terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Doce, noitadas, deslumbramento e volta por cima: as histórias de Pico


Anderson Pico, lateral-esquerdo do Flamengo.  (Foto: Janir Junior)Ainda criança, Anderson recebeu dos irmãos o apelido de “Pico”. O motivo e significado: o menino de família humilde era bagunceiro ao extremo. Ele cresceu, virou jogador de futebol, foi criado dentro do Grêmio e seguiu fazendo jus ao sobrenome informal. Já como Anderson Pico aprontou com excessos fora das quatro linhas. No Sul, alguns não tinham dúvida em afirmar que sua carreira estava no fim. Eis que, aos 26 anos, o lateral-esquerdo recebeu aquela que pode ser sua última chance através de Vanderlei Luxemburgo. O treinador deu oportunidade, mas também conselhos na sua chegada ao Flamengo. Ele, então, fechou a boca para combater os quilos a mais que sempre o acompanharam; e fechou os olhos para as tentações do Rio de Janeiro. 

Anderson Pico concorda ao ser questionado se é um exemplo dos altos e baixos que vive um jogador de futebol. 

- Quando se vem de família humilde é complicado, deslumbra muito com dinheiro, com a vida fácil que temos. Não só com dinheiro. Noite, bebida...Não digo que não possamos ter essa vida, mas não dá para conciliar noite e bebida sendo atleta profissional. Para mim, faltou isso (maturidade). Não tive a cabeça que tenho hoje. Estou em pleno Rio de Janeiro, acordo cedo, malho, levo meu filho para passear. Perdi quase três anos da vida do meu filho por conta da vida que levava. Queria curtir mais e deixava minha família de lado. Se tivesse a mentalidade que tenho hoje há seis anos, estaria em outra situação e patamar de vida. Mas Deus me deu nova oportunidade. Hoje estou com 26 anos, posso falar de peito aberto, pois amadureci muito. Tenho que pensar que tenho dois filhos, e no meu futuro. Só depende de mim estar feliz, bem fisicamente, começar 2015  bem. E não acontecer como em outros anos – declarou Anderson Pico. 

Depois de surgir no Grêmio, Anderson Pico cedeu às tentações, extrapolou, rodou por times como Chapecoense e Novo Hamburgo. Ficou desempregado na atual temporada. Dinheiro escasso. E com o segundo filho a caminho. Quando viu Vanderlei Luxemburgo no comando do Rubro-Negro, decidiu pedir uma oportunidade. Pegou um ônibus em Porto Alegre e desembarcou no Rio. Sem holofotes nem anúncios, passou a treinar até em três períodos. Em quatro meses, perdeu 14 quilos. Para atingir o que foi determinado pela comissão técnica, precisar baixar mais dois.  
 
- Entrei no grupo de maneira tranquila, sem ser apresentado pela imprensa. Fazem quatro meses que estou aqui, buscando meu crescimento pessoal. Muita gente ficou com pensamento de que eu me perderia no Rio, pelo meu passado e pelo que vinha fazendo na minha carreira. Mas não preciso provar nada para ninguém, só para mim mesmo. Vanderlei disse para não me unir com as pessoas erradas, trabalhar tranquilo, revelou o que o Rio proporciona, as celebridades. Estou concentrado – garantiu o jogador.

Quando curtia a vida como se não houvesse amanhã, foi Fabiana, sua mulher, quem segurou as pontas:

- Ela é minha esposa há sete anos, minha parceira, me segurou de algumas coisas erradas da vida, nunca deixou a peteca cair. Ela que está comigo 24 horas. Sempre me deu auxílio. Quando cheguei no Rio, morei na casa de um amigo, milha mulher ficou no Sul. Cada vez que ligava para casa, eu chorava, ficava chateado. Mas ela (Fabiana) sabia que eu estava bem feliz. E no Rio uma espécie de irmão para mim me ajudou bastante.

O contrato de Anderson Pico se encerra no dia 31 de dezembro, mas com opção de ser renovado por mais dois anos, o que está praticamente certo. Ele, inclusive, vai abrir mão das férias:

- Chega de férias, não preciso mais. Estou empregado em um grande clube, vou ficar cinco dias com minha família, e volto com academia, trabalho.

Domingo, ele estará frente a frente com seu clube formador. Flamengo e Grêmio se enfrentam em Porto Alegre.

- Joguei pelo Novo Hamburgo contra o Grêmio, mas hoje, no Flamengo, as pessoa já estão me vendo com outros olhos. Vários no Sul disseram que minha carreira tinha acabado, que era ex-jogador. Não tenho mágoa, respeito todos lá dentro. Mas futebol é isso. Sei que seremos vaiados, mas quero deixar uma boa última impressão - disse o jogador

Origem do apelido e loucura por doce

Anderson Pico, lateral-esquerdo do Flamengo.  (Foto: Janir Junior)Em praticamente todas as entrevistas, Pico é questionado sobre seu peso, um problema que o acompanha em toda carreira e que já causou até seu afastamento no Grêmio. Ele leva na esportiva, mas se previne. Doce, nem pensar.

- Sempre fui assim, meu biótipo é assim. Nunca escondi isso (do peso). Desde os juniores até o profissional. Luto diariamente, fujo de tentações. Meu filho pequeno gosta de doce, sei que não posso comer, vai me prejudicar. Não consigo comer apenas um pedacinho. Em casa, doce é proibido, minha mulher não faz. Muito de vez em quando bebo um refrigerante. A vontade é muito grande: os caras na minha frente comendo pizza, e eu na salada, peixe e frango (risos). Vanderlei fala que tenho que matar um leão por dia e correr de dois - ressaltou.

Desde que chegou ao Rio, Anderson atuou em oito jogos e fez um gol. Foi na vitória por 3 a 0 sobre a Chapecoense, quando marcou um belo gol e teve atuação de destaque. Foi o suficiente para surgirem manchetes e trocadilhos com seu apelido que remete a uma expressão comum entre os boleiros: “Pico das Galáxias”. 

- Meu apelido é Pico, pois eu era muito bagunceiro, meus irmãos me chamam assim. Isso antes da bola. Vi o “Pico das galáxias”. Achei bom, gostei (risos). Não tinha noção do tamanho que é o Flamengo, é muita torcida, fanatismo, muita loucura. 





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