No início da temporada, Samir não ocupava lugar de destaque na lista de
promessas do Flamengo. Até por se tratar de opções ofensivas, nomes
como Adryan, Mattheus e Rafinha mexiam mais com o imaginário do
torcedor. Diante da Ponte Preta, domingo, em Campinas, no entanto, o
zagueiro fará sua quarta partida consecutiva como titular rubro-negro e
se consolida como opção segura para um setor marcado por um 2013 de
dispensas, contratações e mudanças constantes. É o ponto alto de uma
trajetória que superou problemas com a balança, dispensa do Flu e
encontrou o caminho para o sucesso em uma geração que teve ainda os
botafoguenses Vitinho e Hyuri, no Audax.
Com apenas 18 anos, Samir estreou nos profissionais com Jaime de
Almeida, no 3 a 0 diante do Criciúma, pela quinta rodada do Brasileirão.
Depois, ainda jogou poucos minutos contra Atlético-MG e Portuguesa. No
primeiro confronto com o Cruzeiro pelas oitavas de final da Copa do
Brasil, a grande chance: foi titular improvisado na lateral esquerda. A
atuação foi discreta, mas parece ter agradado Mano Menezes, que voltou a
dar uma chance diante do Vitória. Desde então, não saiu mais do time e,
mesmo com a volta de González da seleção do Chile, o jovem deve ser
mantido diante da Ponte.
- Fiquei muito feliz. Contra o Santos, infelizmente, aconteceu o
pênalti, mas serve de aprendizado. Vou levar isso para minha vida toda:
zagueiro não dá carrinho na área. Acho que fui bem. Fiz boas partidas.
Agora, é manter os pés no chão. Ainda estou começando. O Mano tem me
passado confiança, tenho trabalhado manter a vaga. Agradeço a Deus por
tudo. Esperava há tempo por esta oportunidade. Pintou contra o Criciúma e
aproveitei. Esperei quietinho e venho fazendo boas partidas – disse
Samir em autoanálise.
Samir em diversos momento: Fla, Flu, Seleção e com ídolos (Foto: Editoria de arte / Globoesporte.com)
Rubro-negro desde a infância em São João do Meriti, apesar de ter
nascido em São Gonçalo, Samir por pouco não desistiu do futebol na
primeira frustação, e vestindo a camisa de um rival. Aos 14 anos, foi
dispensado pelo Fluminense. A notícia chegou sem uma justificativa
formal, mas o camisa 33 do Fla acredita que um problema com a balança na
infância tenha sido determinante.
- Creio que tenha sido por eu ser meio gordinho. Acho que acharam que
eu não ia crescer, não confiaram em mim, não trabalharam. Preferiram me
dispensar para que eu pudesse ir para outro lugar. Sempre foi uma
questão de genética. A minha família tem gente acima do peso. Quando
estiquei, nunca mais tive esse tipo de problema. Era só uma fase. Foram
cinco anos no Fluminense, mas acabou que me dispensaram. Pensei em
parar de jogar, mas minha mãe é uma guerreira, minha inspiração, e fez
tudo por mim.
Com 1.88m, Samir deixou para trás qualquer dúvida sobre sua forma
física - o site oficial do Fla não informa o peso. A decepção com a
dispensa no Flu, no entanto, só foi superada graças a insistência de sua
mãe. Enquanto o jovem pensava em largar a bola, ela conseguiu testes no
Vasco e no Audax. A proximidade de casa o fez optar pelo time de São
João de Meriti. Tiro certeiro. O zagueiro fez parte de uma geração bem
sucedida, que revelou ainda Vitinho, negociado recentemente pelo
Botafogo com o CSKA, da Rússia, e Hyuri, nova sensação no próprio
alvinegro.
- Felizmente, pude jogar ao lado dessas feras. Fico feliz por eles, por
estarem crescendo. Acompanhei a dificuldade deles. Minha mãe sempre me
levava para os treinos, eu tinha um certo conforto, mas sabia que o
Vitinho ia vencer, mesmo com as dificuldades que passava. Às vezes, ele
não ia treinar por conta de tiroteio na comunidade. Sempre foi fenomenal
em campo. O Audax é um fábrica de talentos em São Paulo e no Rio.
Samir
ao lado de Mattheus na base: dulpa disputou junta o Sul-Americano pela
Seleção Sub-20. Badalado, filho de Bebeto voltou para base, enquanto
zagueiro se firma no profissional (Foto: Fair Play / Divulgação)
O destaque no Audax fez com que o Flamengo o contratasse por empréstimo
de um ano na metade de 2011. Ao término do contrato, o Rubro-Negro não
teve dúvida e comprou 60% de seus direitos por R$ 150 mil (30% ainda são
do antigo clube e 10% do jogador). Destaque na campanha do
vice-campeonato da Taça BH de 2012, Samir chegou até a Seleção Sub-20 e
fez parte da desastrosa campanha no Sul-Americano de janeiro deste ano.
Se de lá para cá nomes como Mattheus e Adryan passaram a ser
questionados, o zagueiro seguiu crescendo e chegou aos profissionais.
Sem pressa, o camisa 33, que é fã confesso de Thiago Silva, a quem
trata como “o cara, sem mais!”, apresenta o cartão de visitas no Fla e
recebe as boas-vindas do torcedor. Pensar na condição de titular ainda
pode ser precoce, mas, na ausência de Chicão, a resposta tem sido
positiva. Neste domingo, às 16h (de Brasília), no Moisés Lucarelli,
Samir tem mais uma chance de mostrar, contra a Ponte Preta, que o
gordinho cresceu, apareceu, mas não perdeu a fome para vencer no
futebol.
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