terça-feira, 29 de março de 2011

'Perseguido' por Adriano, Deivid desafaba: ‘Fico incomodado’

O gol marcado no empate por 3 a 3 com o Madureira, domingo passado, trouxe alívio passageiro. Tão logo as vaias e os insistentes pedidos da torcida por Adriano recomeçaram no estádio Cláudio Moacyr, em Macaé, a sensação incômoda voltou. A sombra do Imperador é marcadora implacável e uma constante na passagem de Deivid pelo Flamengo.

- É normal. A cobrança é grande pelo fato de o Adriano ter conquistado o título brasileiro depois de 17 anos. A torcida tem um carinho enorme por ele. E também pela esperança na minha chegada. A cobrança sempre vai existir. Tem de estar preparado, ciente do que está acontecendo. Jogar em times de massa, como Flamengo e Corinthians, é assim.

Normal, mas nada confortável. Contratado em agosto do ano passado para ser o substituto do ídolo, Deivid teve uma apresentação pomposa na Gávea ao lado de Diogo (hoje no Santos). O ataque D2 tinha a bênção de Zico (então diretor-executivo de futebol), prometia fazer o torcedor esquecer o Império do Amor, de Adriano e Vagner Love, mas não durou mais do que quatro meses.

A sombra do Império do Amor
Deivid 9 gols em 30 jogos média: 0,3
Adriano 34 gols em 48 jogos média: 0,7
Vagner Love 23 gols em 29 jogos média: 0,8

A notícia da rescisão de Adriano com o Roma, no início deste mês, causou alvoroço entre torcedores do Fla que sonhavam com a volta do jogador. A vontade esbarrou no técnico Vanderlei Luxemburgo, que sempre se posicionou contra a ideia. O acerto do atacante com o Corinthians encorpou a onda de protestos.

- Está me perseguindo (Adriano). É gente boa, tive o prazer de conhecê-lo, é um cara bom. Mas o Adriano já fechou com o Corinthians e não está mais aqui. Que ele possa ter sucesso. Quem está dentro fica incomodado. Temos de esquecer isso, manter o foco no Flamengo. O importante é que todos remem no mesmo barco, para o mesmo lado.

Silêncio sobre lesão e escassez de gols

Quando o Flamengo anunciou a contratação de Deivid, o torcedor rubro-negro vasculhou na memória e encontrou os muitos gols do atacante com as camisas de Corinthians, Santos e Cruzeiro. O Rubro-Negro adquiriu 100% de seus diretos federativos e econômicos e firmou contrato até dezembro de 2012. Ele estava no Fenerbahçe, da Turquia, há quatro temporadas quando recebeu a proposta de Zico. Aos 31 anos, o jogador de currículo lotado de títulos (bicampeão brasileiro, bi da Copa do Brasil, campeão mineiro, do Rio-São Paulo e campeão turco) ainda não vingou com a camisa rubro-negra. É ele quem aponta os motivos.

Deivid Flamengo (Foto: Richard Fausto / Globoesporte.com)Deivid ainda se sente capaz de conquistar a torcida (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)

- Cheguei com sete quilos acima do peso, estava há seis meses sem jogar, quase não treinava lá (na Turquia). Estava com um problema atrás da coxa (esquerda) e não sabia o que era. Era o nervo ciático, queimava a perna (esquerda), não conseguia dar a arrancada. Mas não falei nada porque nunca gostei de dar desculpa.

Deivid terminou 2010 com a esperança do recomeço. Apostou tudo na pré-temporada, mas as duas semanas de treinos em Londrina, no Paraná, não foram suficientes. Virou reserva de Luxemburgo na final da Taça Guanabara e ficou uma semana afastado dos treinos com o grupo por conta de uma lombalgia. No período, passou por um trabalho de reforço muscular.

- Estou bem, falta um pouco (para estar 100%), mas estou bem melhor em relação ao ano passado. A tendência é melhorar. Estou em busca disso, trabalhando muito forte. Fiz muitos gols nos três grandes clubes que defendi no Brasil. Foram 32 gols no Corinthians em 2002, 21 gols no Santos, saí do Brasil como artilheiro do Campeonato Brasileiro com 15 gols em nove jogos. Estou aqui para ser artilheiro do Brasileiro, da Copa do Brasil...

Reserva e recado de Luxa

Não são apenas os pedidos por Adriano que o incomodam. Deivid reconhece que o desempenho está muito aquém do esperado. Em 30 jogos, foram apenas nove gols.

- Para quem se acostumou a fazer gol, é um número ruim. Criou-se uma expectativa de que eu seria o homem-gol por tudo que fiz nos clubes por onde passei.

O camisa 9 entende e concorda com a maior parte das críticas, mas faz uma ressalva.

- Falam que eu ganho um salário alto demais, mas eu não obriguei o Flamengo a me pagar nada. Recebi uma proposta. Deixa chateado (as críticas). Às vezes fica um pouco injusto. Mas estou acostumado. Torço pelo Flamengo desde pequeno. Sou de Marechal Hermes, na rua em que nasci havia muitos vascaínos, botafoguenses e flamenguistas. Brincávamos na rua e eu fazia planos de jogar no Flamengo. O sonho da minha mãe (Maria, falecida em 2008) era que eu jogasse no Flamengo. Às vezes penso que era melhor ter ficado no sonho. Mas acredito que isso tem de acontecer. Sempre falo que vou vencer aqui, não vou só passear.

Toda vez que senta entre os suplentes o atacante não se conforma. Ele diz que não desaprendeu.

- Ninguém esquece. Por onde passei fiz gols. Espero fazer no Flamengo. Não abro mão, vou vencer. Ficar triste na reserva qualquer um fica. Sempre fui titular. Me vi no banco e fiquei triste. Mas só trabalhando para buscar minha vaga, com respeito aos companheiros. Claro que quero voltar a ser titular, voltar a ter confiança. Mais importante é a confiança do torcedor. Espero conquistar isso.

Deivid Flamengo (Foto: Richard Fausto / Globoesporte.com)
Deivid também precisa reconquistar a confiança de Luxemburgo. Na última sexta-feira, o técnico foi duro com o atacante e condicionou a permanência do camisa 9 no Flamengo a uma mudança de postura. Disse que jogador que não se incomoda com a reserva não serve para ele.

- Conhecendo o Vanderlei, sei que não falou para me afetar. Ele me ajudou, me levou para o Corinthians, para o Cruzeiro, conquistamos juntos, fizemos sucesso juntos. Acredito que foi um desabafo. Acho que não foi para mim. Quero acreditar que não foi.

O atacante confia no seu poder de superação e não está sozinho. Há quem ainda acredite em Deivid. Durante a entrevista no jardim do prédio onde mora, na Zona Oeste do Rio, um rubro-negro aproveitou para confortar o jogador.

- Boa sorte! Só quero dizer que nós acreditamos em você. Não desistimos de você.


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