Paciência
e
equilíbrio. Repetidas à exaustão no discurso do diretor executivo Paulo
Pelaipe, estas palavras expressam bem a preocupação do Flamengo em
manter um
meio-termo após um primeiro trimestre onde se dividiu entre frustração e
alívio. Em um período de cinco dias, os rubro-negros saíram do luto pela
eliminação precoce na Libertadores, dentro de casa, para a empolgante
conquista
do Campeonato Carioca, pelas circunstâncias que aconteceram sobre o
Vasco. Uma
coisa não compensa a outra, isso é consenso no clube. Entretanto, é
ponto em
comum também que é necessária moderação em qualquer análise. Em resumo, a
diretoria quer evitar extremos: se o revés continental não é motivo para
uma caça às bruxas, o grito de campeão não pode maquiar as falhas de um
time que teve
na inconstância sua principal característica neste início de 2014..
Como virou
hábito desde o início da gestão Eduardo Bandeira de Mello, o torcedor
não deve esperar reforços empolgantes para o Brasileirão. Com o mantra de que
extravagâncias financeiras estão fora de cogitação na ponta da língua, Pelaipe
volta o foco para investimentos de baixo custo e apostas, como já tinha
acontecido na temporada passada. A própria eliminação precoce na Libertadores
foi determinante para isso, conforme já tinha revelado o vice de finanças,
Rodrigo Tostes. Assim, o Flamengo tenta se arrumar com o que tem em casa e
aguarda o desenvolvimento de um time que mudou bastante a maneira de jogar em
relação ao título da Copa do Brasil.
- Na vida,
temos que saber o motivo de perdermos e ganharmos. Nem tudo está certo, nem
errado. É preciso ter equilíbrio. Vamos analisar tudo e conversar bastante, como
sempre fazemos. Tivemos uma equipe reformulada e no futebol é importante a
repetição, entrosamento. Tivemos muitas lesões (...) O coração da equipe perdeu
três jogadores. O Cáceres, que vinha muito bem, também sofreu a lesão. Tudo
isso prejudicou muito a equipe no andamento da Libertadores. Ainda assim, não
esperávamos cair fora. Mas o Flamengo tem uma filosofia de pés no chão, e nós
executamos. Fazemos contratações dentro da realidade - disse Paulo Pelaipe, ao
analisar o início de 2014.
Homem forte
do futebol rubro-negro, Paulo Pelaipe tem evitado os microfones. Lição da
superexposição nos primeiros meses de Rio de Janeiro, ainda com a cultura do
futebol do Rio Grande do Sul exacerbada. Com o tempo, optou por se manter nos
bastidores e não são poucas as vezes justifica a postura como respeito a
hierarquia, onde está abaixo do vice de futebol, Wallim Vasconcellos. Ao
término do primeiro ciclo previsto para temporada, entretanto, o dirigente
atendeu o GloboEsporte.com, ponderou sobre erros e acertos, pediu paciência -
seja com o time ou com os reforços que ainda não deram certo - e tratou de
deixar claro: serão poucas as mudanças no grupo para as disputas da Copa do
Brasil e do Brasileirão.
- Vamos
reforçar dentro das possibilidades. O Flamengo tem um padrão salarial, uma
verba para gastar e, dentro disso, vamos ver como qualificar o plantel. Não vai
ter muita alteração (..) Muitas vezes, o torcedor fica chateado, mas nunca
iludimos o torcedor sobre grande contratações
Confira
abaixo toda entrevista com Paulo Pelaipe:
O Flamengo termina a primeira parte do ano campeão carioca, mas com uma
inegável frustração na Libertadores. Qual a avaliação deste início da
temporada? Qual o peso da saída precoce da competição mais importante do ano?
- Na vida,
temos que saber o motivo de perdermos e ganharmos. Nem tudo está certo, nem
errado. É preciso ter equilíbrio. Vamos analisar tudo e conversar bastante, como
sempre fazemos. Tivemos uma equipe reformulada e no futebol é importante a
repetição, entrosamento. Tivemos muitas lesões. Além de tudo, houve a
indefinição sobre o assunto do Elias e o processo do Luiz Antonio, que não pôde
ser inscrito na Libertadores. Até a própria contratação do Márcio Araújo foi
depois. É preciso dar padrão, repetição, e, infelizmente, não conseguimos isso
em função de uma série de fatores, apesar de termos conseguido sanar a questão
do Luiz. O coração da equipe perdeu três jogadores. O Cáceres, que vinha muito
bem, também sofreu a lesão. Tudo isso prejudicou muito a equipe no andamento da
Libertadores. Ainda assim, não esperávamos cair fora. Mas o Flamengo tem uma
filosofia de pés no chão, e nós executamos. Fazemos contratações dentro da
realidade. No ano passado, o time foi montado ao longo do campeonato e tivemos
a resposta na Copa do Brasil. Este ano, conseguimos planejar melhor, mas tudo
requer tempo para maturar e entrosar. É isso que está acontecendo. Tivemos
fatalidades fora de casa, na Bolívia e em León. Libertadores é assim, um
somatório. Tivemos muitos jogadores jovens, com o Samir, contratamos o Léo e o
Mugni, que têm 22 anos. São jogadores que têm que se adaptar e temos certeza
que vão crescer. O Gabriel este ano, por exemplo, já está dando uma resposta
melhor, como esperávamos. É preciso ter paciência. Dentro da nossa política, o
resultado está aparecendo até mais rápido que imaginávamos. É um trabalho para
o futuro, com jovens de potencial.
O título
do estadual foi determinante para amenizar essa pressão e impedir efeitos mais
devastadores pela eliminação na Libertadores?
- Os
jogadores sentiram muito a eliminação, ficaram abalados. São profissionais, são
homens, e sentiram a eliminação. A comissão técnica trabalhou muito desde a
própria quarta-feira para recuperar a auto-estima, focar na decisão. Além do
desgaste físico, houve um abatimento psicológico. Uma conquista contra um rival
tradicional dá um ânimo. O astral muda. Agora, tivemos uma semana para
trabalhar com calma e recuperar para o Brasileiro, recuperar os lesionados.
Vamos ter duas semanas cheias que vão ser boas para trabalhar.
Passada
essa primeira avaliação, foi identificada a necessidade de muitos reforços para
o restante da temporada? Quais os pontos fracos?
- Temos
muito respeito aos profissionais que estão conosco. Jamais falaria (as posições
carentes). Vamos reforçar dentro das possibilidades. O Flamengo tem um padrão
salarial, uma verba para gastar e, dentro disso, vamos ver como qualificar o
plantel. Não vai ter muita alteração. Temos 36 jogadores, vou me reunir com o
Jayme para ver com quantos vamos contar no Brasileirão, trocar ideias.
A
conquista do Carioca foi determinante para dar uma sobrevida ao Jayme? Houve
alguns questionamentos a respeito de escolhas e da forma como o trabalho vinha
sendo conduzido, principalmente após a derrota para o León, até mesmo
internamente.
- É
importante dizer que antes do jogo o presidente conversou e disse que
independentemente do resultado não ia mexer no futebol do Flamengo. Trabalhamos
com os pés no chão, de dentro para fora, não o contrário. Não vamos tentar
encontrar culpados. Todos ganhamos e perdemos. Nós que perdemos (a
Libertadores), não foi A, B ou C. Foram todos. Assim como todos ganharam o
estadual. O Jayme tem um retrospecto muito bom. Foi campeão da Copa do Brasil,
da Taça Guanabara, do Estadual, e não conseguiu a Libertadores, infelizmente. A
soma é positiva. Temos que dar tempo. Costumo trabalhar assim. Foi assim no
Grêmio com o Tite, quando fazia parte da diretoria, com o Felipão antes e com o
Mano, que ficou comigo dois anos e dez meses. Acreditamos em trabalhos de longo
prazo. É preciso tempo para executar as atividades. O balanço do Jayme e
positivo e temos que ficar atentos, dar apoio.
Passados
quase quatro meses em 2014, qual a avaliação a respeito dos reforços
contratados para temporada? Na final do Carioca, por exemplo, três foram
titulares (Márcio Araújo, Éverton e Alecsandro), três estavam no banco (Erazo,
Lucas e Feijão) e dois no departamento médico (Léo e Elano).
-
Reforçamos o elenco com jogadores jovens. Os únicos experientes foram Elano e
Alecsandro, que jogaram Libertadores, foram campeões por onde passaram e podiam
ajudar ao lado de nomes como Chicão, Léo Moura, André Santos... O Erazo é um
jogador de 25 anos, de seleção; o Everton foi um dos destaques do últimos
Brasileiro; e temos apostas como Léo, Lucas (Mugni), Samir e Recife que são da
base, o Feijão... Trouxemos para ver o retorno, porque a camisa é pesada, tem
que se adaptar. Não é qualquer um que veste esta camisa e não sente o peso do
Maracanã, do torcedor. Temos que dar tranquilidade e ter paciência.
No ano
passado, o Flamengo teve um desempenho muito ruim antes da parada para Copa das
Confederações, com apenas uma vitória e a demissão do Jorginho. Há uma
preocupação em ter uma largada diferente neste ano, até mesmo para que o longo
período sem jogos para Copa seja melhor aproveitado?
- Pensamos
em fazer o maior número de pontos possível. Vamos ter tempo para trabalhar.
Temos uma semana para nos preparar, e a intenção é terminar essa primeira parte
do Brasileirão bem, em uma boa colocação. Depois, vamos ter 45 dias, com um
período de descanso e 30 e poucos dias para treinar, aprimorar. Esse início vai
ser importante para dar tranquilidade.
Com o
elenco atual, que tipo de ambição o Flamengo pode ter nesta competição?
- O
Flamengo entra em qualquer competição para brigar pelo título. O futebol está
muito parelho. A prova está na Copa do Brasil, que ninguém acreditava e fomos
campeões. Está muito nivelado. Alguns clubes fazem investimentos maiores, mas
em campo esperamos que a equipe dê uma resposta boa. Evidentemente que, dentro
da nossa realidade, vamos levar opções para o vice de futebol, que encaminha
para área financeira e decide se temos condição de contratar ou não.
Trabalhamos em sintonia com o financeiro. Não adianta fazer contratação e não
poder honrar com o compromisso. Uma grande contratação que o Flamengo fez nos
últimos tempo foi manter os salários em dia. Honramos os compromissos atualmente.
É
possível esperar reforço de peso ou ainda é algo utópico diante da realidade do
clube?
- Nunca
prometemos o que não podemos cumprir. Vamos trabalhar com os pés no chão. Como
executivo do futebol, executo esta filosofia. Não podemos dar um passo maior
que a perna. Sabia disso quando fui contratado, sabia do desafio. Muitas vezes,
o torcedor fica chateado, mas nunca iludimos o torcedor sobre grande
contratações.
Para o
Brasileirão passado, as apostas basicamente foram feitas no chamado mercado
emergente. Com exceção do Moreno, chegaram Paulinho, Diego Silva, Bruninho e
Val, sendo que só um vingou. Este é o foco novamente?
- Tem muita
gente apostando em jogadores que estão se revelando nos estaduais. Temos uma
equipe de profissionais olhando todos os campeonatos, vendo jovens, e tudo vai
ser conversado com o Jayme.
Por fim,
como responsável pelo futebol do Flamengo, como tem encarado toda polêmica a
respeito do gol ilegal que deu o título estadual? O vasco, por exemplo, pede
a anulação da partida.
- De onde
eu estava, na diagonal, quase no meio-campo, achei que o gol tinha sido do
Nixon. No futebol, isso acontece. Já fomos desclassificados por erros de
arbitragem. Tínhamos a melhor campanha do turno no ano passado e no jogo com o Botafogo um
chute do Rodolfo tinha a direção do gol. O Jéfferson já estava fora do lance, e
a bola bateu no braço do Marcelo Mattos. O empate era resultado do Flamengo.
Com isso, fomos eliminados. Não vou entrar no mérito da discussão do Vasco,
respeito a opinião de todo mundo. Só citei um fato que também aconteceu com o
Flamengo onde a maioria das pessoas disse que houve pênalti. O árbitro é um ser
humano, que erra assim como um atacante perde um gol, um goleiro deixa passar
uma bola defensável. Temos que entender e respeitar.
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