Bruno, atualmente detido em Minas Gerais, conseguiu no último dia 29
liberdade provisória no processo que responde por cárcere privado e
agressão. Agora, o goleiro aguarda o habeas corpus do Supremo Tribunal
Federal (STF) para responder fora da prisão, onde está desde julho de
2010, ao processo pela acusação de participação no desaparecimento e
suposta morte da ex-namorada Eliza Samudio. Além do contrato com o
Flamengo (que está suspenso), os advogados do jogador garantem que, em
caso de liberdade, ele já tem propostas de outros clubes e decidiria seu
futuro depois de se reapresentar ao Rubro-Negro. Mas a possível
transição do sistema carcerário para os gramados deixa em alerta o
profissional que trabalhou com Bruno durante quatro anos no clube da
Gávea, onde, segundo ele, o ex-camisa 1 sempre relutou em receber ajuda
psicológica.
Paulo Ribeiro trabalhou com Bruno de 2006 a 2010 no Flamengo.
Ex-psicólogo do clube, ele acompanhava e monitorava os jogadores, e hoje
afirma que o goleiro nunca aceitou qualquer tipo de ajuda médica.
Ribeiro conta que o atleta demonstrava alterações de humor e atitudes
intempestivas em alguns jogos.
- O Bruno sempre foi difícil e nunca procurou ou aceitou ajuda, não me
procurou para nada. A primeira questão do paciente é admitir que tem
algum tipo de problema e procurar ajuda. Isso não constava no perfil
dele. Ele nunca admitiu ou teve uma conversa comigo. E, nesse tempo em
que está na prisão, ele sofreu transformações e pressões, está acuado, e
terá que ter um acompanhamento psicológico. Mas ele não é dado a essa
habilidade – analisou o psicólogo Paulo Ribeiro.
Recentemente, um amigo de Bruno enviou um par de chuteiras para que o
goleiro pudesse treinar na prisão. Porém, mais do que mãos e pés, a
cabeça do jogador está em questão.
- O único ofício que o Bruno tem é jogar futebol, não tem outra
profissão. Mas essa transição da prisão para o mundo exterior é
delicada, ele vai sair uma outra pessoa por tudo que passa lá dentro.
Antes de acontecer a prisão, assim como outros jogadores e celebridades,
ele não tinha restrições, a fama proporcionava a ele entrar de graça em
shows, não enfrentar fila de passaporte... Tinha muitas facilidades. Na
prisão, ele perdeu isso, teve que lidar com pessoas diferentes, outro
linguajar e comportamento.
Recentemente, o vice-presidente jurídico do Flamengo, Rafael de Piro,
comentou a situação do goleiro. Caso seja solto, Bruno já informou -
através de seu advogado, Rui Pimenta - que pretende se reapresentar ao
Rubro-Negro, clube com o qual tem contrato até dezembro de 2012. Nos
bastidores do clube, porém, a hipótese de aproveitar o jogador é
considerada remotíssima. Dirigentes estimam que o desgaste de imagem
seria insuportável.
- O contrato está suspenso por causa da prisão. A gente não paga, ele
não trabalha, claro. Se for solto e não houver restrição para deixar a
comarca do crime, dormir fora de casa, essas restrições comuns, em tese
ele deve se apresentar ao Flamengo. Ninguém pode impedir o jogador de
trabalhar. Se vai continuar sendo jogador, se vai ser vendido,
emprestado, isso não é mais uma decisão jurídica. Passa a ser uma
decisão do departamento de futebol, da presidência. O que a gente
normalmente conversa com a presidência é esperar para ver o que vai
acontecer. Diante de uma nova realidade, você senta e decide. Vamos
esperar um quadro novo, diferente, real – disse De Piro.
No fim de maio, o advogado Rui Pimenta afirmou que o goleiro teria ofertas de vários clubes.
- Ele volta ao Flamengo assim que for solto. Mas se o Fla não o quiser,
clubes do Sul, do Rio e de São Paulo estão interessados. Vocês o verão
treinando na Gávea. O sonho dele é sair da cadeia, voltar ao Flamengo,
ir para a Seleção Brasileira e defender um pênalti do Messi em jogo
contra a Argentina. Quando a Justiça marcar o julgamento, ele vai se
sentar no banco dos réus e será julgado normalmente. Ele só não pode
sair do Brasil.
Caso Eliza Samudio
Bruno e mais sete réus irão a júri popular no processo sobre o
desaparecimento e morte de Eliza Samudio, ex-namorada do jogador. Para a
polícia, Eliza foi morta em junho de 2010 na Região Metropolitana de
Belo Horizonte, e o corpo nunca foi encontrado. Em fevereiro de 2010, a
jovem deu à luz um menino e alegava que o atleta era o pai da criança.
Atualmente, o menino mora com a mãe de Eliza, em Mato Grosso do Sul.
O goleiro, o amigo Luiz Henrique Romão – conhecido como Macarrão – e o
primo Sérgio Rosa Sales vão a júri popular por sequestro e cárcere
privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.
Sérgio responde ao processo em liberdade. O ex-policial Marcos Aparecido
dos Santos, o Bola, também está preso e vai responder no júri popular
por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver.
Dayanne, ex-mulher do goleiro; Wemerson Marques, amigo do jogador; e
Elenílson Vítor Silva, caseiro do sítio em Esmeraldas, respondem pelo
sequestro e cárcere privado do filho de Bruno. Já Fernanda Gomes de
Castro, outra ex-namorada do jogador, responde por sequestro e cárcere
privado de Eliza e do filho dela. Eles foram soltos em dezembro de 2010 e
respondem ao processo em liberdade. Flávio Caetano Araújo, que chegou a
ser indiciado, foi inocentado.
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