De joelhos, rezando para o jogo acabar quando ainda faltavam 15 minutos, o torcedor do Flamengo pedia: “Acaba, pelo amor de Deus! Acaba!” De costas para o gramado, outro torcedor olhava para o céu, depois para o relógio, e repetia o grito: “Acaba!!! Acaba!!!” Só quando, finalmente, o uruguaio Roberto Silvera apitou o final da partida, às 23h45, os 2 mil torcedores do Flamengos espremidos no canto do Pacaembu relaxaram, se abraçaram e começaram a rir.
Numa alusão ao centenário do Corinthians, que se festeja este ano, os rubro-negros começaram a cantar um “parabéns pra você” dirigido aos torcedores alvinegros que deixavam, cabisbaixos, o estádio. Também cantaram um famoso grito de guerra da Gaviões da Fiel, adaptado de forma indecente, começando assim: “Aí tem um bando de corno” (em vez de “aqui tem um bando de louco”).
A torcida do Flamengo ainda teve forças e coragem, protegida pela Polícia Militar, para provocar os rivais, gritando: “Eliminado! Eliminado!”. E improvisar, com rima, um canto assim: “Libertadores, o Corinthians nunca viu!”, associado a um palavrão sonoro.
Dentro da área reservada ao Flamengo, no Pacaembu, foi montada uma área vip, que recebeu a presidente do clube, Patrícia Amorim, alguns diretores, celebridades, como os atores Thiago Lacerda, Dado Dolabella e Marcelo Serrado, o banqueiro Rodrigo Xavier, o ex-presidente do Flamengo Luiz Augusto Veloso, o economista Alexandre Povoa e o empresário Walter de Mattos Jr., dono do diário “Lance!”.
Lacerda abandonou o conforto da área vip e se juntou aos torcedores no meio da arquibancada quando a partida começou. Protegida por quatro seguranças, Patrícia Amorim também circulou entre os torcedores, ouviu seu nome ser gritado e fez fotos com vários flamenguistas.
Diferentemente de boa parte da torcida, que veio de avião, algumas centenas de integrantes de quatro organizadas (Raça Rubro-negra, Torcida Jovem, Flamanguaça e Urubuzada) vieram em duas dezenas de ônibus. Escoltados pela polícia, só começaram a entrar no Pacaembu no meio do primeiro tempo. A maior parte nem viu o primeiro gol do Corinthians, marcado aos 27 minutos.
Além das provocações aos corintianos, os flamenguistas tentavam animar o time cantando o hino do clube e, especialmente, um famoso canto de guerra:
“Dá-lhe, dá-lhe, ô! Mengão do meu coração! Estou sempre contigo. Somos uma nação. Não importa onde esteja. Sempre estarei contigo. Com meu manto sagrado. Minha bandeira na mão. O Maraca é nosso. Vai começar a festa!”
Mas o desempenho pífio no primeiro tempo, encerrado com 2 a 0 para o Corinthians, desanimou a torcida. No intervalo, um consolo. Pelo rádio, chegou a notícia que o vasco foi eliminado da Copa do Brasil – e a informação correu rapidamente pelo setor rubro-negro do Pacaembu.
Ao meu lado, um torcedor que cronometrava o tempo de jogo, informava a cada 30 segundos o andamento do relógio. O desespero aumentou quando Love foi substituído – “Tá louco!”, gritaram vários torcedores, ao mesmo tempo.
Quando o árbitro uruguaio marcou uma falta próxima à área do Flamengo já nos descontos, vários torcedores se ajoelharam e começaram a rezar e pedir o final da partida. “Só essa, pelo amor de Deus, Bruno”, pediu um. “Acaba!!!!”, gritou outro, desesperado.
Ouviu-se, então, o apito final. E começou a festa. “Parabéns pra você”, Corinthians!
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