Levanta, senta, vai, volta, grita, aplaude, vibra e se cala. Mano Menezes
foi intenso nos primeiros 90 minutos comandando o Flamengo em um jogo.
Na vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, sábado, no Parque do Sabiá, em
Uberlândia, incontáveis foram as vezes em que o treinador realizou o
percurso do banco de reservas até a linha lateral do campo. Um vai e vem
constante, marcado por simpatia com uma gandula, João Paulo como alvo
mais constante, o auxiliar Sidnei Lobo dividindo o espaço de
“confidente” com o lateral Ramon e a tecnologia presente com o uso de um
tablet para análises táticas.
No debute pelo Flamengo, Mano oscilou de uma inquietação nos 45 minutos
iniciais para uma postura bem mais calma na etapa final. O primeiro gol
foi celebrado com movimentos de braços com a mão fechada, seguidos de
um cumprimento a Moreno, o autor. Celebração bem mais efusiva do que a
pela primeira vitória. Ao apito final, a feição era de seriedade. Com o
dever inicial cumprido, era hora de pensar no futuro, em uma nova
“primeira vez”. Agora, em uma partida oficial, contra o Coritiba,
sábado, em Brasília, pela sexta rodada do Brasileirão. Ao lado do
treinador, no gramado do estádio em Uberlândia, o GLOBOESPORTE.COM
flagrou todas as reações na primeira vez do gaúcho pelo Rubro-Negro.
Primeiro 45 minutos inquietos
O primeiro ato de Mano Menezes no comando do Flamengo em um jogo foi
distribuir sorrisos e simpatia aos jornalistas. Enquanto os jogadores
aqueciam em campo ainda à espera do São Paulo, o treinador deu
entrevistas, acenou para o torcedor e fez questão de frisar a
importância do primeiro teste:
- Em um início de trabalho temos que valorizar tudo. Cada treino, cada jogo.
Com as duas equipes em campo, Mano foi ao banco de reservas adversário
rival cumprimentar a comissão técnica do São Paulo antes de retornar ao
seu local para a execução do Hino Nacional. O jogo começou e o treinador
estava sentado, ao lado do auxiliar técnico Sidnei Lobo. O panorama, no
entanto, não durou muito, e ele levantou abrindo os braços como quem
não entendesse péssima cobrança de falta de João Paulo, aos dois
minutos. Já aos quatro, foi a vez de deixar o banco e seguir para a área
técnica. Ao ver uma gandula no local, foi bem humorado ao pedir
liberdade:
- O espaço aqui é meu – disse sorrindo.
A postos na beira do campo, o primeiro jogador a receber orientação foi
Marcelo Moreno, com pedidos de movimentação entre os zagueiros do São
Paulo. Já João Paulo foi quem mais recebeu comandos do treinador.
Próximo a Mano na lateral esquerda, foram muitos os gritos de “volta”,
“marca”, “boa” e, principalmente, “Joãããããão” para chamar a atenção. O
camisa 16 ao menos escapou da primeira bronca, que caiu na conta de
Paulinho, ao dar um passe errado para Moreno quando o técnico queria que
a jogada fosse aberta pela direita.
Mano demonstrou preocupação também com a saída de bola da defesa para o
ataque e pedia jogadas de ultrapassagens quando o time chegasse na
intermediária adversária. Em determinado momento, gritou para
destinatário não identificado:
- Segura a bola e deixa ele passar para depois tocar
O treinador também cantava jogada, como em bom cruzamento de João Paulo para Paulinho:
- Vai, João! Vai, João - pedindo que o lateral arrancasse para a linha de fundo.
No mesmo lance, apontou e aplaudiu Carlos Eduardo por encontrar bem o
lateral livre na esquerda. Apesar de melhor em campo, o Flamengo criava
pouco, e deu início a uma rotina de senta e levanta e caminha de um lado
para o outro quase que incessante do treinador. Como se marcasse no
relógio a cada três minutos, a partir dos 19 Mano foi ao banco de
reservas e retornou para área técnica sete vezes, até que ficou em
definitivo aos 39.
À beira do campo, Mano orienta os jogadores no Parque do Sabiá (Foto: Alexandre Vidal / Fla Imagem)
Sentado, o treinador dialogou bastante com Sidnei Lobo e um personagem
surpreendente: Ramon. Por algumas vezes, o lateral comentou jogadas com o
novo chefe. Aos 26, o gaúcho perdeu as estribeiras pela primeira vez.
Depois de péssima cobrança de escanteio de Carlos Eduardo, virou para
Sidnei e disse irritado:
- Foi só um e ele não fez a curta! – reclamando do camisa 20 não ter tocado ao companheiro mais próximo em vez de cruzar.
Erros de passes também tiravam a calma, e aos 30 Mano soltou para o ar um sonoro:
- Eliaaaaaaas!
Para Cáceres, o pedido foi de calma na condução de bola:
- Carrega, carrega.
Foi o último ato antes do intervalo. Dos 39 ao apito final, o treinador
permaneceu sentado e dialogando com seu auxiliar até seguir em silêncio
para o vestiário.
Segundo tempo: tablet, silêncio e ‘muito bom’ para Paulinho
O segundo tempo apresentou um Mano menos agitado. Logo no primeiro
minuto, acomodado no banco, mandou os reservas para o aquecimento e
reagiu ao ver Carlos Eduardo agachado no gramado reclamando de dor após
pancada na canela.
- Vamos! Vamos, Carlos! Vamos!
Aos dois minutos, levantou-se para ir na área técnica, mas rapidamente
voltou. Já aos quatro, puxou um tablet e começou a conversar com Sidnei
Lobo, como se discutissem questões táticas. Em cobrança de escanteio,
três minutos depois, correu para a beira do gramado para reclamar de um
posicionamento errado no bico da área, que poderia expor a equipe a
contra-ataques, mas foi surpreendido pela marcação de pênalti em
Cáceres. Retornou para o banco, sentou e sequer esboçou reação ao ver
Denis defender a cobrança de Léo Moura.
Treinador observa o jogo sentado no banco em outro momento (Foto: Gustavo Serbonchini)
O primeiro momento de vibração estava guardado para os 12. Ainda do
banco, onde permaneceu por quase todo o segundo tempo, comemorou
balançando os braços com a mão fechada o gol de Marcelo Moreno, o
primeiro do Flamengo sob seu comando. Foi até a linha lateral e recebeu
um cumprimento do boliviano.
As primeiras substituições aconteceram aos 23, três minutos depois de
mandar Sidnei chamar Nixon, Diego Silva e Val, que entraram nas vagas de
Gabriel, Cáceres e Carlos Eduardo. De pé, cumprimentou um por um dos
que saíram, sempre com a mesma palavra: “Bom!”. Um elogio um pouco maior
estava guardado para os 33, quando Paulinho deu lugar a Rafinha. Ao
receber o atacante, Mano apertou sua mão e disse:
- Muito bom, Paulinho!
De volta ao banco, conversou rapidamente com os jogadores substituídos e
observou quase que em silêncio o fim da partida. Ao ver João Paulo
caído no campo já aos 47, levantou-se pela última vez. Até que Alício
Penna Júnior colocou um ponto final no duelo. Na mistura de emoções que
gerou um senta e levanta, grita e se cala tão grande, Mano saiu vencedor
no “muito prazer” ao torcedor do Flamengo.
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