Afinal, Ibson
é maluco ou não? Essa foi a palavra que o jogador mais ouviu quando
resolveu trocar o Santos, time da moda, pelo Flamengo, que enfrentava um
momento de pressão depois das eliminações na Libertadores e no Carioca.
Para se defender das acusações sobre sua sanidade mental, o volante diz
que não rasga dinheiro, mas confessa que foi uma loucura quando recebeu
um convite e se viu cara a cara com Pelé. Aos 28 anos, ele se orgulha
de ter defendido o time do Rei do futebol, mas diz que o Rubro-Negro de
Zico é diferente de tudo.
Ibson justifica troca de Santos por Fla: 'Vestir essa camisa é diferente' (Foto: Janir Júnior / Globoesporte.com)
- Diziam muito que eu era maluco por sair do Santos. Maluco eu não sou,
não rasgo dinheiro. Claro que saí de um grande clube, com uma equipe
que jogava junta há bastante tempo, e vim para um clube que estava em
turbulência, que infelizmente não se classificou para a Libertadores,
estava num clima ruim, ficou 30 dias parado. Mas eu cheguei bastante
feliz, tenho o Flamengo guardado dentro do meu coração. Nosso time está
bom, não temos uma equipe ruim. Espero que possamos mostrar isso dentro
de campo - afirmou Ibson, dono da camisa 7, número que mereceu uma
tatuagem em sua perna direita.
Ele explica por que acha que jogar no Flamengo é fora do comum:
- Aqui é mais complicado, a torcida, é pressão o tempo todo, são 40
milhões de torcedores, vestir essa camisa é diferente, não é fácil.
Na Baixada Santista, a mulher Cinthia fez amizade com a esposa de
Edinho, filho de Pelé. As duas jogavam futevôlei juntas. Numa bela tarde
de folga, o telefone tocou. Do outro lado da linha, veio um convite que
mexeu com a cabeça do jogador.
- Foi uma coisa meio maluca conhecer o Pelé. Fizemos uma amizade bacana
com o filho dele, Edinho. Minha esposa é amiga da mulher dele. Teve um
dia que a gente estava em casa, e a esposa do Edinho ligou e convidou a
gente para ir ao Guarujá, na casa do Pelé. Eu perguntei: “Para onde?” É,
para a casa do Pelé. Fui muito bem recebido. Ele realmente é um cara
sensacional, pegava meus filhos para brincar. Depois, eu estava
concentrado, e minha esposa saiu para jantar com ele. Foi uma
experiência muito bacana, meio louca, meio maluca. E não conversamos
sobre futebol, até para ele deve ser complicado, as pessoas ficam muito
em cima desse assunto. Foi uma reunião de família, conversa sadia -
recordou.
Do passado para o presente, Ibson também conviveu com a maior estrela
do futebol brasileiro na atualidade. Neymar virou um amigo e merece nota
máxima na sua avaliação.
- Além de jogador, como ser humano o Neymar não é dez, é mil. A gente
sempre se fala. Antes do jogo (contra o Corinthians, pela Libertadores,
na quarta-feira), falei com ele, desejei sorte, estava na torcida. Não
só ele como outros jogadores, como Edu Dracena, Arouca, Adriano, são
amigos que eu fiz. Depois do jogo falei com o Borges. Temos uma amizade
bacana. Pelos clubes que passei sempre fiz bons amigos. Isso é difícil
de acontecer no futebol, mas nunca tive problema algum. Neymar é um
garoto sensacional, sempre disposto a ajudar, último a sair do campo,
treina sempre para melhorar.
Saiu de cena o menino da Vila, e o dia a dia de Ibson passou a ser ao
lado da garotada do Flamengo. Apesar de ter bom relacionamento com todos
os jogadores, o camisa 7 sempre é visto mais próximo dos jovens. A
explicação vem escrita pela sua própria história no clube.
- Passei por essa transição dos juniores para o profissional quando
subi em 2003. Você chega meio tímido, acanhado, olha para os caras que
costumava ver pela televisão, e eles estão ao seu lado. Tento aproximar
os mais novos. Mas brinco com todo mundo.
Brincadeiras à parte, Ibson tem duas marcas sérias em seu currículo: ter defendido os times que um dia foram de Pelé e Zico.
- É a camisa que Zico vestiu, como o Pelé vestiu a do Santos. É uma
baita história, dois clubes que tiveram jogadores que marcaram a
história do futebol, não só brasileiro como mundial. Fico feliz por ter
vestido a camisa do Santos e do Flamengo.
Para voltar a vestir a camisa do Flamengo, além de um salário mais
baixo do que recebia no Santos, Ibson tem que trilhar um longo caminho.
Não em campo, onde é titular absoluto, mas sim para chegar até o Ninho
do Urubu, já que mora perto de Maricá.
- Coisa de maluco, levo uma hora e meia ou uma hora e quarenta
(minutos) todo dia. Mas estou procurando um apartamento, uma casinha
para alugar aqui no Rio, porque está brabo. Niterói é a terrinha,
bacana, não tenho vontade de sair de lá. Mas está difícil porque a
esposa está cobrando, o marido está faltando em casa, chega tarde e quer
dormir. Aí a patroa reclama - revelou Ibson, que não é nem maluco de
questionar Cinthia.
Neste domingo, Ibson, do Flamengo que já foi de Zico, enfrenta o
Santos, que já foi de Pelé. A partida será às 16h (de Brasília), no
Engenhão, pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro.
Ibson, Durval e Neymar na comemoração do título paulista deste ano pelo Santos (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)