O saco de cimento segue ali, nas costas de cada jogador do
Flamengo, mas uma coisa não dá para negar: está a cada rodada mais leve. Depois
da vitória por 2 a 1 de virada sobre o Atlético-MG, nesta quarta-feira, no
Maracanã, pela 16ª rodada do Brasileirão, Vanderlei Luxemburgo voltou a fazer
uso da expressão que virou marca para definir sua equipe como lutadora na
ausência da qualidade técnica. O discurso de manter as atuações no limite, sem
se iludir com os bons resultados, no entanto, dessa vez foi mais suave, mais
sorridente. Com quatro vitórias em cinco jogos desde que assumiu o Rubro-Negro,
o treinador se disse feliz. Não somente como profissional, mas, principalmente,
como torcedor.
- Quando acabou o jogo, falei como rubro-negro e como
técnico. Falei que eles tinham deixado todos os rubro-negros, inclusive a mim,
felizes com muita garra e determinação. A torcida entrou em campo e foi
fantástica, como conhecemos. Estão entendendo a nossa equipe, que não é
tecnicamente como queríamos, mas é aguerrida, determinada, coloca o rabo no
chão e foi o centroavante da equipe com certeza. Mas isso em função do que os
jogadores produziram contra uma equipe arrumada e com um jogador flutuando em
campo, que foi o Tardelli. Vamos seguir com humildade e dentro das nossas
limitações, que conhecemos.
Apesar de já estar em situação bem menos desesperadora e com a
certeza de ficar fora da zona de rebaixamento mesmo que perca para o Criciúma,
domingo, em Santa Catarina, Luxa não se permite sonhar muito alto. Repetindo várias
vezes que a missão do Flamengo neste Brasileirão é evitar a queda para Segunda
Divisão, o técnico segue olhando para baixo. Cada vez mais distante de quem
precisa de afastar, mas segue olhando para baixo.
- Não dá para olhar para cima. Vocês (jornalistas) falam que
temos que mostrar sempre alguma coisa a mais. Temos que seguir trabalhando com
um saco de cimento nas costas. A pergunta procede, mas o futebol é dessa forma,
do céu ao inferno em 90 minutos. Nossa obrigação agora é ganhar fora de casa.
As perguntas vão sempre acontecer. O futebol no Brasil é dessa forma.
Com 19 pontos, o Flamengo é o 13º colocado no
Brasileirão e encara o Criciúma, domingo, às 16h (de Brasília), no Heriberto
Hulse, pela 17ª rodada. De Santa Catarina, o elenco rubro-negro segue direto
para Curitiba, onde pega o Coxa, na próxima quarta, pelas oitavas de final da
Copa do Brasil.
Confira a íntegra da entrevista de Luxemburgo:
EDUARDO DA SILVA
- É um jogador que está se adaptando ao Brasil. Coloquei de cara contra
o Coritiba e sentiu. Quando coloquei com o adversário cansado, a técnica
aflora. Preferi guardar e botar depois. Sabia que ia ser um jogo muito intenso,
e ele entrou muito bem. É muito técnico, mas falta ritmo. Aqui, a preparação é
diferente, o ritmo é diferente, mas ele já está ajudando muito.
MARCELO
- O Marcelo é um zagueiro que eu gosto. Eles fazem uma boa dupla. O
Wallace tem mais técnica, o Marcelo chega tirando, pega bem a bola em cima.
Falei com eles depois para não disputarem a bola alta com o Jô. Ele raspava
para outro. Depois, começaram a dar tempo e o Jô tinha que dominar, onde tinha
dificuldade. Acho que eles se completam. O Marcelo vem crescendo, gosto do
jeito que ele joga. É simples. Pelé foi um gênio por ser simples.
OBJETIVO DO FLA NO BRASILEIRÃO
- Não dá para olhar para cima. Vocês (jornalistas) falam que temos que
mostrar sempre alguma coisa a mais. Temos que seguir trabalhando com um saco de
cimento nas costas. A pergunta procede, mas o futebol é dessa forma, do céu ao
inferno em 90 minutos. Nossa obrigação agora é ganhar fora de casa. As
perguntas vão sempre acontecer. O futebol no Brasil é dessa forma.
EVOLUÇÃO DA EQUIPE
- A maior dificuldade do ser humano é ter a humildade de reconhecer o
que pode fazer, suas virtudes. Estou sendo transparente, e isso no Brasil é
complicado. Temos que reconhecer que somos um time que carrega o saco de
cimento, e isso é uma virtude, uma humildade. Essa equipe precisa entender que
a grande virtude dela é trabalhar. Não temos os jogadores que as outras equipes
têm, e isso não é defeito. É uma virtude reconhecer que não somos um time
técnico, mas de trabalhadores. Não podemos mudar. Temos que sair dessa
confusão. Se o Flamengo não cair, este é o campeonato do Flamengo. O torcedor
entendeu essa proposta e vai continuar conosco.
O QUE FEZ NO PERÍODO SEM TRABALHAR
- Sou do futebol e vejo futebol o tempo todo. Observo as equipes
todinhas. Não é de agora, é desde os anos 90, foi assim quando assumi o
Palmeiras. Vi o Flamengo com algumas dificuldades, um time sem vida. Como
rubro-negro, não venho trabalhar, sou convocado. Disse que vinha por achar que
tinha como contribuir. O torcedor entender muito mais o cara que é do Flamengo.
Foi assim com o Jayme, Carlinhos, Andrade... Consegui passar para os jogadores
a situação verdadeira da equipe. O Flamengo não tem um grande jogador, um
grande ídolo. Como vamos construir isso? A equipe é o grande ídolo. Sabíamos
que se juntássemos, trabalhássemos, e o torcedor percebesse nossa luta, íamos
conseguir.
SAÍDA DE LUIZ ANTONIO NO PRIMEIRO TEMPO
- (Mudei) porque sou o técnico e escolho o que achar que devo. No
Brasil, uma série de coisas não são permitidas. Por que tenho que esperar o
intervalo se tinha uma proposta de jogo e tomei um gol no início? O Luiz estava
fora, não estava se encaixando, e enfiei o Nixon para cansar a zaga deles. O
Márcio Araújo podia fazer melhor a linha de quatro, e o Canteros tem uma saída
de bola importante. Não tinha nada de errado, apenas tive que mudar por sofrer
o gol.
EMPATE É BEM-VINDO CONTRA O CRICIÚMA?
- Como eu encaro o Brasileiro: cinco empates, cinco pontos. Duas
vitórias em cinco jogos, seis pontos. A coisa é jogar para vencer. Se não der,
o empate é bom negócio, mas faço minha matemática.
COPA DO BRASIL
- Vamos entrar na Copa do Brasil a partir de quarta. A partir de
segunda-feira posso responder sobre isso. Por enquanto, vamos ficar no
Brasileiro, que tem um jogo domingo fora de casa.
JOÃO PAULO
- A torcida não cobrou do João Paulo e não vem cobrando. Por isso, ele
está mais confiante. Se o rendimento melhorou, é porque a torcida abraçou o
João Paulo. Ele está crescendo de produção. Se entendermos que um passe errado
é uma vaia, não tem nada a ver. Vaia é pegar o Maracanã todinho e não deixar o
cara jogar. Pode render mais. Às vezes, fica inibido, mas tem potencial, bate
bem na bola, chuta forte, tem bom físico. Tem que aproveitar a oportunidade que
está quicando e talvez seja única na história do Flamengo. Não depende de mim.
MATEMÁTICA PARA SALVAR
- Se fizéssemos 50% dos pontos lá atrás, o Flamengo não cairia. Essa
foi a matemática que eu fiz. Tínhamos que cumprir isso e já avançamos, o que
nos permite pensar para cima e para baixo. Em quatro pontos (de vantagem para
zona), já são dois jogos de diferença para quem está abaixo. São duas rodadas
para queimar, mas temos que avançar para ter ainda mais vantagem.
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