sexta-feira, 12 de março de 2010

Adriano se consulta com psicóloga, mas garante: 'Não perdi a alegria de jogar'

Entre sorrisos e "cobranças" à imprensa, Adriano concedeu, nesta sexta-feira, na Gávea, sua primeira entrevista coletiva desde a briga que teve com Joana Machado, sua noiva, na favela da Chatuba, na madrugada de sexta-feira da semana passada. Confirmado no time titular para o jogo contra o Vasco, domingo, às 19h30m, no Maracanã, o atacante negou alcoolismo ou uso de drogas, garantiu que o episódio está totalmente superado, e disse que pretende brilhar no clássico para "sair de cabeça erguida".

- Nunca usei drogas, nunca provei nada. Quando falam do Adriano aumentam demais. De repente é porque moro na favela, e aí associam - disse o jogador.

No período em que esteve ausente do clube, pessoas ligadas ao jogador afirmaram que ele voltara a falar em parar de jogar futebol, devido à tristeza depois da briga com Joana. Adriano afirmou que essa hipótese não foi cogitada. Mas disse que se consultou com uma psicóloga indicada pela presidente do Flamengo, Patrícia Amorim.

- Precisava desabafar com alguém. Sou uma pessoa muito fechada - disse o Imperador, que garante estar de bem com a vida.

- O que aconteceu, aconteceu. Acontece na vida privada de todo mundo. Quem nunca brigou com a mulher? Passou, estou feliz de estar treinando com o grupo. Não perdi a alegria de jogar. Infelizmente, aconteceu uma coisa na minha vida que se fosse com outra pessoa não repercutiria tanto. Isso me dá mais força.

Ausente na vitória por 4 a 0 sobre o Resende, assim como nos 3 a 1 sobre o Caracas, Adriano passou a semana tentando perder peso - chegou à seleção para o amistoso contra a Irlanda, no dia 2, pesando 106 quilos. Nesta sexta, o atacante participou apenas da primeira parte do coletivo. Ficou 35 minutos em campo e depois foi para a sala de musculação completar a preparação. Ele teme a falta de ritmo pelo tempo que ficou sem jogar, mas garante que a pausa foi benéfica em relação ao fôlego para o clássico. Segundo Adriano, seu peso atual é 101 quilos e ele jamais esteve oito quilos acima do ideal, que considera 99.


Confira os principais trechos da entrevista:

Nos últimos dias, seu nome esteve envolvido até com o uso de drogas. Gostaríamos que você esclarecesse se isso é verdade.

Nunca usei drogas, nunca provei nada. Quando falam do Adriano aumentam demais. De repente é porque moro na favela e aí associam. Mas lá tem coisas boas, pessoas boas, não vou sair de lá . Sempre fiz os exames e nunca fui acusado. Aí fico chateado porque as pessoas botam isso no jornal e tenho minha família. Ela se preocupa. Não tem nada ver. Meu filho vai à escola e vão dizer: “seu pai é drogado”. Antes de falarem, têm de saber o que aconteceu.

Você voltou a ter problemas com álcool? Ricardo Teixeira, presidente da CBF, disse que não tem problema beber uma cervejinha, mas tem em beber um engradado.

Qual jogador que não bebe cerveja? Quase todos bebem. É porque é o caso do Adriano. Eu tive um problema na época do São Paulo e todo mundo já associa. Se eu tivesse com esse problema de novo, não estaria aqui. Ele (Ricardo Teixeira) falou isso para eu tomar cuidado, não exagerar. E falou a coisa certa. Mas tem gente que toma 10 (cervejas) e fica bem, não fica embriagado. Tem gente que bebe um copinho e fica mal.

Mas quando a polêmica toda aconteceu, o vice de futebol, Marcos Braz, disse que você estava tendo os problemas públicos e notórios.

Ele (Marcos Braz) falou 45 minutos bem de mim e vocês (jornalistas) só colocaram esse final. Aceito todas as críticas. Se eu estiver errado, eu aceito. Mas tem de saber o que aconteceu. Falaram até que eu já estava morto. Isso é não ter noção. Como (eu teria morrido) se estava casa da minha mãe? Fiquei três dias na comunidade. Dizer isso é preconceito. Só pode. Saiu foto da casa da minha mãe em Búzios. Não quero que amanhã ou depois um cara que tenha raiva de mim faça algo desonesto por já saber onde é minha casa. Não precisa dizer quanto custa a casa. Eu abri mão de R$ 17 milhões para ficar aqui. Sabe o que é isso? Sou uma pessoa tranquila, muito humilde, vou na minha comunidade, brinco com o grupo...

Você é uma pessoa que parece se abalar com mais facilidade diante dos problemas. Isso realmente acontece?

Sou uma pessoa que me preocupo com a minha família. E se acontece algo com quem gosto, me abato muito mais rápido. Aconteceu esse episódio com a minha noiva, mas ela não estava errada. Não a agredi, nem ela a mim. Falaram até que eu a acorrentei. Ela queria o meu bem, mas não entendeu. Os jogadores estavam lá, como fazemos todas as quinta-feiras, queriam conhecer a minha comunidade, levei eles lá e ficamos umas duas horas e meia. Como eu não apareci em casa, ela foi lá e chegou lá nervosa, me empurrando, discutiu um pouco com o Bruno. Isso faz parte. Se a pessoa gosta de você, ela quer cuidar. Ela ficou com medo que eu não cheguei na hora que eu tinha determinado e acabou acontecendo isso (risos). Foi bom para eu aprender. Agora vou chegar no horário, se não....


Disseram que o Dunga teve uma conversa com você durante o período com a seleção brasileira para o amistoso com a Irlanda. Como foi essa conversa?

Ele conversou de uma maneira geral e com todo mundo. Claro que ele pergunta como cada um está, diz para se cuidar mais. Mas ele me conhece muito bem como jogador e sempre me passa confiança.

E como foi o encontro com o Jorginho no treino da última quinta-feira, na praia da Barra da Tijuca?

Eu nem sabia que ele estava na praia. Ele conversou, disse que não está dando bola para o que está saindo na imprensa, que sabe do que eu sou capaz e o que posso fazer dentro de campo. Depois ele apertou minha mão e falou “fique em paz”.

A presidente Patrícia Amorim disse, depois do episódio na Chatuba, que gostaria de conversar como você. Houve essa conversa?

Conversamos. Ela tem a preocupação de saber o que houve, até porque cada dia colocam uma coisa no jornal. O próprio Marcos Braz esteve comigo, disse que estava do meu lado, que o que houve era uma coisa ruim, mas que se aprende com a vida. Ela (Patrícia Amorim) me botou à disposição uma psicóloga. Não é psiquiatra. É bem diferente. Foi mais para eu desabafar. Eu precisava desabafar com alguém. Sou uma pessoa calada e fechada.

Você realmente pensou em parar de jogar nos últimos dias?

Não. Nós caímos para aprendermos a levantar. Estou muito mais maduro e isso (pensar em parar) não vai acontecer mais. Eu não estava feliz na Itália, queria voltar ao Brasil. Não pensei em parar, até porque seria uma decepção para mim, minha família, meus amigos, para muita gente.

Muitos jovens talentos estão surgindo recentemente como Wellington Silva, Phillippe Coutinho, Neymar. O que você poderia falar para eles? Que tipo de conselho pode dar para eles se prepararem para o crescente assédio?

Quando se tem um nome é difícil lidar com isso. Eles são muito novos, jovens, têm uma vida pela frente. Espero que eles possam manter a cabeça no lugar e que sejam jogadores exemplares, coisa que de repente alguns jogadores não são. Cada um tem a sua vida, sua maneira de viver. Até para não acontecer tudo isso que está acontecendo comigo.

Como você está agora?

Estou muito tranquilo. Tudo o que aconteceu me deixou mais feliz. Nem imaginava que tanta gente estava do meu lado. Foi bom para eu abrir meus olhos e ver que não tem só pessoas ruins que querem meu mal.

Mas todo mundo só conhece o Adriano dentro de campo. Fora dele, conhece pouco, até por você quase dar entrevistas.

Não venho mais dar coletivas para não ter atrito. Vou vir para desmentir? O que vai adiantar eu falar uma coisa para vocês escutarem os outros? Falaram que Adriano usa drogas, que vai ser pai, que é alcoólatra...

O que você está esperando desse jogo contra o Vasco? É um adversário bom para você mostrar que está bem?

É. Se eu for bem nessa partida, vai fazer bem para mim mesmo. Minha personalidade é forte. Vou fazer de tudo para fazer uma boa partida e sair de cabeça erguida.

Qual é o seu peso atual?

Falaram que eu estava com 106 quilos, mas estou com 101. Falam muito. Meu peso ideal é 99 quilos. Fiquei quatro dias parados e realmente engordei.

Hoje o Vagner Love tem dez gols no Carioca, o Dodô tem oito e você está com cinco. Ainda acredita que pode brigar pela artilharia?

Agora ficou complicado, mas vou tentar chegar lá. O trabalho da equipe vai prevalecer. Vou tentar fazer os gols para ajudar. Espero que possamos caminhar bem nesse campeonato e na Libertadores.

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