domingo, 20 de fevereiro de 2011

Paixão pelo Flamengo e pelo funk marcaram juventude de Ronaldo

O início da década de 90 marcou o crescimento de dois fenômenos no Rio de Janeiro: o funk e um jovem atacante que passaria a ser mundialmente conhecido como Ronaldo, mas que na época atendia pelo apelido de Mônica entre a turma que jogava nas categorias de base do São Cristóvão. A arcada dentária avantajada do jovem Ronaldo Luiz Nazário de Lima, não passou despercebida pelos amigos de clube, que logo fizeram a inevitável comparação com a personagem dos quadrinhos.

O funk começava a ganhar a forma que marcaria para sempre a cultura carioca e foi, de certa maneira, a trilha sonora da juventude de Ronaldo.

- Pedíamos dinheiro ao pessoal da comissão técnica para a passagem mas o Ronaldo conseguia pular o muro da estação de trem e guardava o dinheiro. Lembro que íamos a uma fábrica de uma loja de roupas em São Cristóvão comprar bermudões para imitar o pessoal do funk. Era moda, usar bermuda, tênis Nike, todos queriam ter esse estilo - explicou Clayton, o primeiro parceiro de ataque do Fenômeno.



De acordo com o tricolor Clayton, apenas um fator impedia Ronaldo de jogar futebol: a paixão pelo Flamengo. O atacante raramente aparecia nos duelos contra seu clube de coração e usava o ódio da mãe ao futebol como desculpa:

- Dona Sônia era contra o futebol, preferia que o Ronaldo estudasse. Ele não gostava de jogar contra o Flamengo e sempre chegava atrasado aos jogos. Dizia que a mãe não tinha ligado o despertador propositalmente e aparecia apenas no segundo tempo.

A parceria entre Clayton e Ronaldo na base do São Critóvão durou quatro anos. Tempo suficiente para conhecer a intimidade e os sonhos um do outro. Ninguém imaginava que o pequenino dentuço, um dos mais novos do time, se tranformaria em um ícone do esporte. O menino Ronaldo pensava com o coração, rubro-negro e encantado pelo futebol de um eterno camisa 10.

- O ídolo dele era o Zico. Ele dizia que gostaria de vestir a camisa do Flamengo e ser igual ao Zico, e eu, o Eduardo, lateral-esquerdo do Fluminense. Fazíamos planos, quem alcançasse o sucesso primeiro ajudaria o outro - revelou o primeiro parceiro de ataque do Fenômeno.


Clayton jamais esqueceria a parceria com Ronaldo. Mesmo quando seu companheiro seguiu para o Cruzeiro, a sensação de Clayton era a de que continuava participando dos fenomenais gols do camisa 9.

- Éramos uma dupla perfeita, como Romário e Bebeto em 1994. Eu jogava pelas pontas e passava a bola para ele marcar os gols. Por isso, mesmo depois que cada um seguiu seu destino, a cada gol dele eu sentia que fazia parte, me sentia ao lado dele, comemorando com ele. Tudo o que mostrou no PSV e no Barcelona, era o mesmo que fazia no São Cristóvão - lembrou emocionado.

A distância entre a dupla - Ronaldo morava em Bento Ribeiro e Clayton em São Gonçalo - não os impedia de curtir quando se encontravam. Embaladas por sucessos de ícones do funk, como Claudinho e Bucheca, as brincadeiras eram constantes.

- Quando juntava o pessoal, gostávamos de ouvir funk, principalmente Claudinho e Buchecha, e Ronaldo era muito brincalhão. Uma vez ele me chamou dizendo que tinha um presente. Quando eu cheguei perto dele, ele jogou cal na minha cara. Foi uma época muito boa, éramos os menores, ele de família humilde, os pés maiores que os chinelos, sempre ia aos treinos sozinho - completou.


MAL-ENTENDIDO ABALA RELAÇÃO

O envolvimento de Ronaldo com travestis abalou a relação com Clayton, que não fala com seu amigo desde o polêmico episódio. Tudo por conta de uma revelação mal interpretada por um jornal.

- Nós costumávamos correr na Quinta da Boa Vista e alguns travestis transitavam por ali. Gostávamos de brincar com eles. Mexíamos nas bolas deles e eles corriam atrás de nós com navalhas. O jornal publicou que eu disse que ele já se envolvia com travestis. Não sei se ele leu, mas desde então nunca mais consegui falar com ele. Acho que deve ter ficado chateado - lamentou.

PROJETO SOCIAL

Hoje em dia Clayton lidera um projeto social, com uma escolinha de futebol para cerca de 300 jovens carentes. Realizado, o ex-jogador tem apenas mais um desejo: que Ronaldo apareça para ver as crianças.

- Eles sempre me perguntam quando o Ronaldo vai aparecer. Gostaria muito que ele viesse, seria a realização do sonho de vários garotos - insistiu.


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