A relação de amor com o Flamengo garantiu a Rafael Strauch um presente
no Dia dos Namorados: ele ganhou um título de sócio. Além da lembrança, a
intenção de Tatiana era que ele parasse de “encher o saco” por conta do
Rubro-Negro. O efeito foi justamente oposto. Formado em administração e
economia, Rafael mergulhou na política do clube, destrinchou estatuto,
foi peça-chave na campanha vitoriosa de Eduardo Bandeira de Mello e
assumiu o cargo de vice-presidente da secretaria geral. Ele tem em mãos o
quadro associativo do clube e as explicações da importância de ser
sócio para participar da vida política que vai além do futebol. E
questiona o tom separatista de futebol x Gávea do discurso de Patricia
Amorim.
A partir do dia seguinte ao resultado das urnas, 4 de dezembro, o número de associações disparou.
A partir do dia seguinte ao resultado das urnas, 4 de dezembro, o número de associações disparou.
- O sócio, formalmente falando, é o acionista, o dono do Flamengo.
Ninguém é mais dono do que ninguém. O sócio-proprietário tem direito a
um voto, se o sócio acabou de entrar tem tanto direito quanto um
ex-presidente. Por ser ex-presidente ele tem uma cadeira cativa no
conselho de administração, ponto. Mas em dois anos você vai poder ser do
conselho deliberativo, pode entrar numa chapa e participar do Conselho
de Administração. Todos acionistas têm cotas iguais. Esse é o grande
barato de associar ao Flamengo – afirmou Rafael Strauch, 36 anos.
Rafael Strauch, novo vice-presidente da secretaria geral do Flamengo (Foto: Janir Júnior)
De torcedor de arquibancada, Rafael Strauch passou a ser sócio atuante. Junto com amigos fundou o grupo Sócios Pelo Flamengo.
- Queria muito participar da vida do Flamengo. Mobilizar as pessoas,
pressionando no bom sentido do que acha que é certo e deve ser feito.
Cem têm mais força do que 10, mil têm mais força do que 100 – destacou.
A vida política ganhou ainda mais força quando chegou à coordenação da
campanha nas eleições da Chapa Campeão do Mundo, que virou Chapa Azul
depois da impugnação da candidatura de Wallim Vasconcellos e a aprovação
de Eduardo Bandeira de Mello.
Com números e quadros de sócios nas mãos, Rafael Strauch tinha a
estratégia e a percepção do quadro político do clube. O resultado das
eleições - 1414 votos para Bandeira contra 914 de Patricia Amorim -
sacramentou a ânsia por mudanças.
E, na opinião de Strauch, deixou clara uma estratégia equivocada e
merecedora de críticas de Patricia, que não teve sucesso no futebol e
recebeu a alcunha de “presidente do Parquinho” por exaltar as melhorias
feitas na sede do clube:
- Uma das forças políticas da presidente anterior foi o foco no
associado e, por algumas vezes, deu declarações de uma quebra: “não
estou sendo boa para a torcida”, mas “estou sendo boa para o associado”.
Essa discussão nunca aconteceu dentro do Flamengo. Nunca aconteceu
porque 98% do quadro de associados são de torcedores. Então, era como se
existissem duas pessoas aqui dentro: o associado não tem nada a ver com
o Flamengo. É mentira. Os associados são flamenguistas para caramba,
são muitos flamenguistas. Você tem eventualmente uma pessoa ou outra que
não é flamenguista, e é sócia porque mora no bairro, quer fazer uma
atividade aqui. Não o inverso. Ela usou muito disso para separar as duas
coisas. Ela apostava nas melhorias internas para ganhar força política.
Então, virava para torcida e falava “não tenho nada a ver com vocês,
mas estou resolvendo a vida do sócio com quem me importo”. Isso foi
muito ruim, pois a torcida se sentiu menosprezada, e gerou essa
beligerância entre as duas coisas como se pudesse dissociar, como se
houvesse sentido nisso, e não tem sentido nenhum. Começamos a fazer
pesquisa, coisa que o Flamengo não faz nem com a torcida e nem com
sócio. Começamos ver idade média, onde mora, o que interessa, para saber
o que ele imagina que o Flamengo deva ser.
Enquanto busca fortalecer o quadro de sócios e tornar o Flamengo grande
não apenas no futebol, em breve, Rafael Strauch será pai de uma menina.
Certamente uma futura associada. O presente de Tatiana naquele Dia dos
Namorados terminou de selar a união com o Rubro-Negro. Mas já não tem o
mesmo encanto.
- Hoje, ela não acha mais tanta graça, não (risos).
A seguir, mais trechos da entrevista com Rafael Strauch.
Vida política e Chapa Azul
Vida política e Chapa Azul
- Já tivera reuniões profissionais com Wallim, tinha visto com a camisa
do Flamengo, sabia que era associado, chamei para o nosso grupo (Sócios
pelo Flamengo). O pessoal brinca dizendo que catequizo as pessoas que
sei que podem ser sócias ou se já são, para fazer alguma coisa pelo
clube. Ele veio para o grupo, começou a participar muito. Depois da
definição da chapa para ser presidente, comecei a ajudar porque tinha
conhecimento dos aspectos legais do clube, principalmente de estatuto.
No meio do processo me formalizam como um dos coordenadores da chapa. A
Chapa começa como Fla Campeão do Mundo até o Wallim sair, a Azul nasce
quando nome de Eduardo Bandeira de Mello é aprovado. O grupo fica mais
amplo, muda foco da campanha. Todos achavam que estaria enfraquecido, e
fortaleceu.
Aumento do número de associados depois das eleições
- Aumentou muito, está crescendo bastante. Vi o quadro associativo
desde 2008, números que pegam duas gestões, cinco anos. De dezembro para
cá, o nível de associação está explodindo. Dezembro do ano passado é o
mês com o maior número de associações dos últimos cinco anos, pega mais
de 60 meses para cá não teve um como dezembro, principalmente a partir
do dia 4, quando se ganha em eleição. Em janeiro, também tem aumentado
muito o número de associações, inclusive de sócio-proprietário.
Sócios pelo Brasil e pela Internet
- O sócio off-rio tem possibilidade de participar da vida política. A
forma de você chamar esse sócio é um trabalho que o marketing está
desenvolvendo. Você tem que saber o que esse torcedor quer, quais os
benefícios que você vai conceder e a que preço. Bap (vice-presidente de
marketing) coordena uma equipe que fará isso, transformar o potencial em
realidade. Está se montando uma estratégia. Na parte da minha
secretaria, o que quero fazer em curtíssimo prazo é transformar do papel
para sistema eletrônico, pessoas possam se associar através do site.
Planos, melhoras, diferentes níveis de serviço, produtos, planos de
sócio-torcedor... Logo, logo, o marketing vai apresentar um trabalho
legal.
Por que ser sócio do Flamengo?
- Não tenho como exigir que todos possam se associar, o clube é barato
por um ponto de vista e caro por outro. Quem tem condição, não gosta das
atitudes que observou nas gestões anteriores e quer que isso mude, não
vejo outra saída que não a associação. A consequência de você não se
ocupar da política é que alguém vai estar nesse espaço e fazer dele o
que acha que é o mais certo. Mais importante que queiram mudar, se
juntando, conversando, participando. A melhor forma de ajudar é se
associando.
O Flamengo grande como clube social
- Tem potencial, pois tem histórico em diversas modalidades esportivas,
tem capacidade. O espaço é bom, grande, tem muito o que ser
aproveitado. Queremos buscar o melhor e que o clube seja
autossustentável. Ao mesmo tempo, sabemos que é um clube de futebol, mas
não deve haver transferência de recurso do futebol para sede, e
vice-versa.
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