Em outros tempos, a caminhada pelo Centro do Rio seria pontuada apenas
por alguns olhares de quem não esbarra todo dia com um homem de 2,11m
por aquelas ruas. Nesta segunda-feira, no dia em que completa 26 anos,
eles passaram a vir acompanhados de sorrisos, comentários e de um "É o
Caio do Flamengo". O título do NBB e o troféu de MVP da final
contra o Uberlândia (anotou 23 pontos e pegou 10 rebotes), conquistados
no último sábado, fizeram o pivô rubro-negro experimentar a
popularidade. Tem gostado do reconhecimento. Mais ainda por ele ter
vindo depois de uma fase muito difícil na carreira. Desde os playoffs de
semifinal contra o São José, na temporada passada, passou a lidar com
as dores de uma lesão nos ligamentos do dedão do pé esquerdo. Para
piorar a situação, uma bursite na coxa esquerda e os joelhos também
deram sinal.
Caio Torres fez 23 pontos e pegou 10 rebotes na final do campeonato (Foto: João Pires/LNB)
- Durante todo o campeonato não houve um jogo em que atuai sem dor. Eu
só convivia com elas. Foi bem difícil não estar 100%. Mas a cabeça
ajudou muito. Mesmo com tanta dor, quando entrava na quadra, diminuía
um pouco porque gosto muito de jogar basquete. Gosto de estar ali e
ajudar. Na temporada anterior, fiquei triste porque a gente tinha um
timão e podia ter ganhado. Mas não conseguimos. E este ano eu queria dar
mais de mim, mesmo com dor, para que conseguíssemos ganhar a final em
casa. Passei por momentos duros, mas estou muito feliz!. A gente treina
muito, faz muito para que coisas boas aconteçam. Agora é só felicidade
ver que tudo o que fiz foi merecido. Sei que não conseguiria ganhar esse
prêmio sem a equipe, sem meus companheiros - disse.
Os que estavam dentro de quadra e também os que ficam fora dela. O
longo abraço em Ricardo Machado - fisioterapeuta do time e irmão de
Marcelinho e Duda - após o término do jogo na Arena da Barra foi em
agradecimento.
- Nos dois últimos anos, foram poucos dias que não passei por lá pela
sala dele (risos). Quase o tempo todo a gente convivia. Então, agradeci
muito mesmo a ele. Eu agora vou para o Paraná e quero quero ficar uns
cinco dias sem fazer nada. Só descansar e relaxar a cabeça. Depois eu
vou consultar uns médicos para ver as lesões, para saber como vou
tratá-las e tomar uma decisão (não fez cirurgia em 2012 para ir aos
Jogos de Londres). Não sei se vou ser convocado para a seleção, mas
tenho que conversar pessoalmente com o Rubén Magnano. Meu objetivo é
chegar às Olimpíadas do Rio. Sei que muita gente nova vai chegar e tenho
que pensar ano a ano até lá.
Por enquanto, o pivô só deseja que o grupo ou boa parte dele seja
mantido na Gávea. Caio não se cansa de elogiar os companheiros. Acha que
a liga, a amizade entre eles, foi um dos segredos para a conquista do
segundo caneco do clube no NBB.
- Nós tivemos dois momentos difíceis na temporada. Ganhamos um jogo
histórico na Liga Sul-Americana e perdemos para o Brasília depois. E na
Liga das Américas perdemos duas partidas e não chegamos à final. Mas o
time se redimiu dessas derrotas e ganhou o título que mais queria desde o
começo, o mais importante. Então, esse grupo é especial. Nunca estive
em um que fosse assim. Todo mundo era amigo, não havia falsidade. A
gente se olhava no olho, era amizade verdadeira. Nós nos ajudamos muito.
Desejo o melhor a todos e que continuemos juntos.
As fotos, a medalha, o troféu de MVP e a redinha ganharão lugar
especial na casa do pivô. Quer manter ao alcance dos olhos e das mãos as
lembranças do seu primeiro título nacional. Não vê a hora também de ter
nos braços aquele que considera o melhor presente da vida: o filho
Kaíque, que vai nascer no fim de agosto. Na virada do ano, quando ficou
sabendo que seria papai, o desempenho em quadra começou a crescer. A
confiança que andava abalada pelos problemas físicos e a tal da fase
ruim, como ele chamava, ficaram para trás.
- Está sendo um ano muito feliz. Estou muito feliz por minha esposa
estar grávida (ele e Fernanda estavam tentando ter um filho há muito
tempo) e só tenho a agradecer a quem torce por mim e quem me ajuda. Meu
melhor presente está chegando.
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