cobrou
escanteios ou faltas na direção da grande aérea. Os zagueiros Marcos
González, David Braz, Welinton e Gustavo não conseguiram passar
segurança ao longo da competição.
Flamengo se apequena fora de casa
Em nove pontos disputados como visitante na Libertadores, só um
conquistado. Contra o Lanús, na estreia, Joel Santana armou o meio-campo
com quatro volantes na Argentina: Airton, Maldonado, Willians e Renato.
O time conseguiu sair na frente, mas se encolheu e permitiu a
igualdade: 1 a 1. Contra o Olimpia, o Flamengo até lutou, mas não teve
boa atuação no Defensores del Chaco, em Assunção. Após ceder empate em 3
a 3 no Engenhão, o time foi derrotado por 3 a 2 e viu sua situação na
Taça Libertadores se complicar de maneira considerável.
O pior jogo foi contra o Emelec, em Guayaquil. A equipe esteve em
vantagem no placar por duas vezes, mas sofreu a virada aos 45 minutos do
segundo tempo. Uma alteração de Joel convidou os equatorianos para o
campo rubro-negro. A entrada do zagueiro Gustavo no lugar do atacante
Deivid para reforçar a marcação fez o time se encolher e permitir reação
do Emelec. O que se viu foi uma pressão que até então não havia
acontecido. Todo encolhido, o Fla não conseguia trocar três passes
quando tinha a bola. O Emelec insistia com perigo nas jogadas pelo alto e
não saía do campo defensivo dos brasileiros. Fez isso até conseguir a
vitória por 3 a 2.
Síndrome dos minutos finais e decisão de não poupar titulares
O Flamengo sofreu dez gols em seis partidas na Libertadores, sendo
metade deles a partir dos 30 minutos do segundo tempo. Contra o Emelec,
no Equador, o time vencia por 2 a 1 até os 37 da etapa final. Sofreu o
empate e ainda tomou o terceiro, aos 45. Mas o maior vacilo veio contra o
Olimpia, no Rio. A equipe de Joel Santana abriu 3 a 0 com facilidade.
Só que os paraguaios marcaram aos 31, 38 e 43 e deixaram o Engenhão com
sensação de vitória.
Até agora o técnico não conseguiu explicar a queda de rendimento do
time na parte final do segundo tempo das partidas. Mesmo quando não
sofreu gols, a equipe passou por apuros. Uma possível explicação é o
fato de que Joel não poupou o grupo em momento algum. O treinador sempre
usou a força máxima nos jogos do Carioca, mesmo com a rotina
desgastante de viagens pela Libertadores e das lesões em sequência.
Apesar de nas entrevistas dizerem que a decisão era acertada, longe das
câmeras e dos microfones alguns jogadores consideravam um equívoco.
Achavam que pelo menos Ronaldinho, Vagner Love e Léo Moura deveriam
ganhar um tempo de repouso maior entre as partidas. Classificados para
as semifinais da Taça Guanabara, Vasco e Fluminense chegaram a poupar
titulares em cinco duelos no Carioca.
Fator Olimpia
A relação entre Olimpia e Flamengo nesta edição da Libertadores vai
ficar marcada. O Rubro-Negro não conseguiu vencer os paraguaios (3 a 3
no Rio e derrota por 3 a 2 no Paraguai) e na rodada decisiva viu o
tricampeão da América sucumbir diante do modesto Emelec. No Defensores
del Chaco, em Assunção, o Olimpia não conseguiu sequer empatar com os
equatorianos. Foi derrotado por 3 a 2 e também está eliminado.
Na saída do Engenhão após a queda, quase todos os jogadores que
concederam entrevista citaram o empate no Rio como decisivo para a
despedida precoce do Flamengo da competição.