Desacreditado. Assim estava o Flamengo quando Jayme de Almeida foi
chamado para assumir o comando da equipe no meio de setembro. Dias
antes, o técnico Mano Menezes tinha pedido demissão alegando não ter
conseguido passar para o grupo aquilo que pensa sobre futebol. Mas o
então auxiliar técnico de 60 anos não fugiu da responsabilidade.
Trabalhou em silêncio, fez algumas mudanças no time, deu a confiança que
faltava aos jogadores e transformou o Rubro-Negro em apenas dois meses.
A coroação veio na noite desta quarta-feira com a vitória por 2 a 0
sobre o Atlético-PR e a conquista do tricampeonato da Copa do Brasil, o
primeiro título como treinador do sempre sereno Jayme.
Braços cruzados, olhar atento: Jayme de Almeida e sua tranquilidade na decisão (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
As
reações do comandante durante os 90 minutos traduzem bem a sua
personalidade. Tranquilo, poucas vezes se movimentou pela área técnica.
Parecia ter a equipe nas mãos. Em pouco tempo, conseguiu usar seu
trabalho e sua história no Flamengo para conquistar o grupo, repetindo
trajetórias vitoriosas de nomes como Carlinhos e Andrade. E foi
justamente para os jogadores que ele deixou os holofotes do título. Após
o apito final, Jayme se viu rapidamente cercado por repórteres. Depois
das entrevistas, foi a campo e deu alguns abraços. Mas só se aproximou
dos jogadores na hora das fotos, e ainda assim a pedido dos próprios.
- Já falei isso mais de uma vez e repito: quem decide são os jogadores. E
não é demagogia. Comemorei, abracei, foi um momento emocionante,
lógico. Mas deixei a festa para os jogadores. Eles são mais jovens, dão
volta olímpica, carregam a taça. Eu não tenho mais idade para isso
(risos) - resumiu o treinador já com a medalha no peito.
Tensão? Só contra o Corinthians...
Um
jogo muito estudado e com poucas emoções. O retrato da primeira etapa
deu o tom das reações dos treinadores nos primeiros 45 minutos de jogo.
Se nas arquibancadas a festa era intensa, nas áreas técnicas a
tranquilidade, pelo menos aparentemente, imperava. Jayme, por exemplo,
escolheu sua posição no lado direito, cruzou os braços e assim ficou do
primeiro ao último apito. Algumas vezes abaixava a cabeça, olhava o
relógio e nada mais.
Vágner Mancini não fugiu à regra. Tirando uma ou outra movimentação, algumas conversas com o bandeirinha e poucas orientações, o treinador atleticano tirou o primeiro tempo para observar. Atitude incisiva só para reclamar com o juiz e com o quarto árbitro que uma das bolas do jogo estava murcha. O suficiente para chamar atenção e ser xingado pela torcida do Flamengo.
Vágner Mancini não fugiu à regra. Tirando uma ou outra movimentação, algumas conversas com o bandeirinha e poucas orientações, o treinador atleticano tirou o primeiro tempo para observar. Atitude incisiva só para reclamar com o juiz e com o quarto árbitro que uma das bolas do jogo estava murcha. O suficiente para chamar atenção e ser xingado pela torcida do Flamengo.
O
panorama seguiu o mesmo na etapa final. Jayme se posicionou no mesmo
lugar, à direita da área técnica. E foi dali que ele deu a instrução
para Paulinho não jogar a bola para lateral quando Paulo Baier ficou
caído no campo de ataque por volta dos 20 minutos. O técnico sabia que
era cera e, de fato, não demorou muito para o atleticano se levantar.
Vendo
seu time apático em campo, Mancini resolveu mudar na busca por seu
segundo título da Copa do Brasil - o primeiro foi com o Paulista de
Jundiaí, em 2005. Colocou Dellatorre, Ciro e Cléberson no jogo. Jayme
respondeu com Diogo Silva, González e João Paulo. Mas as emoções estavam
mesmo guardadas para os minutos finais. Mesmo abusando do chuveirinho, o
Atlético-PR pouco ameaçou Felipe. E viu sua falta de ofensividade ser
castigada. Depois de perder boas chances, o Flamengo matou o jogo com
Elias e Hernane. Comemoração exagerada de Jayme? Nada disso. No máximo
algumas palmas e as mãos erguidas ao alto. Tensão mesmo ele diz ter
sentido no último domingo.
- Vou ser bem sincero: fiquei mais
tenso contra o Corinthians no domingo do que na final. Sentia que, se
não fizéssemos um resultado bom no Brasileiro, a pressão seria enorme.
Lógico que contra o Atlético-PR era uma decisão. Nunca é tudo tranquilo.
Mas não fiquei preocupado durante o jogo. A preparação foi boa, e o
resultado de domingo deu muito moral para o time. Estava confiante de
que iríamos fazer o nosso trabalho bem feito. Se iríamos vencer, era
outra questão... - frisou o técnico.
Sensação no Campeonato
Brasileiro, o Atlético-PR viu o sonho do título inédito da Copa do
Brasil ser adiado. Parou em Paulinho, em Elias, em Hernane. Parou no
Flamengo, time responsável por eliminar os favoritos da competição como
Cruzeiro e Botafogo. Acima de tudo, parou no jeito simples de Jayme, o
sereno treinador que já conquistou a Nação Rubro-Negra.
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