Sentado à direita de Patricia Amorim, Zinho parecia um pilar confiável
para a presidente do Flamengo. Nesta sexta-feira, durante o
pronunciamento da mandatária sobre a saída de Ronaldinho Gaúcho do
clube, o diretor de futebol ouviu cada palavra de Patricia com atenção,
manteve os olhos grudados nela. Depois de pouco mais de quatro minutos,
levantou-se enquanto a dirigente deixava a sala Antônio Moreira Leite,
no terceiro andar da Gávea, sentou-se na cadeira central e diante de
microfones, máquinas fotográficas e câmeras não poupou o atacante.
Sem alterar o tom de voz, usou palavras firmes. Reconheceu que
Ronaldinho cometeu atos de indisciplina, o mais grave deles a ausência
na viagem ao Piauí, na quinta-feira passada, e afirmou que havia tomado a
decisão de afastar o camisa 10. O clube, no entanto, foi pego de
surpresa com a notícia de que o atleta entrara na Justiça para pleitear
pouco mais de R$ 40 milhões pela rescisão do contrato que terminava em
dezembro de 2014.
- A corda apertou mesmo, não tinha mais conversa fiada, regalia para
ninguém. Acredito que esse foi um dos motivos que fizeram ele tomar a
atitude de sair. Infelizmente, pela porta dos fundos. Quem errou com o
departamento de futebol foi o Ronaldo. Vamos ser sinceros. Não teve uma
conduta profissional, de atleta profissional. Isso é inadmissível. Estou
triste também. Não era o desfecho que a gente queria – afirmou.
Zinho completa neste sábado 22 dias no cargo. Desde a apresentação,
mostrou-se seguro e avisou que teria um diálogo franco com jogadores e
comissão técnica. O mais recente deles há quatro dias. Sem Ronaldinho,
naquele momento liberado para visitar a mãe recém-operada em Porto
Alegre, criticou o vazamento de informações e quis saber se havia
problemas de relacionamento com o técnico Joel Santana. Segundo ele, os
atletas negaram. Além disso, cobrou reação de todos após os dois empates
no Brasileirão, com Sport e Inter.
- Ele se coloca bem nas palavras – elogiou um jogador.
Zinho em reunião com os jogadores do Flamengo (Foto: Alexandre Vidal / Fla Imagem)
Logo que chegou, o diretor deixou claro que contava com Ronaldinho
Gaúcho, ex-companheiro dele no Grêmio. Os dois trocaram um carinhoso
abraço na apresentação do dirigente ao grupo, mas Zinho precisou agir
rápido. Confrontou o principal jogador do time duas vezes. Primeiro, ao
constatar o estado do capitão, o diretor pediu que, em vez de ficar no
vestiário, ele fosse a campo correr. No dia seguinte, na frente de todos
os jogadores, o jogador foi confrontado com direito a peitada e
discurso duro:
- Quando eu cheguei, você me deu um abraço e disse que estava comigo.
Do jeito que você chegou hoje (quinta, dia 17 maio) e ontem (quarta, dia
16), não está nem com você mesmo. Isso é um desrespeito com todos os
seus companheiros… Se for para ser assim, eu peço meu boné para a
Patricia e vou embora.
A atitude mereceu elogios internos, e os jogadores gostaram da postura
de Zinho, principalmente com Ronaldinho Gaúcho. O fato de o dirigente
acompanhar o treino à beira do campo chama a atenção. Outro ponto a
favor dele: o currículo vencedor. Os atletas admiram o ex-jogador, que
tem a Copa do Mundo de 1994, Libertadores e cinco Brasileiros na
bagagem.
Episódio com R10 fortalece o dirigente
A posição firme diante do comportamento do astro do Flamengo dá força a
Zinho para reorganizar o departamento de futebol. Antes do
pronunciamento desta sexta, Patricia se reuniu com o vice jurídico
Rafael de Piro, Zinho, o vice de futebol Paulo César Coutinho e com o
vice de finanças Michel Levy. Na conversa de quase três horas, ficou
decidido que Coutinho seria mantido no cargo, apesar do episódio em que
anunciou o afastamento de Ronaldinho Gaúcho em conversa com torcedores
do Piauí, na última quinta-feira. As declarações foram registradas em
vídeo. A permanência dele foi um pedido de Zinho, mas o futuro de vice
de futebol é incerto e ele segue em questionamento. No encontro, Zinho
apresentou alguns motivos para Coutinho ficar. Um deles seria o fato de
que a saída poderia ser associada a Ronaldinho.
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