A
partir do dia 2 de janeiro a vida de Cacau Cotta, vice-presidente do
Fla-Gávea e de administração, vai mudar radicalmente. Neste dia
oficialmente ele vai passar o bastão para José Carlos Dias e Claudio
Pracownik. O dirigente, um dos mais atuantes durante os três anos da
gestão de Patricia Amorim, vai deixar, como ele mesmo diz, o “Big
Brother Fla”, para voltar a ser torcedor de arquibancada. E com o dever
cumprido, principalmente na parte da sede social, antes abandonada e
hoje melhor estruturada. E muito dessas melhorias foram conseguidas com
criatividade por Luiz Claudio Cotta, como o próprio parquinho, tratado
de forma pejorativa, mas que retrata como que era secundário passou a
ser uma das principais marcas da administração, junto com o patrimônio,
comandada pelo vice-presidente Alexandre Wrobel.
Nesta entrevista à De Prima, Cacau Cotta, conta as
lendas e até de funcionários fantasmas de quando chegou a direção da
Fla-Gávea que impedia realizações na Gávea, como conseguiu o parquinho e
investimentos do Comitê Olímpico Americano, das realizações e dos
projetos de reforma da arquibancada da Gávea e da piscina, que serão
tocadas pelo presidente eleito Eduardo Bandeira. Faz a sua avaliação de
administração e admite que a parte negativa foi a falta de um grande
título no futebol e que não estava mais dando conta de duas
vice-presidências. Ainda revela uma história curiosa da “babá de
Adriano”, contratado por um dirigente para cuidar do Imperador em 2009,
para explicar porque Ronaldinho talvez não tenha dado certo no Flamengo.
Confira os principais trechos do bate-papo:
Como o Cacau Cotta encerra os trabalhos na diretoria do Flamengo após três anos?
“O Flamengo é um vício. Frequentei o Flamengo de segunda a segunda.
Durante três anos. Gávea que era a prioridade. Meu foco era a
recuperação da Gávea. Saio com muita alegria. Não me sinto desgastado,
rancoroso, o mesmo rubro-negro que eu era da geral. O mesmo de 20 anos
atrás. Em relação a sede da Gávea eu saio de cabeça erguida. Honrei o
nome da minha família, dos meus amigos, do Flamengo, da torcida, fiz um
trabalho legal, que me dava aquele prazer. Costumo dizer que foi um
razoável vice-presidente de administração e um bom na pasta do
Fla-Gávea. Primeiro eu vou voltar para arquibancada, porque eu não
gostava muito de camarote não. Eu ia mais pela família. Voltar para
arquibancada pode extravasar mais, porque ninguém fica de vigiando para
ver a reação, rindo chorando, essa vigília passou. Eu procurava me
policiar mesmo no Big Brother Flamengo. Vou ficar rindo de que quando eu
vou a um treinou, por exemplo? Qual a graça? Eu não deixei de ser
torcedor”.
Como você encontrou a situação da Gávea e por que o clube estava tão abandonado?
“É chato de falar para trás porque você vai acabar atingindo pessoas e
eu não gosto de atingir pessoas não. Nada podia fazer. Tudo estava na
Justiça. Parecia que tinha uma lenda que que nada poderia mexer. Tinha
telhas guardadas e diziam que não podia mexer. Consegui usar. Assim como
reformar locais da sede que muitos falavam que não poderia mexer.
Fizemos a quadra de futebol de areia, que não podia mexer… Eu falei: ”
espera aí, o terreno é do Flamengo”. A Gávea não existia como clube
esportivo e social, estava totalmente degradado. Tinha mato de dois
metros na entrada da Gilberto Cardoso. Não sei quantas toneladas de
entulho. E todos os materiais esportivos e sociais deteriorados. Campo
de futebol a secretaria deteriorados, 90% recuperamos”.
A situação de degradação assustou você quando começou como diretor do Fla-Gávea?
“Não me assustou porque eu sabia do meu potencial e do meu amor pelo
Flamengo, e eu sabia da questão porque minha família frequenta o
Flamengo. Isso faz toda a diferença. O estado que o clube se encontrava
não condizia com a história, com o tamanho do Flamengo. Imagina o
torcedor que vem de outro estado para visitar a Gávea? O Eduardo
Bandeira frequenta eu vejo os filhos dele lá. O Cheirinho (José Carlos
dias, vice-presidente do Fla-Gávea) frequenta. O Flávio Willeman, vice
jurídico joga tênis no clube. Isso é fundamental, o presidente frequenta
o clube isso é diferencial. Os sócios chegavam no Flamengo e
estacionava em qualquer lugar em dezembro de 2009, qualquer dia,
qualquer hora”.
Encontrou muita dificuldade para reestruturar a Gávea?
“Muito difícil. Você chega lá e a prioridade não é essa, não é? A
maioria eu consegui tocar com parcerias. Um exemplo é o parquinho. Eu
consegui com uma escola, que meu deu o brinquedo, semi-novo, o maior
brinquedo, eu reformei o brinquedo, que custava R$ 100 mil, gastamos R$ 8
mil para reformar o brinquedo. As obras foram feitas pelos nossos
próprios funcionários, a primeira parte da obra, a segunda parte eu
consegui patrocínios de três empresas que prestam serviço para o
Flamengo. Corri atrás do financeiro para pagar os outros 50%, esse é o
exemplo. O outro exemplo é o comitê olímpico americano, que investiu no
ginásio Togo Renan Soares, na quadra de futsal, totalmente, piso que
custa quase 100 mil dólares, de primeiro mundo”.
Qual avaliação que você faz dos três anos da administração da Patricia Amorim?
“Voltamos a ter jogadores, ter direitos federativos, faltou o título
para coroar o patrimônio, o Fla-Gavea, a solução do Morro da Viúva, do
CT. Mas temos grandes jogadores na base. A Cristina Callou, o Michel
Levy, com todos os defeitos dele, carregou muito pesada a cruz, que é o
financeiro, o Rafael de Piro, todos os vice presidentes colaboraram. O
fardo maior uma oposição muito estruturada, estávamos na Libertadores e
fomos péssimos, no Brasileiro fomos nos arrastando, no Carioca não
chegamos à final. Pagamos o preço no final do ano. O negativo foi a
falta de título para coroar isso tudo. O Flamengo é um todo. Foi
avaliada pelo que fez, o o grupo novo veio com uma proposta fantástica,
que principalmente o sócio que não frequenta a Gávea no dia a dia,
comprou a ideia, a onda azul pegou, e eu vou torcer para o futebol e os
grandes títulos venham”.
Qual foi o principal erro?
“No futebol o principal erro, sem sombra de dúvidas, foi a saída do Vanderlei. O Vanderlei fazia esse papel de diretor executivo, centralizava a e deixava pouca coisa chegar na diretoria. Com um poder, credibilidade fantástica de gestão de futebol. De um treinador que conhece das quatro linhas até os bastidores. Foi um erro irreparável, o segundo erro ter assumido o compromisso com uma pessoa que não estava muito com a gente, que foi o Ronaldinho. Se estivesse valeria. Se eu estivesse mais próximo teria condições de ajudar mais. Ele sempre foi muito legal comigo. Faltou aquele papo. Ou vira amigo e convence do que é realmente importante para o Flamengo ou não vai dar certo. Vou contar a história de um supervisor, que contratou o melhor amigo do Adriano. Ganhava um salário merreca só para tomar conta do Adriano. O cara ia para o treino com o Adriano, buscava o Adriano, o cara virou baba. E o Adriano deu certo e foi campeão. Não sei se (o Ronaldinho) precisava de baba, mas alguém mais amigo dele para entender a grandeza do Flamengo, do quanto precisávamos deles”.
“No futebol o principal erro, sem sombra de dúvidas, foi a saída do Vanderlei. O Vanderlei fazia esse papel de diretor executivo, centralizava a e deixava pouca coisa chegar na diretoria. Com um poder, credibilidade fantástica de gestão de futebol. De um treinador que conhece das quatro linhas até os bastidores. Foi um erro irreparável, o segundo erro ter assumido o compromisso com uma pessoa que não estava muito com a gente, que foi o Ronaldinho. Se estivesse valeria. Se eu estivesse mais próximo teria condições de ajudar mais. Ele sempre foi muito legal comigo. Faltou aquele papo. Ou vira amigo e convence do que é realmente importante para o Flamengo ou não vai dar certo. Vou contar a história de um supervisor, que contratou o melhor amigo do Adriano. Ganhava um salário merreca só para tomar conta do Adriano. O cara ia para o treino com o Adriano, buscava o Adriano, o cara virou baba. E o Adriano deu certo e foi campeão. Não sei se (o Ronaldinho) precisava de baba, mas alguém mais amigo dele para entender a grandeza do Flamengo, do quanto precisávamos deles”.
A Patricia Amorim afirmou que foi avaliada somente pelos resultados do futebol. Foi mesmo?
“Não acho. Acho que a avaliação dela, a derrota dela, com certeza, em
grande parte foi no futebol. A avaliação foi de razoável para boa. Ela
teve mais voto do que na última eleição. O que foi avaliado? Quando você
é presidente começa a ter desgaste, tanto que teve 720 votos, no dia
seguinte do hexa e nessa eleição e teve 914. Houve uma grande
mobilização da chapa vencedora, fantástica, nunca vista na história do
Flamengo, quem tem um cabo eleitoral chamado Arthur Antunes Coimbra,
Zico, difícil de perder a eleição, todos os ex-presidente apoiando”.
Como você chegou no Flamengo?
“Eu ia de geral em todos os jogos, quando meu pai morreu fui morar em
Ipanema, comecei a frequentar o clube como sócio. Comecei a participar
ajudando algumas pessoas, não tinha interesse. Dessa vez eu resolvi
participar, recebi o convite para ser diretor, acabei virando
vice-presidente de duas pastas no final, foi muito legal, não me
arrependo de nada. O cara que saiu da geral do Maracanã, ter duas
vice-presidências no Flamengo é uma honra, nem no meu melhor sonho eu
sonhei isso. É uma realização, um sonho, fazer um grão de areia de fazer
parte da história do Flamengo”.
Você falou que foi razoável na parte administrativa. Chegou a ter erros graves, estava complicado comandar os dois setores?
“É impossível gerir duas pastas. Comentei com a presidente Patricia
Amorim mais no final. Tinha pretensão de resolver em janeiro. Abrir mão
de administração e ficar com só com a Fla-Gávea. Gosto de ver o
resultado imediato, a administração é mais burocrática, demora mais”.
E como está sendo o trabalho de transição?
“Eu acho que essa transição nunca foi vista no Flamengo. Da maneira
que está sendo conduzida pelos dois grupos. Para a minha surpresa,
profissional. Amistosa. Esse pode ser o começo do sucesso da nova
gestão. Não podem abrir mão da experiência. É impossível sentar hoje sem
a colaboração do ex vice presidente da pasta. Se isso acontecer são uns
seis meses que você perde para tomar pé da situação. Isso é
fundamental. Eu estou passando exatamente o que foi feito e o que
precisa ser feito. A arquibancada do futebol precisa passar por um
reforço estrutural, e as piscinas da sede, que foi onde a Patricia
Amorim nasceu, ela não conseguiu fazer uma reforma, para você ver como
houve um pouco de preconceito. Isso é urgente, prioridade, é risco, é
responsabilidade que nós temos que ter. Estava na programação a piscina
entrar em obra no inverno, e a arquibancada no mais tardar em março. Os
ginásios tem o da ginástico que pegou fogo, que é um ginásio que vai ter
que ter uma reparação na parte de cobertura, maquinário, de
aparelhagem, tem seguro, cobre até 10 milhões, vai ser fácil de tocar
isso, tão logo os presidentes assumam já vai entrar com o projeto”.
O que falar do Michel Levy, polêmico vice de finanças, com o qual teve muitos atritos?
“O Michel pensa diferente de mim muita das vezes, mas foi fundamental
para gestão. Porque completava a gestão. Ele muitas vezes matou muitas
coisas no peito, vários desgastes. Vou frisar, pensa muitas vezes
totalmente diferente de mim, muitas vezes tivemos divergências
marcantes, mas é um cara que eu respeito e teve um papel sacrificante na
gestão”.
Recado final para os torcedores do Flamengo, sócios e família…
“A maior lição que meu pai me passou foi a de que é melhor pecar pelo
excesso do que pela omissão. E eu acho que isso eu levei à risca em
vários momentos. Eu tive coragem para realizar algumas coisas para o
Flamengo. E eu acho que deu certo. Com três meses da gestão me convidou
para ser o vice-presidente do Fla-Gávea. O Michel não estava aguentando e
me pediu para ajudar na administração e acabei assumindo. Peguei
funcionários fantasma, fiz um trabalho legal. Mas o meu prazer maior era
a Gávea. A administração foi um peso, não fui péssimo. Foi razoável. O
Cacau é um apaixonado. Vai torcedor por todos os esportes,
principalmente futebol. Vou ajudar a atual gestão no que for preciso. O
discurso é muito forte de grandes executivos, Zico, o que será depois
dele se não der certo? Então eles têm que dar certo, vou ajudar em tudo
para dar certo. Quem fala por mim não sou eu mesmo. Falar de mim mesmo é
esquisito. Quem fala de mim são os outros quando eu não estou presente.
As nossas atitudes para trás e para frente. Isso vai falar por mim. O
que eu fiz está lá”.