O Conselho Deliberativo do Flamengo aprovou na noite desta terça-feira a
assinatura do contrato entre o clube e a concessionária do Maracanã
para jogar no estádio até 2016. Segundo o novo acordo, o Flamengo, que
antes recebia metade da receita de todos os jogos e reclamava do alto
custo do estádio, agora tem direito a fatias maiores conforme o volume
da renda da partida. Quanto maior a receita, maior a parcela que cabe ao
clube, evitando assim que o custo de atuar no Maracanã em jogos de
grande receita seja alto demais. Os percentuais da renda variam entre
50% (até R$ 500 mil) e 72% (para o caso de bilheteria acima de R$ 2
milhões). Também foi incluída, após proposta do Conselho de Grandes
Beneméritos, uma cláusula em que a Odebrecht deverá fazer um estudo de
viabilidade para um estádio na Gávea até o fim de 2014 e executar o
projeto, se o mesmo for viável. Ou seja, se o clube conseguir as
licenças necessárias. O Deliberativo aprovou ainda os projetos para
captação de recursos através de leis de incentivo para os esportes
olímpicos e o centro de treinamento em Vargem Grande.
O acordo prevê que o Flamengo tem liberdade para disputar 10 jogos por
ano fora do Rio, desde que não sejam decisivos ou sejam do Campeonato
Carioca. Além disso, a despesa operacional para cada uma das partes,
proporcional ao percentual da renda, será de R$ 10 por pagante, conforme
anunciado no borderô, até um limite de R$ 300 mil. Acima desse valor, a
concessionária passa a arcar com todos os custos.
Nesta terça-feira, surgiram informações de que a concessionária do
Maracanã chegou a tentar uma renegociação de alguns termos, incluindo a
planilha da partilha da renda. Queria fatias maiores. O clube bateu o
pé, a concessionária não gostou, mas o documento foi ao Deliberativo da
forma como foi colocado para apreciação dos conselheiros. A assessoria
do Flamengo desmentiu a informação.
Entre os dados divulgados no Deliberativo, foi dito que o Flamengo
ficará com 50% dos camarotes do Maracanã. A venda deverá poder ser feita
jogo a jogo ou anualmente. Ainda foram colocadas pequenas alterações
impostas pela comissão jurídica do Deliberativo e pelo Conselho Fiscal.
Entre as mudanças, a rescisão contratual a qualquer momento sem multa e
um item especificando que o Flamengo tem o direito de acompanhar os
custos da operação do estádio. Está especificada também a necessidade
de aprovação dos conselhos para pedidos de adiantamento de receita.
Circula na Gávea a informação de que o clube deverá pedir em breve R$ 30
milhões (mais R$ 10 milhões de empréstimo de um banco) para cobrir o
buraco no orçamento até o fim do ano, mas não há confirmação oficial.
Bandeira de Mello frisa que acordo não é definitivo
Questionado sobre a cláusula a respeito do investimento em uma arena da
Gávea, o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, explicou
que o acordo foi somente para continuar analisando o tema:
- Era um anseio de muitos dos sócios do Flamengo, de conselheiros, de
ter uma arena, um investimento aqui na Gávea. Isso já desde o início das
negociações está planejado ser incluído. Mas como não estamos ainda na
fase definitiva de acerto com a concessionária, isso é uma fase dois,
uma fase intermediária, então nesse momento ainda não foi colocado.
Introduzimos uma cláusula de melhores esforços, vamos dizer assim, em
que as partes combinam que vão continuar estudando o assunto.
O presidente não se furtou a comentar a possibilidade de buscar adiantamento de receitas de jogos:
- Podemos usar, se for do interesse do clube. Agora, qualquer
adiantamento ou empréstimo vai ter de ser aprovado dentro do conselho
competente, como qualquer outro adiantamento. Tem de ser submetido.
Ao responder sobre a satisfação com os novos números, Bandeira de Mello mostrou uma postura moderada:
- Melhoraram em relação ao acordo anterior, mas como falei é um
contrato intermediário, não definitivo. Quem sabe pode vir a melhorar
ainda mais, mas por enquanto temos de respeitar o que estamos assinando
agora. Existe a possibilidade de rescisão sem multa a qualquer momento
para qualquer um dos lados.
Ex-presidente Marcio Braga reclama de falta de tempo para apreciação
Pouco antes do horário marcado para o início das atividades no
Deliberativo, o ex-presidente Marcio Braga afirmou ser contra a
assinatura nos termos iniciais do contrato. A bronca era com a ausência
de uma cláusula que contemplasse a construção de um estádio na Gávea,
projeto antigo no clube que nunca saiu do papel.
- Ontem (segunda-feira), o Conselho de Grandes Beneméritos do Flamengo
se reuniu e eu fiz uma exposição do que eu acho dessa operação, dessa
proposta de contrato de três anos. O conselho concordou comigo por
unanimidade que o Flamengo não pode assinar nada que não garanta a ele a
construção do seu estádio na Gávea. Eles inicialmente fizeram um
contrato para alguns jogos, depois para 30 dias, depois três meses,
agora três anos, eles estão avançando sempre no sentido de validar a
concessão do Maracanã. Porque sem o Flamengo eles não consolidam a
posição. O único cacife que o Flamengo tem é exatamente o mando de
campo. Enquanto o Flamengo não negociar o seu mando de campo, eles não
têm certeza de nenhuma negociação que possa prosperar no Maracanã. A
luta de braço é essa - disse Marcio, que conseguiu ao menos o estudo de
viabilidade na redação final do contrato.
O ex-presidente, que na eleição do ano passado apoiou a Chapa Azul,
ainda contestou o curto prazo para análise dos documentos pelos
conselheiros.
- Eu até achava na semana passada, quando colocaram isso na
quinta-feira para ser apreciado e votado na terça-feira, que era um
pouco açodado. Não dá para formar opinião em três ou quatro dias de um
negócio que é de altíssimo interesse do Flamengo. Mas essa ideia de dar
mais uns 10 dias para discussão não prosperou.
Questionado sobre as muitas vezes em que o Flamengo tentou a licença
para construir o estádio, em diferentes tamanhos, na Gávea, Braga
afirmou que o clube chegou a ter o documento em mãos, mas esbarrou no
veto do governador Sérgio Cabral.
- Não, você está enganado. Tivemos o estádio na Gávea aprovado com
licença de obras concedida pela Prefeitura no meu mandato. Tínhamos a
licença de obra. Aí o Sérgio Cabral é que vetou, ele que tirou a
licença, estava tudo aprovado na Prefeitura. Veio o governo do Estado e
vetou para nos colocar participando da licitação do Maracanã. Esse foi o
argumento. Tivemos de aceitar, ganharíamos a licitação e chega na hora,
ele faz a licitação proibindo a participação dos clubes. O governador
não honrou a sua palavra.
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