Os
presidentes de Flamengo e Fluminense sentaram lado a lado com o
pavilhão tricolor e nacional ao fundo. O simbolismo do ato vai além da
reunião pela paz neste domingo, na decisão que ficou ameaçado de ter
torcida única. Pedro Abad e Eduardo Bandeira de Mello se abraçaram ao
fim da coletiva e transmitiram a mensagem de que a final da Taça
Guanabara sirva de exemplo para o restante do país de um futebol com
rivalidade, mas sem violência.
A coletiva de imprensa, na
manhã deste sábado, nas Laranjeiras, foi mais um esforço dos clubes -
que agradeceram ao presidente da Ferj, Rubens Lopes, e o presidente do
Vasco, Eurico Miranda - para conclamar pela união do futebol carioca. Os
dois presidentes evitaram polemizar com o Botafogo - que por meio do
presidente Carlos Eduardo Pereira tentou transferir a final para o
Maracanã e ainda disse que "assassinos poderão ir ao jogo", em protesto
contra a decisão judicial. Abad disse que tem ótima relação com o seu
colega alvinegro e preferiu focar nos temas em discussão.
Abad
e Bandeira se posicionaram contrários ao Termo de Ajustamento de
Conduta que o Ministério Público quer levar aos clubes e à Ferj. O
tricolor Pedro Abad criticou os termos propostos e classificou como
"bastante inadequada" as penalidades previstas.
- TAC é um
instrumento para reduzir a potencialidade de um ato até que ela suma.
Mas esse TAC ficou muito esquisito. Ainda mais com uma penalidade desse
monte (R$ 3 milhões) que o clube não consegue controlar. Clube de
futebol não é Estado. Como um clube consegue num raio de tantos
quilômetros impedir uma briga? É complicado, porque clube não adota
conduta ilícita e as penalidades são agressivas. Esse TAC é bastante
inadequado - disse Abad.
Mais político, Bandeira falou em
cooperação com o Ministério Público por medida mais eficaz no combate à
violência. Eles apelaram ainda à colaboração das torcidas organizadas. O
presidente do Flamengo defendeu que dirigentes que incitem a violência
sejam processados e presos.
- Acho que os clubes que tenham
relação incestuosa com organizadas, que sejam responsáveis por incitar a
violência, cabe mais do que a multa. Acho que as pessoas físicas
envolvidas nisso, se for provado e for algum dirigente do Flamengo, têm
que ser processada e presa. Porque são talvez mais responsáveis pela
violência do que os arruaceiros - afirmou Bandeira.
Confira outros trechos da coletiva de imprensa de Abad e Bandeira:
Reunião Fla-Flu
Abad:
Estamos contentes com o desfecho. Tivemos atitudes no limite para a
torcida ir ao jogo. Isso não é exclusivo ao Flu e ao Fla, mas a todos os
clubes. É para manter a tradição de ter as torcidas cantando nos
estádios. Isso deve ser preservado. Espero que isso seja constante daqui
para frente. Foi um trabalho conjunto com o Flamengo, temos de
agradecer ainda ao Eurico Miranda (presidente do Vasco) e ao Rubens
Lopes (presidente da Ferj) que nos ajudaram.
Bandeira:
Sempre fui criado no Maracanã, morava perto, assistia a todos os jogos
do Flamengo. Sempre com torcida mista. Sempre fui ao estádio com meus
amigos tricolores, vascaínos, botafoguenses e nunca brigamos. A tradição
de torcida mista deve ser preservada, faz parte da nossa cultura. O
desembargador reconheceu isso para a nossa alegria. Isso nos dá
responsabilidade. Temos de manter e ampliar a campanha pela paz nos
estádios. Nós merecemos a torcida mista. Quero agradecer a postura do
Fluminense, do presidente Abad. Ele foi firme, teve coerência ímpar. Ele
poderia ter tido uma decisão após ter vencido o sorteio do mando, mas
esteve ao nosso lado. O Flamengo fez o mesmo contra o Vasco, pois o
mando era nosso. O presidente Eurico está conosco nessa campanha pela
paz.
Presidentes se abraçam no fim da coletiva realizada para celebrar decisão de torcida mista (Foto: Hector Werlang)
Prejuízo à venda de ingressos
Abad:
Como mandante... o Estatuto do Torcedor prevê um prazo para a venda.
Como a gente aguardou o desfecho judicial, nós seguramos a venda. É
natural que haja uma grande demanda na compra. É um efeito colateral
menor na venda de uma torcida só. Levamos ao limite a abertura da venda
para restaurar o cenário.
Bandeira: Os torcedores compreendem que é uma situação atípica. Vai dar tudo
certo. Antigamente, não havia venda antecipada, e o estádio lotava.
Todos vão compreender.
Contato com torcidas organizadasAbad:
Não fizemos contato. É uma sugestão boa, realmente. As organizadas têm a
sua importância. Mas há uma minoria que desvirtua. Espero que elas deem
exemplo de conduta. Têm de se portar em um estádio que não é de
Flamengo e Fluminense. Sem quebrar banheiro, sem quebrar nada. Eles
precisam disso também para melhorar a sua imagem para mudar o tratamento
recebido.
Bandeira: Não houve da parte do Flamengo, mas aproveito agora para pedir. Sou fã
do movimento das organizadas lá no começo, porém, ele foi desvirtuado
por alguns elementos. Gostaria muito que eles se engajassem na campanha
pela paz. Não vamos aceitar a violência. Vamos cuidar do estádio, ele é
público, está sob concessão do Botafogo.
Próximos clássicos
Abad:
Um leão de cada vez. Se amanhã houver um exemplo de comportamento, sem
violência e sem destruição do patrimônio público, o argumento para
termos as duas torcidas cresce. Cabe aos torcedores o papel principal.
Eles têm de mostrar que isso pode se perpetuar.
Termo de Ajustamento de Conduta
Bandeira:
Apesar de os clubes contestarem os termos do TAC, estaremos à
disposição do MP para discutir medidas para coibir a violência. Sempre
defendi que a violência seja atacada na raiz, ou seja, nas pessoas
físicas que cometem atos ilícitos. Tem de se aplicar as penas para
resolver a questão.
Decisão judicial
Abad: Atlético-MG e Cruzeiro fazem partidas
com torcida única. Acho que esse pioneirismo de Flu e Fla pode ajudar
os outros clubes. O desembargador entendeu os esforços feitos pelos
clubes e pela federação. A torcida única não quer dizer nada quanto à
segurança. Hoje em dia se marca confusão por rede social. A torcida
única incita que a que não vai entrar vá ao estádio.
Bandeira:
Na decisão do desembargador, há a fundamentação. Ele entende que
torcida única não é solução e pode gerar problema. Penso assim. Torcida
única não garante a segurança fora do estádio. É isso. A campanha da paz
vai continuar. Conto com o Fluminense, o Vasco já se manifestou também.
Todos devem se engajar.