Durante décadas, o lema "craque o Flamengo faz em casa" marcou a
identidade do clube carioca. No entanto, nos últimos anos, o que está em
alta produção na Gávea são divergências entre atuais e antigos
dirigentes. Conforme o time se mantém na zona de rebaixamento do
Campeonato Brasileiro, o presidente Eduardo Bandeira de Mello recebe
críticas das mais variadas correntes políticas do Rubro-Negro. Em entrevista ao Globoesporte.com,
o presidente do Conselho Deliberativo, Delair Dumbrosck (que presidia o
clube no título brasileiro de 2009), afirmou que o atual vice de
marketing, Luís Eduardo Baptista, o Bap, era quem, de fato, exerce o
poder no clube. Bandeira se mostrou surpreso com a afirmação, mas disse
que não responderia ao que chamou de "fofoca".
- Isso é uma coisa extremamente deselegante, não esperava isso dele.
Agora, cada um pode pensar o que quiser. Não estou aqui para responder
fofoca. O Bap é um grande rubro-negro, uma pessoa extremamente
bem-sucedida na sua vida pessoal e está prestando uma contribuição
extremamente valiosa ao Flamengo. Podemos discordar em muitas coisas,
somos pessoas que temos perfis diferentes, mas nós concordamos no
essencial, que é a paixão ao Flamengo. Tenho o maior orgulho de ter o
Bap na nossa equipe e foi um prazer tê-lo conhecido, estar trabalhando
com ele o tempo todo. Tem gente que não gosta do estilo dele, mas cada
um age da maneira que acha correta e enfrenta as consequências. Eu,
particularmente, continuo gostando dele - afirmou Bandeira.
Nas eleições de 2012, Delair foi um dos apoiadores da então chapa
azul, que levou Bandeira de Mello ao posto de vencedor. Atualmente, o
presidente do Deliberativo adota outro discurso: "A gente tem é de
trabalhar na próxima eleição para tirar eles de lá, democraticamente",
disse o conselheiro, rechaçando a hipótese de impeachment, especulada
nos últimos meses. Bandeira, por sua vez, não se mostra preocupado com
essa perda de apoio.
- É um direito inquestionável dele. Teremos eleições em 2015 e todo
sócio do Flamengo que tenha mais de cinco anos de vida associativa pode
se candidatar. É um direito de qualquer um - respondeu.
Para Bandeira de Mello, carta dos ex-presidentes faz parte da democracia
Na última quarta-feira, Helio Ferraz, Antonio Dunshee de Abranches,
Gilberto Cardoso e Marcio Braga assinaram uma carta aberta.
O grupo manifestou preocupação com um possível rebaixamento inédito no
Brasileirão e criticou a falta de investimentos no futebol, baseado em
cálculos feitos pelo próprios signatários, que ainda atacaram o discurso
de saneamento financeiro da atual diretoria. No dia seguinte à carta, o
site oficial rubro-negro divulgou um texto assinado pelo próprio Bandeira de Mello,
respondendo que as portas da presidência estão abertas para recebê-los e
que a análise financeira sobre os recursos financeiros era
"superficial". Na entrevista ao SporTV.com, o presidente do Fla afirmou não se sentir incomodado com as críticas e pregou um ambiente harmônico de diálogo.
- Não estou incomodado. O Flamengo é uma democracia. Esses
ex-presidentes passaram pelas dificuldades que nós estamos passando
também, todos eles possuem sua história no clube e eles possuem todo
direito (de criticar). Muitos deles são beneméritos, grandes
benémeritos, rubro-negros como eu, e têm todo o direito de fazer as
críticas que eles acharem necessárias. Agora, eu também tenho obrigação
de respondê-las. Acho que o essencial é que todo esse processo se dê em
um ambiente harmônico, de diálogo e levando em consideração os mais
elevados interesses do Flamengo - respondeu Bandeira.
Movimentação na janela de transferências e perda de 700 sócios
Em 19º lugar no Campeonato Brasileiro, o futebol do Flamengo divide
opiniões sobre a administração de Eduardo Bandeira de Mello. Nessa
janela de transferências, alguns nomes chegaram a ser especulados, como
do goleiro Julio César, que pertence ao Queens Park Rangers, e do meia
Fred, que tentou se desligar do Shakhtar Donetsk (Ucrânia) sem sucesso.
Porém, do time ucraniano veio o atacante Eduardo da Silva. Outro reforço
foi o volante Canteros, vindo do Vélez Sarsfield, da Argentina.
Bandeira admitiu que sua gestão comete falhas no futebol, mas argumentou
que presidentes antecessores também erraram e citou que sua
administração também tem acertos.
- Toda administração comete falhas, praticamente a todo tempo. A
administração dos outros ex-presidentes cometeram falhas também. A nossa
não é diferente. O que a gente faz, como eles também fizeram, é
procurar acertar sempre. Nem sempre a gente consegue. Não diria que
erramos nessa janela de transferência ou neste ano. No ano passado nós
falhamos e acertamos, este ano nós falhamos e acertamos. E o que a gente
tem que fazer é tentar acertar mais e falhar menos - argumentou.
Eduardo da Silva e Canteros foram os reforços do Flamengo na última janela (Foto: Gilvan de Souza)
Um ponto exaltado pelos atuais dirigentes do Flamengo, desde o início
do mandato, é o programa sócio-torcedor. Em terceiro lugar no ranking
dos clubes brasileiros em fevereiro de 2014, o clube sofreu um declínio
após a eliminação na Taça Libertadores este ano e agora está em sexto.
No início deste mês, também ao SporTV.com, Bandeira afirmou que a perda de sócios estava "estancada".
Entretanto, de lá para cá, mais de 860 torcedores se desligaram do
programa "Nação Rubro-Negra". Por o time estar na zona de rebaixamento
do Brasileirão, o presidente do Fla prega que esse número de perda "não é
uma coisa expressiva" e permanece depositando confiança no projeto.
- Nosso programa de sócio-torcedor é um objeto de avaliação permanente.
O declínio pós-Libertadores foi efetivamente estancado. Esses sócios
que perdemos não é uma coisa expressiva, principalmente pela posição que
estamos no Brasileiro. Isso será revertido com mais vitórias e mais
demanda por comparecimento ao Maracanã. Temos que considerar que além do
programa "Nação Rubro-Negra", temos outros com interação entre clube e
torcida extremamente bem-sucedidos. O "Fla em Dia", em que a torcida se
dispõe a pagar parte da nossa dívida fiscal, em uma semana já é um
sucesso total. Se não me engano, já abatemos mais de R$ 400 mil de
dívida. E pode ser que alguns sócios-torcedores tenham preferido usar
esse programa, mas no final das contas acho que todo mundo vai
participar de todos, assim como eu participo - concluiu.
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