domingo, 29 de setembro de 2013

Elias vê chance na Copa do Brasil e sofrimento até o fim no Brasileirão


Ainda na disputa do título da Copa do Brasil, mas próximo da zona de rebaixamento do Brasileirão. A temporada do Flamengo retrata bem os altos e baixos do clube na temporada. Mas mesmo em um cenário instável e com seguidas trocas de técnicos, Elias virou o xodó da torcida e sinônimo de raça. Em entrevista ao “Esporte Espetacular”, o volante lembrou da dispensa do Palmeiras no início da carreira, da saída traumática de Mano Menezes, disse que a Copa do Brasil não é um bicho de sete cabeças, acredita que o time não cai e pede apoio do torcedor.

- O Flamengo é “incaível”, né. O torcedor fala. É “incaível” se nós jogadores continuarmos comprometidos com a causa. O Flamengo é um gigante adormecido, que está acordando. Não tem outro jeito. É sofrimento até o fim. As coisas estão difíceis. Mas eles podem ter consciência que estamos tentando fazer o nosso melhor, estamos nos dedicando e precisamos mais do apoio deles. A gente sabe o quanto eles fazem a diferença. Pedimos apoio total para chegar ao final do ano podendo comemorar um título e a permanência na série A.

Autor do gol que eliminou o favorito Cruzeiro nas oitavas de final da Copa do Brasil, Elias acha que dá para o Flamengo ser campeão.

- Não é um bicho de sete cabeças como todo mundo fala, a gente conseguiu eliminar o Cruzeiro, que era favorito nesse confronto. E a gente sabe que a gente pode eliminar o Botafogo, que também é favorito pelo momento que vive. A gente sabe que a camisa do Flamengo é pesada, quando chega em decisão, ela pesa. Então, basta a gente querer se dedicar, que a gente pode eliminar o Botafogo e fazer uma decisão de Copa do Brasil.

A saída de Mano Menezes, uma espécie de paizão, também abalou o jogador. Foram dias difíceis e um sentimento de abandono muito grande.

- Olha, fiquei bastante chateado. Minha mulher sabe bem disso. Fiquei uns dois dias sem falar com ninguém. Me senti meio abandonado. Um vazio dentro da gente, porque é um pai, é um grande técnico que estava ajudando bastante.

Antes do anúncio de Mano, porém, Elias chegou a ir atrás do técnico para tentar demovê-lo da idéia, mas em vão.

- Eu fui, eu fui atrás dele. Eu, Chicão, André... A gente queria que ele esfriasse a cabeça, né... Ele sempre falou pra nós jogadores que a gente nunca deveria tomar alguma atitude ou se expressar com algum companheiro depois dos jogos, porque a gente estava de cabeça quente. Ele sempre prezou por isso. Aí, ele tomou uma decisão de cabeça quente. Então, a gente foi atrás dele para tentar conversar, deixar ele pensar, só que a gente conhece ele. A gente sabe que quando ele coloca algo na cabeça, é difícil mudar, mas a gente tentou, né - revelou.

Casamento com a torcida emociona 

Suspenso do primeiro jogo contra o Botafogo pelas quartas de final da Copa do Brasil, Elias assistiu ao jogo no Maracanã e se emocionou com o que viu.

- Impressiona. O último jogo agora foi o primeiro que eu assisti no Maracanã. Não pude jogar, estava suspenso, e fiquei bem do lado da torcida ali. Não tem nem palavra para falar, porque impressiona muito. Eles cantam muito, são muito vibrantes. Eles conseguem virar a partida. Acho que eu me identifico muito com o torcedor do Flamengo. O torcedor que gosta de um jogador que dê raça, que dê carrinho, que brigue dentro de campo. E eu sou assim, né...

No dia mais especial de Elias vestindo a camisa do Flamengo, ele fez o Maracanã explodir. Dúvida até momentos antes do jogo, marcou um gol aos 43 minutos do segundo tempo contra o Cruzeiro, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, e classificou o Flamengo para a próxima fase. Na comemoração, Elias correu para a torcida, chorou e revelou o incentivo do ex-comandante para estar em campo naquele dia.

- Eu acho que foi por tudo que aconteceu antes do jogo. Eu estava com uma lesão, tinha machucado no sábado, o jogo era na quarta. No sábado, quando eu fui fazer exames, o doutor falou que eu ia ficar no mínimo duas semanas e ia perder a partida. Quando retornei para o Rio de Janeiro, o doutor Runco me levou na clínica dele, fiz outro exame e ele falou: “Aquele exame lá esquece, o que eu vi aqui é outro, se você confiar em mim, consigo te colocar para jogar na quarta”. Eu perguntei se teria risco de agravar a lesão, e ele disse que não: “Você tem que confiar em mim e ir para jogo”.

Elias flamengo Cruzeiro (Foto: Alexandre Loureiro / Agência Estado) 
Elias se emociona com o gol contra o Cruzeiro (Foto: Alexandre Loureiro / Agência Estado)

A confiança em Mano Menezes era tão grande que Elias decidiu disputar a partida e acabou recompensado. Mas só quem viveu os bastidores sabe como foi delicada a decisão de entrar em campo.

- Na terça-feira, na véspera do jogo, teve o treinamento. E eu não tinha treinado ainda, aí fui treinar. Entrei 10 minutos no coletivo, senti muita dor, falei que estava incomodando muito. Ele falou que era normal, que na quarta-feira estaria um pouco melhor. Aí, fui concentrar e uma hora antes da preleção do Mano, eu fui fazer um teste no estacionamento do hotel. Comecei a dar uns piques para lá, velocidade para cá, fazia giro, batia na bola. E incomodava muito. Daí chegou a hora que eu tinha que tomar a decisão. Perguntei para parte médica se iria rasgar, eles disseram que não. “Não vai rasgar mais”. Foi quando eu decidir que ia jogar. No aquecimento eu sentia dor. Na primeira bola do jogo, eu fui tocar e senti o músculo puxar, já perdi confiança. E com o tempo você vai esquentando, vai esquecendo a dor, você vai escutando a torcida cantando lá em cima, empurrando, dando força. Chegou um momento do jogo em que eu pedi pra sair. Um pouquinho antes do gol, eu pedi pra sair. E aí, o Mano falou: “Não! Tu vai ficar em campo!” Eu falei: “Está doendo, ‘pô’, não dá mais”. Ele falou: “Não! Não! Tu vai ficar.” Daí, eu fiquei em campo e pude fazer o gol. Aí, ele falou: “Tá vendo? Por isso eu falei pra você ficar em campo!” (risos) “Não era pra você ter saído” -  relembrou emocionado.

Você até se emocionou um pouco quando falou da saída do Mano...
- É... A emoção bate, porque, como eu falei, eu devo tudo a ele. Ele me levou pro Corinthians, me levou para Seleção. É um grande treinador. Me cobrou bastante, me ensinou bastante. Eu sou um jogador mais completo hoje por causa dele. Mas a gente respeita a opinião dele, mesmo não concordando. Ele não vai deixar de ser um grande treinador por causa dessa atitude. Também não vai deixar de ser um companheiro e um pai pra mim.

Houve um churrasco de alguns jogadores, o seu nome nem foi citado, não sei se você estava. Mas você sentiu que o Mano ficou chateado com esse churrasco?
Mas quem não faz churrasco? Às vezes, a gente é muito hipócrita. Jogador de futebol é um ser humano comum, como qualquer outro. Se houve ou se não houve, a gente estava no nosso direito. Se foi na folga, a gente está no nosso direito. Se houve ou não, o Mano que tem que falar se isso levou ele a pedir demissão ou não.

Nem todos sabem que você passou oito anos na base do Palmeiras, mas foi dispensado justamente quando ia se tornar profissional. Como foi isso na sua vida?
- Às vezes, as coisas andam difíceis, as coisas não funcionam como a gente quer, e a gente sofre. A família sofre. Eu sofri muito em 2006, tive depressão, não pude fazer aquilo que eu mais gosto, que eu mais amo, que é jogar futebol. Eu tinha o contrato com o Palmeiras, e eles simplesmente não quiseram renovar. Já tinha aquele famoso contrato de gaveta e, pra mim, já estava garantido, ficaria lá por mais dois anos, e ia tentar minha carreira no profissional. E eles chegaram, disseram que não iam dar continuidade naquele contrato. Rasgaram o contrato e acabou -  relembra Elias, ressentido com o que aconteceu.

Como é para você ter se tornado ídolo no clube rival ao que o dispensou?
- É, uma alfinetada, né?! E eles vão ter que engolir para o resto da vida (risos). Jogar em dois times, nos dois maiores é pra poucos. Eu pude jogar. Sou ídolo em um e estou me tornando ídolo, agora, no Flamengo. Posso falar para os meus familiares, para os meus netos, para os meus bisnetos, que um dia eu fui um jogador de futebol que pode-se dizer consagrado, pois jogou nos maiores clubes do Brasil.

O que aconteceu depois?
- Tive a oportunidade de ir pro Náutico, acabei aceitando e fui. Fiquei lá pouco menos de dois meses e fui dispensado. Quando retornei pra São Paulo, nenhum clube quis abrir as portas pra mim e apostar num jogador desconhecido. Sofri bastante nessa época. Você tem uma rotina de acordar cedo, ir treinar, e eu não fazia isso. Via um monte de companheiros, jogadores que joguei nas categorias de base, já despontando no Campeonato Brasileiro, e eu em casa assistindo à TV. Ai apareceu um empresário na época que me propôs um teste no São Bento de Sorocaba. Ele me explicou que o Rincón estava começando a carreira de jogador, que queria montar um time para disputar o Campeonato Paulista. Eu falei pra eles: “Precisa nem de resposta, né. É só me falar o dia, a hora, que eu estou lá”.

Do São Bento você foi para o Juventus, de São Paulo. De lá, em 2008, você foi para a Ponte Preta e lá conquistou o vice-campeonato paulista. Qual foi a importância da Ponte na sua trajetória?
- Na Ponte a gente fez um grande time. Formamos uma bela equipe, dirigida pelo Sérgio Guedes e conseguimos chegar à final. Foi aí, que as portas se abriram de vez pra mim -  garante o volante.

Depois da “ponte” atravessada para o sucesso, foi no clube do coração que você  encontrou sua melhor maneira de jogar e, sob o comando de Mano Menezes, deixou o ataque para atuar como volante. Vestir a camisa do Corinthians foi um sonho?
- Olha, muito né. Meu quintal (na época) ser o Parque São Jorge. De onde eu morava, era só atravessar a marginal Tietê, e lá está o Parque São Jorge. Era um sonho de criança. Todo mundo sabe que eu sou torcedor confesso do Corinthians. Então, foi um sonho realizado. Na época que eu estava parado, foi quando o Corinthians estava para cair para a Série B, e eu falei para os meus amigos que eu iria subir o Corinthians para Série A de novo. Aí, os moleques falaram: “Você está de sacanagem! Você tá no Juventus, já quer ir para Corinthians”. Eu disse para eles que quando a gente quer, a gente vai atrás, vai à luta e conquista.

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