A efetivação de Jayme de Almeida como treinador do Flamengo reacendeu a
questão da importância da identificação com o clube em um momento
complicado. E mais um integrante reforça o time de pele rubro-negra.
Ex-atleta da casa, Cantarelle passou de preparador de goleiros a
auxiliar, esbanja afinidade com Jayme e destaca que a equipe da Gávea é
diferente de qualquer outra. Como jogador, ele lembra que sempre teve
uma visão privilegiada pela posição que ocupava debaixo das traves.
Também brinca ao lembrar que, como reserva, também analisou muitas
partidas do banco, da mesma forma que faz no momento atual.
- Como goleiro, joguei 19 anos ali atrás, orientando a zaga e
analisando o ataque adversário. Goleiros adquirem outra visão de jogo.
Isso ajuda. E, além de tudo, já fui reserva para caramba, já assisti
jogo a beça no banco (risos). Anos de bola me ajudam. E nada mais
assusta a gente em relação a futebol - declarou Cantarelle.
Canta, como é chamado, foi o goleiro que mais vestiu a camisa do
Flamengo, com 557 jogos. No currículo, acumula títulos como quatro
Brasileiros (80, 82, 83 e 87), Libertadores e Mundial (81), entre
outros. Apesar das brincadeiras, ele fala sério ao dizer que, para
vestir a camisa preta e vermelha, precisa ter um perfil diferente. O
auxiliar técnico sabe como funciona a pressão no clube e acredita que a
identificação ajuda.
- Converso com Zico, Junior, a galera toda. A hora que o clube pensar
num jogador, tem que olhar bem e ver se o perfil encaixa aqui. Ele tem
que ser diferente, brigar. Aliando técnica e garra, como foi o Zico. Ele
armava o time, mas quando apertava dava bicão para arquibancada. O
Carlinhos também exigia isso dos atletas. Tinha voz mansa e conhecia o
clube. E sabia cobrar do jogador. O discurso é diferente pela
experiência de vida aqui dentro. A identificação ajuda quando precisa
explicar uma situação ao jogador em relação ao clube, o que a torcida
pensa. Esse clube é diferente. Não querem o melhor jogador do mundo;
querem o que venda cara a derrota - destacou.
Cantarelle é o braço direito de Jayme. E um pouco mais. Além de dividir
os campos de futebol, os dois também estiveram juntos em outro banco, o
de estudos, quando fizeram curso para treinador. Quando olham para o
passado, os dois veem histórias construídas na Gávea; e ao direcionarem o
olhar para os gramados, têm praticamente a mesma visão.
- Conheço o Jayme há muito tempo. Conversamos muito sobre futebol,
existe uma interação grande. A visão dele e a minha são quase as mesmas.
Temos uma visão individual de cada jogador que ajuda a montar o
coletivo, é mais fácil. A afinidade vem desde a época em que éramos
juvenis, conversávamos no quarto. Ao longo da vida, da carreira, houve
um aprimoramento. Até o curso para técnico nós fizemos juntos, sentando
ao lado, conversando, debatendo - revelou Canta, que, por ora, desistiu
de assumir uma equipe.
- Agora não. Antes, cheguei a pensar, fui técnico do mirim. Mas a vida
me jogou para parte de trás dos goleiros, onde eu sabia mais, tenho
intimidade. Não posso reclamar de nada na vida, o clube deu a mim e ao
Jayme o reconhecimento de anos e anos aqui.
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