A
pergunta veio de um dos muitos estudantes na plateia, e foi feita ao
presidente do Clube de Regatas do Flamengo logo após o final de sua
palestra no encerramento do primeiro dia de trabalhos do...
I CONGREFUT – Congresso de Gestão do Futebol na USP
- Presidente, qual foi seu maior erro como gestor do Flamengo?
Eduardo Bandeira de Mello pensou alguns segundos...
- No começo de minha gestão eu deleguei demais e para quem não devia...
Parou alguns segundos e continuou:
- Errei também em algumas trocas de treinadores,
algumas foram precipitadas. Hoje tenho claro que a alta rotatividade de
treinadores não é benéfica.
Vale a pena repetir e destacar:
“Hoje tenho claro que a alta rotatividade de treinadores não é benéfica.”
Naquele mesmo momento em que o presidente
rubro-negro respondia ao estudante da USP, pela 18ª rodada do
Brasileirão 2017 o São Paulo suava no Morumbi no 6º jogo sob o comando
de Dorival Júnior, seu terceiro treinador na competição (contando com 1
jogo dirigido por Pintado), enfrentando o Coritiba, que fazia o 2º jogo
no retorno de Marcelo Oliveira ao Coxa, também ele o terceiro técnico da
equipe nesse campeonato.
Mudanças demais, né?
Nesse momento em que escrevo, na véspera do início
da 19ª e última rodada do primeiro turno do campeonato, 14 treinadores
já foram demitidos. Jorginho, que treinava o Bahia, foi a última vítima.
Anteontem, depois de mais um grande jogo, cheio de
nuances, gol anulado, bola na trave o Flamengo foi novamente derrotado
pelo Santos. No retorno ao Rio de Janeiro, muros pichados, protestos e
uma quase agressão ao treinador Zé Ricardo, fato que o presidente
Bandeira comentou muito revoltado.
Hoje, sexta-feira, a direção do clube com a melhor
gestão do Brasil, muito, muito à frente dos demais, entra em uma reunião
programada para discutir estratégia e metas para o futuro próximo, mas
que será “ocupada” pelo futebol, graças à fortíssima pressão sobre os
dirigentes, treinador e jogadores, por parte de torcedores, sócios e
dirigentes inconformados com o desempenho do time no campeonato.
O fato de o clube ter conseguido um equilíbrio
ainda não completo na área financeira é traduzido como “obrigação de
ganhar tudo em campo”, afinal, devem pensar os exigentes torcedores, os
salários estão em dia, portanto, tem que ganhar.Como se fosse assim tão simples...
A situação vivida pelo Flamengo de hoje, que deixou
de ter a pior gestão do país para ter a melhor, mostra claramente que
gestão do futebol é tema que ainda dará muito pano pra manga.
Ela não existe e quando existe não é compreendida,
em boa parte porque a maioria das pessoas espera ou acredita e exige
resultados imediatos, já, aqui & agora... As mesmas pessoas que
cobram... boa gestão e, aparentemente, não conseguem perceber essa
contradição.
Vivemos em um tempo dominado pela impaciência.
O imediatismo dos novos tempos ignora ou passa por
cima do fato de que uma gestão boa, excelente, não nasce pronta e
acabada. Ela é construída no desenvolvimento de um processo que demanda
tempo, visão, inteligência e também persistência.
Isso vale para a presidência e direção de um clube
de futebol, como vale para gestão do futebol propriamente dito, ou seja,
a gestão técnica de uma equipe.
O CONGREFUT é uma grata surpresa. Ontem, durante a
pausa para o almoço os organizadores mudaram o local das palestras, pois
o auditório usado pela manhã, com 130 lugares, lotou e o jeito foi
mudar as palestras da tarde para o auditório inicialmente programado
apenas para a apresentação de Eduardo Bandeira de Mello, no final dos
trabalhos do dia. Também esse auditório, com o dobro da capacidade,
acabou quase totalmente lotado.
Isso é muito bom, por demonstrar o interesse de uma
nova geração de futuros profissionais em conhecer o extra campo do
futebol. E muito bom também por vermos uma iniciativa desse tipo,
pensada e levada pelos alunos de uma universidade pública, que criaram a
FEA Sport Business para atuar nessa área. Para esse primeiro congresso
eles contaram com o apoio da Armatore e da Sportfood.
Por fim, é muito animador presenciar e participar
desse evento, sobretudo num momento em que, pelo Brasil inteiro as
notícias que vêm dessas instituições fundamentais para o país e para o
futuro têm sido muito pouco ou nada animadoras.
Que venha o II CONGREFUT e outros mais.
Porque está mesmo na hora de repensar o futebol.