Não chegou a ser um processo de fritura, como ocorrera com Vanderlei Luxemburgo no início do ano passado, mas a saída de Dorival Júnior
do Flamengo, definida neste sábado, era desenhada há algum tempo. Com
contrato até o fim do ano, o treinador foi mantido no cargo pela nova
diretoria. Em caso de demissão, custaria um alto valor ao clube por
conta da multa rescisória. Mas Dorival jamais esteve prestigiado pela
gestão de Eduardo Bandeira de Mello. Pesava o fato de ter sido escolhido
por Zinho, então diretor de futebol de Patricia Amorim. Nas últimas
semanas, o técnico passou a ter decisões contestadas internamente,
estava arredio e distante de ser unanimidade, inclusive entre os
atletas. Os sinais de desgaste ficaram ainda mais evidentes depois da
derrota por 3 a 2 para o Resende, de virada, na última quarta-feira, no
Engenhão.
Neste sábado, ao confirmar a saída do treinador, a diretoria alegou que
não houve acordo por redução salarial. Dorival se reuniu com Wallim
Vasconcellos, vice de futebol do clube, que propôs um corte de 50%. O
técnico disse que aceitaria reduzir 40% de seus vencimentos agora, e o
restante em julho, quando estava previsto um reajuste de seu salário,
mas o clube ficou irredutível. Sem acerto, optou-se pelo desligamento. O
preço da comissão técnica não se enquadrava na nova realidade
financeira do clube. Até o fim do ano passado, Dorival recebia R$ 450
mil mensais. Celso de Rezende e o auxiliar Ivan Izzo ganhavam R$ 90 mil.
Já Lucas Silvestre, filho e auxiliar do técnico, tinha um salário de R$
25 mil. Segundo o GLOBOESPORTE.COM apurou, o quarteto passaria a custar
ao clube cerca de R$ 1,2 milhão a partir do próximo mês de maio. A
remuneração do treinador chegaria perto da casa de R$ 800 mil, o que o
colocaria no patamar dos mais bem pagos do país.
Além do preço, algumas decisões do treinador não agradaram. Na semana passada, por exemplo, Paulo Pelaipe falou abertamente sobre a opção de Dorival de deixar Nixon fora do banco de reservas
na semifinal da Taça Guanabara, contra o Botafogo. O treinador alegou
que o atacante estava machucado, mas o dirigente garantiu que foi uma
opção técnica.
A maior parte da diretoria também criticou internamente a forma como o
técnico escalava o meia-atacante Carlos Eduardo, principal reforço do
time nesta temporada. O jogador vinha sendo utilizado como ponta pela
esquerda, mas não conseguiu render.
O estilo de Dorival começava a gerar insatisfação entre alguns
jogadores. O hábito de realizar longas reuniões antes e depois dos
treinos, inclusive na frente da imprensa, não agradava.
O treinador nunca esteve completamente à vontade desde que atual gestão
assumiu. Com a derrota de Patricia na eleição, no início de dezembro, e
a saída de Zinho, que não aceitou virar um subordinado do diretor
executivo Paulo Pelaipe, Dorival também virou dúvida. A incerteza sobre a
permanência se dava principalmente pela decisão de Pelaipe de fazer
mudanças na comissão técnica. O diretor fazia questão de trazer um
preparador físico de sua confiança para substituir Celso de Rezende,
braço direito do comandante e amigo de longa data. Na segunda quinzena
de dezembro, um encontro entre Dorival e a cúpula de futebol definiu a
permanência, mas o treinador não conseguia ficar completamente
confortável no cargo. Esse fato, inclusive, foi tema de debate entre
Zinho e o técnico no fim do ano passado.
Dorival chegou ao Flamengo em meio ao Brasileirão de 2012, em
substituição a Joel Santana, que havia sido demitido. No total, ele
comandou o time em 37 jogos, com 15 vitórias, 12 empates e 10 derrotas
(aproveitamento de 51,3%).
Em 2013, conseguiu campanha quase irretocável na primeira fase da Taça
Guanabara (sete vitórias e um empate), mas acabou eliminado na
semifinal, diante do Botafogo (2 a 0). A estreia na Taça Rio não foi
animadora: derrota de virada para o Resende (3 a 2), no Engenhão.
O grupo do Flamengo está de folga neste domingo e volta a treinar na tarde desta segunda-feira. Caso o novo treinador ainda não tenha assumido, a tendência é que Jayme de Almeida, auxiliar técnico permanente do clube, coordene as atividades.
Saiba como foi a demissão do técnico Dorival Junior no Flamengo (Foto: Editoria de arte)
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