Flamengo arrecada mais e gasta menos com futebol, mas dívida ainda cresce

Além da quantidade de títulos estaduais, outros dois números não param de crescer no Flamengo: a arrecadação do clube, com um cofre mais cheio a cada ano, e a gigantesca dívida, que, impulsionada pelos juros, aumenta até quando se gasta menos do que se ganha. O segundo ano da gestão de Patrícia Amorim começou com a vinda de Ronaldinho Gaúcho e um título invicto. Dois fatores com potencial de gerar dinheiro, o que leva a diretoria a prever um novo salto nas receitas, mesmo levando-se em conta que o clube chegará à metade da temporada ainda sem o principal patrocinador do uniforme.

Mas a radiografia financeira atual ainda é de um doente que, paradoxalmente, perde capacidade de respirar mesmo ganhando mais oxigênio. Na última sexta-feira, o Flamengo divulgou o balanço financeiro de 2010, o primeiro da nova administração. Embora tenha tido superávit operacional - faturou R$ 9,1 milhões a mais do que o total de despesas -, os juros de dívidas e empréstimos fizeram com que o passivo geral do clube crescesse R$ 21,7 milhões, chegando ao total de R$ 293,7 milhões. 

Investimento no amador

Uma análise do balanço auditado pela empresa Loudon Blomquist - e disponível a todos os torcedores no site oficial do clube - revela ainda outros detalhes da nova gestão. O futebol passou por um arrocho em 2010, tendo consumido R$ 69 milhões (um valor 21,8% menor que os R$ 88,6 milhões de 2009, último ano da administração Márcio Braga). O valor economizado no departamento é praticamente igual ao salto do investimentos nos esportes amadores e em melhorias no clube, que consumiram R$ 45,5 milhões em 2010 (quase o dobro dos R$ 25,4 milhões de 2009). 

A  presidente Patrícia Amorim afirma que o investimento no futebol em 2011 será maior, e explica que o aumento dos recursos para os esportes olímpicos aconteceu, principalmente, para consertar situações que encontrou quando assumiu. 

- Não foi só uma questão de política, pela importância que reconheço no amador. Foi principalmente para reparar alguns absurdos que encontrei. O basquete não recebia há quatro meses; a ginástica olímpica, há oito; o futsal, há seis. A natação estava em 18 lugar no Brasil. O alojamento do remo caía aos pedaços. Fizemos obras na Gávea. Há coisas que você não pode deixar de fazer, são urgentes. Além disso, circunstâncias como as saídas do Adriano e do Vágner Love explicam por que o valor do futebol foi menor. Mas este ano investimos muito, com Ronaldinho, Thiago Neves... 

Ainda longe dos clube ricos

Patrícia assumiu o Flamengo num momento em que o clube pode dar um salto de arrecadação. Em 2010, sem ter lucrado com venda de jogadores, o Flamengo faturou R$ 128,5 milhões (7% a mais que em 2009), o que o deixa ainda bem abaixo de Corinthians (R$ 212,6 milhões), São Paulo (R$ 194,7 milhões) e Internacional (R$ 167 milhões). É este abismo que a diretoria planeja diminuir em 2011. 

Após a chegada de Ronaldinho Gaúcho, o clube aumentou a arrecadação com royalties e licenciamentos (foram 63 mil camisas oficiais vendidas no país apenas nos dois meses seguintes à chegada do craque), mas ainda não conseguiu fechar com um patrocinador master na camisa. Os patrocínios expostos na manga da camisa e dentro do número vão gerar, em 2011, R$ 10,5 milhões. O clube trabalha com a perspectiva de fechar com um patrocinador master para o segundo semestre, o que renderia mais cerca de R$ 15 milhões.

Com a possibilidade de faturar com a venda de um jogador até o fim do ano, e as luvas recebidas pelo novo contrato de direitos de transmissão no Brasileiro, a diretoria espera ultrapassar os R$ 150 milhões de faturamento, meta estabelecida no orçamento para este ano. 

- Confio que vamos passar disso, a previsão foi antes do Ronaldinho vir e deste título. Sabemos que não podemos deixar de investir, mas temos um compromisso com o passivo do clube, principalmente nessa hora em que vamos arrecadar mais. O que aumentou a dívida foi por juros, penhoras... Não gastamos mais do que arrecadamos - completa Patrícia Amorim.