quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Festa discreta, muita tranquilidade e confiança: a primeira taça de Jayme

Desacreditado. Assim estava o Flamengo quando Jayme de Almeida foi chamado para assumir o comando da equipe no meio de setembro. Dias antes, o técnico Mano Menezes tinha pedido demissão alegando não ter conseguido passar para o grupo aquilo que pensa sobre futebol. Mas o então auxiliar técnico de 60 anos não fugiu da responsabilidade. Trabalhou em silêncio, fez algumas mudanças no time, deu a confiança que faltava aos jogadores e transformou o Rubro-Negro em apenas dois meses. A coroação veio na noite desta quarta-feira com a vitória por 2 a 0 sobre o Atlético-PR e a conquista do tricampeonato da Copa do Brasil, o primeiro título como treinador do sempre sereno Jayme.

Jayme de Almeida jogo Flamengo e Atlético-PR final Copa do Brasil (Foto: André Durão / Globoesporte.com) 
Braços cruzados, olhar atento: Jayme de Almeida e sua tranquilidade na decisão (Foto: André Durão / Globoesporte.com)


As reações do comandante durante os 90 minutos traduzem bem a sua personalidade. Tranquilo, poucas vezes se movimentou pela área técnica. Parecia ter a equipe nas mãos. Em pouco tempo, conseguiu usar seu trabalho e sua história no Flamengo para conquistar o grupo, repetindo trajetórias vitoriosas de nomes como Carlinhos e Andrade. E foi justamente para os jogadores que ele deixou os holofotes do título. Após o apito final, Jayme se viu rapidamente cercado por repórteres. Depois das entrevistas, foi a campo e deu alguns abraços. Mas só se aproximou dos jogadores na hora das fotos, e ainda assim a pedido dos próprios.

- Já falei isso mais de uma vez e repito: quem decide são os jogadores. E não é demagogia. Comemorei, abracei, foi um momento emocionante, lógico. Mas deixei a festa para os jogadores. Eles são mais jovens, dão volta olímpica, carregam a taça. Eu não tenho mais idade para isso (risos) - resumiu o treinador já com a medalha no peito.

Tensão? Só contra o Corinthians...

Um jogo muito estudado e com poucas emoções. O retrato da primeira etapa deu o tom das reações dos treinadores nos primeiros 45 minutos de jogo. Se nas arquibancadas a festa era intensa, nas áreas técnicas a tranquilidade, pelo menos aparentemente, imperava. Jayme, por exemplo, escolheu sua posição no lado direito, cruzou os braços e assim ficou do primeiro ao último apito. Algumas vezes abaixava a cabeça, olhava o relógio e nada mais.

Vágner Mancini não fugiu à regra. Tirando uma ou outra movimentação, algumas conversas com o bandeirinha e poucas orientações, o treinador atleticano tirou o primeiro tempo para observar. Atitude incisiva só para reclamar com o juiz e com o quarto árbitro que uma das bolas do jogo estava murcha. O suficiente para chamar atenção e ser xingado pela torcida do Flamengo.

O panorama seguiu o mesmo na etapa final. Jayme se posicionou no mesmo lugar, à direita da área técnica. E foi dali que ele deu a instrução para Paulinho não jogar a bola para lateral quando Paulo Baier ficou caído no campo de ataque por volta dos 20 minutos. O técnico sabia que era cera e, de fato, não demorou muito para o atleticano se levantar.

Vendo seu time apático em campo, Mancini resolveu mudar na busca por seu segundo título da Copa do Brasil - o primeiro foi com o Paulista de Jundiaí, em 2005. Colocou Dellatorre, Ciro e Cléberson no jogo. Jayme respondeu com Diogo Silva, González e João Paulo. Mas as emoções estavam mesmo guardadas para os minutos finais. Mesmo abusando do chuveirinho, o Atlético-PR pouco ameaçou Felipe. E viu sua falta de ofensividade ser castigada. Depois de perder boas chances, o Flamengo matou o jogo com Elias e Hernane. Comemoração exagerada de Jayme? Nada disso. No máximo algumas palmas e as mãos erguidas ao alto. Tensão mesmo ele diz ter sentido no último domingo.

- Vou ser bem sincero: fiquei mais tenso contra o Corinthians no domingo do que na final. Sentia que, se não fizéssemos um resultado bom no Brasileiro, a pressão seria enorme. Lógico que contra o Atlético-PR era uma decisão. Nunca é tudo tranquilo. Mas não fiquei preocupado durante o jogo. A preparação foi boa, e o resultado de domingo deu muito moral para o time. Estava confiante de que iríamos fazer o nosso trabalho bem feito. Se iríamos vencer, era outra questão... - frisou o técnico.

Sensação no Campeonato Brasileiro, o Atlético-PR viu o sonho do título inédito da Copa do Brasil ser adiado. Parou em Paulinho, em Elias, em Hernane. Parou no Flamengo, time responsável por eliminar os favoritos da competição como Cruzeiro e Botafogo. Acima de tudo, parou no jeito simples de Jayme, o sereno treinador que já conquistou a Nação Rubro-Negra.


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