quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fla estuda acionar CBF na Justiça pelo título de 87

O Flamengo deve encaminhar em breve à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) um segundo pedido de reconsideração sobre o título do Campeonato Brasileiro de 1987. Na segunda-feira, o procurador geral do Rubro-Negro, Rafael de Piro, confirmou à reportagem do LANCENET! que o clube está trabalhando para finalizar o documento que será enviado à CBF. Uma estratégia parecida para conseguir o reconhecimento da entidade máxima do futebol nacional já havia sido tentada no início de 2010, logo após o hexacampeonato do Fla.

- O Flamengo pode sair vitorioso desta vez. Eles argumentaram que a decisão de entregar o título de 87 ao Sport foi devido a uma decisão judicial, mas na verdade ela não invalida a possibilidade de o Flamengo também ser considerado campeão - afirmou De Piro.

Na terça-feira, com a repercussão que o assunto ganhou após a publicação na coluna De Prima, a presidente do Flamengo, Patricia Amorim, apaziguou os ânimos:

- Ainda é um estudo, não é uma posição oficial do Flamengo aceitar isso como um embasamento de uma defesa que nós possamos fazer. De fato, não abandonamos o assunto, estamos estudando e vamos lutar pelos nossos direitos, isso é algo de que não abriremos mão. Mas a fase atual é de estudo.

Em dezembro, quando a CBF reafirmou sua posição de declarar o Sport como único campeão em 1987, a diretoria do Flamengo já sinalizava argumentar no sentido de uma interpretação equivocada da entidade sobre o assunto. Em nota assinada pelos presidentes de todos os poderes, o clube afirmou que "o reconhecimento do Flamengo como Campeão Brasileiro de 1987 em nada afrontaria a coisa julgada".

Teixeira pode até ser expulso do Fla

Uma comissão no Conselho de Administração do Flamengo, órgão responsável por zelar pela conduta de sócios e ex-dirigentes, estuda denúncia enviada pelo presidente do Conselho Fiscal, Leonardo Ribeiro, que pode resultar na expulsão do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, do quadro de beneméritos ou associativo do Rubro-Negro.

O argumento para a expulsão de Teixeira é de que a atitude do presidente da CBF de não oficializar o título de 1987 do Fla foi incompatível com a de um benemérito rubro-negro, e se baseia no artigo 50 do estatuto, que versa sobre "praticar ato de grave indisciplina social ou desportiva" e tem pena prevista de suspensão de 360 dias ou a eliminação do quadro de associados. O pedido foi acatado em janeiro e a comissão tem até março para enviar um parecer. O resultado ainda passará por votação em plenário do Conselho de Administração.

Em agosto do ano passado, houve uma primeira tentativa de suspender Teixeira do quadro associativo do Flamengo, que foi rejeitada na ocasião pelo Conselho de Administração do clube.

BATE BOLA:
Rafael B. Fontelles (Advogado)

O Flamengo requisitou ajuda a você nesta questão do título de 1987?
Na verdade, fiz a análise do parecer jurídico da CBF por vontade própria, ao tomar conhecimento das argumentações que fizeram e por considerar que elas eram cheias de falhas. Enviei minhas conclusões ao clube.

E que falhas são estas?
Colocar o argumento de que o título de 87 não pode ser oficializado também ao Flamengo por causa de um decisão judicial não tem embasamento jurídico, isto porque não há impedimento de o Flamengo ser assim considerado. Não há nenhuma restrição naquela sentença em que a CBF se fundamenta.

Mas declarar dois campeões para a mesma competição não é antidesportivo?
O próprio Sport, que foi quem entrou com esta ação, reconheceu o título do Flamengo de 1987, no Clube dos 13.

OPINIÃO
Roberto Assaf, colunista do LANCE!, se posiciona sobre o campeão de 1987:

"Uma revolução aconteceu no futebol nacional em 1987. A CBF, mal administrada e sem recursos, declarou-se incapaz de promover o Brasileiro daquele ano, levando os principais clubes do país a criarem, em 11 de julho, uma liga independente chamada Clube dos 13. Este organizou a Copa União, reunindo 16 times, incluindo três convidados: Coritiba, Goiás e Santa Cruz, seguindo um ranking estabelecido com base no histórico do campeonato, desde 1971.

O movimento obteve três aliados, a Coca-Cola, a Varig, e principalmente a TV Globo, que comprou o evento com exclusividade. Sem opção, o presidente da CBF, Octávio Pinto Guimarães, aceitou tudo o que foi proposto. Mas em 14 de julho, o seu vice, Nabi Abi Chedid, resolveu divergir, mostrando que as transmissões de jogos ao vivo, inclusive para as próprias praças, iriam espantar o público dos estádios. Alegou também o dirigente que os clubes excluídos da Copa União, tal como essa foi formulada, seriam prejudicados.

Seguiram-se quase dois meses de discussões. Em 3 de setembro, o Clube dos 13 e a CBF anunciaram um novo acerto, um campeonato com 32 clubes, divididos em dois módulos: o Verde, reunindo os 16 principais, cujo vencedor seria declarado o campeão brasileiro, e o Amarelo, com outros 16 times, também escolhidos com base no tal ranking histórico, na realidade uma Segunda Divisão. Ao fim do campeonato, de acordo com o regulamento, os dois primeiros colocados de cada módulo disputariam um quadrangular, mas apenas para escolher os representantes do país na Taça Libertadores de 1988, para que o tal Amarelo tivesse um mínimo de dignidade.

O Clube dos 13 seguiu no firme propósito de descartar os caprichos e interesses de Nabi, cuja resistência, minada pela força dos grandes, acabou sendo vencida. Logo, o Clube dos 13 anunciou o início da Copa União para 11 de setembro, como ocorreu. O sucesso foi imediato. Por isso, os clubes do Amarelo não tardaram a pressionar a CBF, que resolveu anunciar um outro regulamento, embora - isso é incrível - a entidade não fosse a responsável pela organização do campeonato.

Segundo a nova determinação, imposta com a competição em pleno andamento, o quadrangular previsto para indicar os dois times do país na Libertadores, apontaria também o campeão brasileiro.

O Clube dos 13, é claro, e por unanimidade, descartou imediatamente tal possibilidade, recusando-se enfim a cumpri-la. Vale lembrar que as desavenças políticas entre Nabi e seus adversários continuaram existindo, e que o dirigente não tardou a assumir efetivamente o comando da CBF, depois que Octávio, enfermo, viu-se obrigado a se afastar da presidência da entidade. Assim, tornou o regulamento que previa o tal cruzamento, imposto com o campeonato em andamento, definitivamente oficial, embora não pudesse fazê-lo, pois a CBF - repita-se - não era a responsável pela organização do Brasileiro.

E ainda declarou o Sport como campeão, embora qualquer torcedor com bom senso e com capacidade para a compreensão dos fatos saiba que o verdadeiro vencedor daquele ano é o Flamengo".



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