quarta-feira, 16 de abril de 2014

Flamengo sem extremos: Pelaipe pondera erros e acertos no início de 2014




Paulo Pelaipe, diretor executivo de futebol do Flamengo (Foto: Alexandre Vidal / Flaimagem)Paciência e equilíbrio. Repetidas à exaustão no discurso do diretor executivo Paulo Pelaipe, estas palavras expressam bem a preocupação do Flamengo em manter um meio-termo após um primeiro trimestre onde se dividiu entre frustração e alívio. Em um período de cinco dias, os rubro-negros saíram do luto pela eliminação precoce na Libertadores, dentro de casa, para a empolgante conquista do Campeonato Carioca, pelas circunstâncias que aconteceram sobre o Vasco. Uma coisa não compensa a outra, isso é consenso no clube. Entretanto, é ponto em comum também que é necessária moderação em qualquer análise. Em resumo, a diretoria quer evitar extremos: se o revés continental não é motivo para uma caça às bruxas, o grito de campeão não pode maquiar as falhas de um time que teve na inconstância sua principal característica neste início de 2014..

Como virou hábito desde o início da gestão Eduardo Bandeira de Mello, o torcedor não deve esperar reforços empolgantes para o Brasileirão. Com o mantra de que extravagâncias financeiras estão fora de cogitação na ponta da língua, Pelaipe volta o foco para investimentos de baixo custo e apostas, como já tinha acontecido na temporada passada. A própria eliminação precoce na Libertadores foi determinante para isso, conforme já tinha revelado o vice de finanças, Rodrigo Tostes. Assim, o Flamengo tenta se arrumar com o que tem em casa e aguarda o desenvolvimento de um time que mudou bastante a maneira de jogar em relação ao título da Copa do Brasil.

- Na vida, temos que saber o motivo de perdermos e ganharmos. Nem tudo está certo, nem errado. É preciso ter equilíbrio. Vamos analisar tudo e conversar bastante, como sempre fazemos. Tivemos uma equipe reformulada e no futebol é importante a repetição, entrosamento. Tivemos muitas lesões (...) O coração da equipe perdeu três jogadores. O Cáceres, que vinha muito bem, também sofreu a lesão. Tudo isso prejudicou muito a equipe no andamento da Libertadores. Ainda assim, não esperávamos cair fora. Mas o Flamengo tem uma filosofia de pés no chão, e nós executamos. Fazemos contratações dentro da realidade - disse Paulo Pelaipe, ao analisar o início de 2014.

Homem forte do futebol rubro-negro, Paulo Pelaipe tem evitado os microfones. Lição da superexposição nos primeiros meses de Rio de Janeiro, ainda com a cultura do futebol do Rio Grande do Sul exacerbada. Com o tempo, optou por se manter nos bastidores e não são poucas as vezes justifica a postura como respeito a hierarquia, onde está abaixo do vice de futebol, Wallim Vasconcellos. Ao término do primeiro ciclo previsto para temporada, entretanto, o dirigente atendeu o GloboEsporte.com, ponderou sobre erros e acertos, pediu paciência - seja com o time ou com os reforços que ainda não deram certo - e tratou de deixar claro: serão poucas as mudanças no grupo para as disputas da Copa do Brasil e do Brasileirão.

- Vamos reforçar dentro das possibilidades. O Flamengo tem um padrão salarial, uma verba para gastar e, dentro disso, vamos ver como qualificar o plantel. Não vai ter muita alteração (..) Muitas vezes, o torcedor fica chateado, mas nunca iludimos o torcedor sobre grande contratações

Confira abaixo toda entrevista com Paulo Pelaipe:

O Flamengo termina a primeira parte do ano campeão carioca, mas com uma inegável frustração na Libertadores. Qual a avaliação deste início da temporada? Qual o peso da saída precoce da competição mais importante do ano?

- Na vida, temos que saber o motivo de perdermos e ganharmos. Nem tudo está certo, nem errado. É preciso ter equilíbrio. Vamos analisar tudo e conversar bastante, como sempre fazemos. Tivemos uma equipe reformulada e no futebol é importante a repetição, entrosamento. Tivemos muitas lesões. Além de tudo, houve a indefinição sobre o assunto do Elias e o processo do Luiz Antonio, que não pôde ser inscrito na Libertadores. Até a própria contratação do Márcio Araújo foi depois. É preciso dar padrão, repetição, e, infelizmente, não conseguimos isso em função de uma série de fatores, apesar de termos conseguido sanar a questão do Luiz. O coração da equipe perdeu três jogadores. O Cáceres, que vinha muito bem, também sofreu a lesão. Tudo isso prejudicou muito a equipe no andamento da Libertadores. Ainda assim, não esperávamos cair fora. Mas o Flamengo tem uma filosofia de pés no chão, e nós executamos. Fazemos contratações dentro da realidade. No ano passado, o time foi montado ao longo do campeonato e tivemos a resposta na Copa do Brasil. Este ano, conseguimos planejar melhor, mas tudo requer tempo para maturar e entrosar. É isso que está acontecendo. Tivemos fatalidades fora de casa, na Bolívia e em León. Libertadores é assim, um somatório. Tivemos muitos jogadores jovens, com o Samir, contratamos o Léo e o Mugni, que têm 22 anos. São jogadores que têm que se adaptar e temos certeza que vão crescer. O Gabriel este ano, por exemplo, já está dando uma resposta melhor, como esperávamos. É preciso ter paciência. Dentro da nossa política, o resultado está aparecendo até mais rápido que imaginávamos. É um trabalho para o futuro, com jovens de potencial.

O título do estadual foi determinante para amenizar essa pressão e impedir efeitos mais devastadores pela eliminação na Libertadores?

- Os jogadores sentiram muito a eliminação, ficaram abalados. São profissionais, são homens, e sentiram a eliminação. A comissão técnica trabalhou muito desde a própria quarta-feira para recuperar a auto-estima, focar na decisão. Além do desgaste físico, houve um abatimento psicológico. Uma conquista contra um rival tradicional dá um ânimo. O astral muda. Agora, tivemos uma semana para trabalhar com calma e recuperar para o Brasileiro, recuperar os lesionados. Vamos ter duas semanas cheias que vão ser boas para trabalhar.

Passada essa primeira avaliação, foi identificada a necessidade de muitos reforços para o restante da temporada? Quais os pontos fracos?

- Temos muito respeito aos profissionais que estão conosco. Jamais falaria (as posições carentes). Vamos reforçar dentro das possibilidades. O Flamengo tem um padrão salarial, uma verba para gastar e, dentro disso, vamos ver como qualificar o plantel. Não vai ter muita alteração. Temos 36 jogadores, vou me reunir com o Jayme para ver com quantos vamos contar no Brasileirão, trocar ideias.

A conquista do Carioca foi determinante para dar uma sobrevida ao Jayme? Houve alguns questionamentos a respeito de escolhas e da forma como o trabalho vinha sendo conduzido, principalmente após a derrota para o León, até mesmo internamente.

- É importante dizer que antes do jogo o presidente conversou e disse que independentemente do resultado não ia mexer no futebol do Flamengo. Trabalhamos com os pés no chão, de dentro para fora, não o contrário. Não vamos tentar encontrar culpados. Todos ganhamos e perdemos. Nós que perdemos (a Libertadores), não foi A, B ou C. Foram todos. Assim como todos ganharam o estadual. O Jayme tem um retrospecto muito bom. Foi campeão da Copa do Brasil, da Taça Guanabara, do Estadual, e não conseguiu a Libertadores, infelizmente. A soma é positiva. Temos que dar tempo. Costumo trabalhar assim. Foi assim no Grêmio com o Tite, quando fazia parte da diretoria, com o Felipão antes e com o Mano, que ficou comigo dois anos e dez meses. Acreditamos em trabalhos de longo prazo. É preciso tempo para executar as atividades. O balanço do Jayme e positivo e temos que ficar atentos, dar apoio.

Passados quase quatro meses em 2014, qual a avaliação a respeito dos reforços contratados para temporada? Na final do Carioca, por exemplo, três foram titulares (Márcio Araújo, Éverton e Alecsandro), três estavam no banco (Erazo, Lucas e Feijão) e dois no departamento médico (Léo e Elano).

- Reforçamos o elenco com jogadores jovens. Os únicos experientes foram Elano e Alecsandro, que jogaram Libertadores, foram campeões por onde passaram e podiam ajudar ao lado de nomes como Chicão, Léo Moura, André Santos... O Erazo é um jogador de 25 anos, de seleção; o Everton foi um dos destaques do últimos Brasileiro; e temos apostas como Léo, Lucas (Mugni), Samir e Recife que são da base, o Feijão... Trouxemos para ver o retorno, porque a camisa é pesada, tem que se adaptar. Não é qualquer um que veste esta camisa e não sente o peso do Maracanã, do torcedor. Temos que dar tranquilidade e ter paciência.

No ano passado, o Flamengo teve um desempenho muito ruim antes da parada para Copa das Confederações, com apenas uma vitória e a demissão do Jorginho. Há uma preocupação em ter uma largada diferente neste ano, até mesmo para que o longo período sem jogos para Copa seja melhor aproveitado?

- Pensamos em fazer o maior número de pontos possível. Vamos ter tempo para trabalhar. Temos uma semana para nos preparar, e a intenção é terminar essa primeira parte do Brasileirão bem, em uma boa colocação. Depois, vamos ter 45 dias, com um período de descanso e 30 e poucos dias para treinar, aprimorar. Esse início vai ser importante para dar tranquilidade.

Com o elenco atual, que tipo de ambição o Flamengo pode ter nesta competição?

- O Flamengo entra em qualquer competição para brigar pelo título. O futebol está muito parelho. A prova está na Copa do Brasil, que ninguém acreditava e fomos campeões. Está muito nivelado. Alguns clubes fazem investimentos maiores, mas em campo esperamos que a equipe dê uma resposta boa. Evidentemente que, dentro da nossa realidade, vamos levar opções para o vice de futebol, que encaminha para área financeira e decide se temos condição de contratar ou não. Trabalhamos em sintonia com o financeiro. Não adianta fazer contratação e não poder honrar com o compromisso. Uma grande contratação que o Flamengo fez nos últimos tempo foi manter os salários em dia. Honramos os compromissos atualmente.

É possível esperar reforço de peso ou ainda é algo utópico diante da realidade do clube?

- Nunca prometemos o que não podemos cumprir. Vamos trabalhar com os pés no chão. Como executivo do futebol, executo esta filosofia. Não podemos dar um passo maior que a perna. Sabia disso quando fui contratado, sabia do desafio. Muitas vezes, o torcedor fica chateado, mas nunca iludimos o torcedor sobre grande contratações.

Para o Brasileirão passado, as apostas basicamente foram feitas no chamado mercado emergente. Com exceção do Moreno, chegaram Paulinho, Diego Silva, Bruninho e Val, sendo que só um vingou. Este é o foco novamente?

- Tem muita gente apostando em jogadores que estão se revelando nos estaduais. Temos uma equipe de profissionais olhando todos os campeonatos, vendo jovens, e tudo vai ser conversado com o Jayme.

Por fim, como responsável pelo futebol do Flamengo, como tem encarado toda polêmica a respeito do gol ilegal que deu o título estadual? O vasco, por exemplo, pede a anulação da partida.

- De onde eu estava, na diagonal, quase no meio-campo, achei que o gol tinha sido do Nixon. No futebol, isso acontece. Já fomos desclassificados por erros de arbitragem. Tínhamos a melhor campanha do turno no ano passado e no jogo com o Botafogo um chute do Rodolfo tinha a direção do gol. O Jéfferson já estava fora do lance, e a bola bateu no braço do Marcelo Mattos. O empate era resultado do Flamengo. Com isso, fomos eliminados. Não vou entrar no mérito da discussão do Vasco, respeito a opinião de todo mundo. Só citei um fato que também aconteceu com o Flamengo onde a maioria das pessoas disse que houve pênalti. O árbitro é um ser humano, que erra assim como um atacante perde um gol, um goleiro deixa passar uma bola defensável. Temos que entender e respeitar.

Flamengo campeão carioca (Foto: André Durão / Globoesporte.com)

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